“UEaDSL está sendo uma oportunidade singular de reunir teoria e prática”, resume professora participantes desta edição; confira a entrevista

Adriane Sartori, professora do Mestrado Profissional em Letras da UFMG, é uma das docentes que está participando desta edição do UEaDSL. Contrariando as regras, a inscrição de sua turma não foi proposta por ela, mas, sim, pelos próprios estudantes da disciplina “Ensino da Escrita, Didatização e Avaliação”, que ministra.

“Tivemos dezoito inscritos e dezoito trabalhos aprovados. Os artigos, no final do processo de reescrita, realmente ficaram muito bons, revela.

Confira a entrevista sobre sua experiência no evento.

 1.Como foi o processo de produção desses trabalhos?

O processo foi trabalhoso, muito trabalhoso, mas bastante prazeroso. Para a maioria dos alunos, esta foi a primeira vez em que a produção de um artigo científico foi foco de sua atenção. Escrever um texto de um gênero que conhecemos apenas por leitura não é uma tarefa fácil. Eu sempre digo aos meus alunos que podemos ler muitos artigos, entendê-los sem dificuldade, mas, na hora de escrever um, especialmente o primeiro, parece que desaprendemos o que sabíamos sobre escrita acadêmica, parece que nos tornamos uma “tábula rasa”.

Tentamos produzir um artigo em uma moldura mais “tradicional”, de forma que nosso texto pudesse circular em qualquer ambiente acadêmico sem o rótulo de “é um simples relato de experiência”, ou “não é científico”.

Nesse sentido, as dificuldades mais significativas estiveram ligadas à produção de duas seções: a metodologia e a análise de dados. Os elementos participantes de cada uma envolveram as dúvidas mais recorrentes.

2.Que tipo de tema atraiu mais os alunos?

Os alunos definiram o tema, conforme seu próprio desejo. Como são professores de educação básica – público que pode concorrer a uma vaga no Mestrado Profissional – e como são pesquisadores iniciantes – o primeiro mestrado -, reconheço dois campos privilegiados por eles em seus artigos: o primeiro nasce da prática pedagógica, o segundo, do seu objeto de pesquisa, que, é interessante destacar, também tem relação direta com a sala de aula, afinal, estamos falando de uma pós-graduação profissional.

Assim, alguns analisam uma experiência desenvolvida em sala de aula, outros recortam um aspecto de sua dissertação, cuja elaboração está em andamento. Depreende-se dessas palavras que os trabalhos versam sobre educação, ou que todos têm, como ator principal, o aluno de ensino fundamental ou médio.

3.Que tipo de benefícios a participação no UEaDSL proporciona aos alunos?

Estou considerando o evento uma oportunidade ímpar de divulgação das pesquisas dos meus alunos. A participação é imensamente mais significativa do que em eventos presenciais, em números absolutos e em qualidade.

Em uma apresentação de trabalho em que há questionamentos, elogios e sugestões, alcança-se o verdadeiro espírito de um evento científico, qual seja, a produção de “novos” conhecimentos.

Sabemos que a elaboração de um texto científico na área de Letras é um trabalho muito solitário, e o diálogo fica restrito ao autor e às leituras que realiza, normalmente sugeridas pelo orientador.

“Mostrar” o trabalho em um evento de tanto alcance como o UEaDSL significa ter a oportunidade de dialogar com muitas outras pessoas, repensar, ressignificar e incorporar outras vozes à investigação. Considero um privilégio para um pesquisador.

4.Qual tem sido a sua avaliação sobre o desempenho dos alunos, no que tange à interação com o público e à apresentação do artigo?

No caso dos alunos que optaram para analisar uma experiência de sala de aula, há também um aspecto “subjetivo” envolvido, e eu o considero muito importante na atual situação do magistério brasileiro. Trata-se de o professor poder assumir-se como autor da sua prática e como pesquisador da sua prática, sem o sentimento de que o conhecimento produzido em escola é algo “menor” em relação a outras áreas.

Ao contrário, o professor, categoria desvalorizada no nosso país, tem o que dizer, sabe o que faz, realiza um trabalho de muita qualidade, ensina (e bem) o brasileirinho da periferia que está em escola pública.

Portanto, o UEaDSL tem sido uma oportunidade importante de mostrar o trabalho significativo que se faz na educação básica. Da mesma forma, diz-se que é possível, sim, pesquisar a prática pedagógica. Pesquisa científica não se realiza apenas em laboratórios especializados com técnicos de jaleco branco. Achar novas formas de ensinar é realizar pesquisa científica e de qualidade!

5.A senhora recomendaria a participação no UEaDSL a outros professores?

Sem dúvida! O UEaDSL está sendo uma oportunidade singular de reunir teoria e prática. Como disse, minha disciplina refere-se a ensinar a escrever na escola. Nada melhor do que vivenciar a experiência de produzir um texto – no caso, um artigo acadêmico – para poder tomar o processo de escrita como objeto de análise.

Trabalho há muitos anos com professores da educação básica, por isso, sei reconhecer que um dos problemas da formação profissional é “dizer como deve ser feito”, mas não “fazer como deve ser feito”. Um exemplo: a reescrita é parte constitutiva do ato de produzir textos.

Dizemos que nossos alunos, professores, devem ensinar a reescrever, mas raramente empreendemos práticas em que a reescrita é realizada durante seu processo de formação. Logo, o UEaDSL está sendo uma forma de vivenciar, na prática, o que a teoria sugere que deva ser feito. Para mim, esse fato é decisivo na formação profissional, além de revelar coerência acadêmica.

Independentemente de trabalhar com disciplinas que tematizem a escrita, vejo a participação de outros professores no UEaDSL como uma rica possibilidade de ensinar: ensinar a pesquisar, a produzir conhecimento e a divulgar suas descobertas em linguagem científica. Em outras palavras, é uma oportunidade de ajudar o aluno a se inserir em novas/outras práticas de letramento acadêmico.