Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 1 - 2002

Editorial

Entrevista
Reitora discute cotidiano da UFMG

Médicas
Os laços são estreitos com a comunidade

Biológicas
Os bichos são os grandes aliados

Ciências Sociais Aplicadas
Multidisciplinaridade é a marca delas

Ciências da Terra
Ligados no ambiente do planeta terra

Ciências Exatas
O lúdico pôs para correr a imagem de bicho-papão

Engenharias
Eles estão pintando o sete

Humanas
Programas privilegiam a cidadania

Artes
Um bálsamo para a vida

Fump
Acolhimento garante permanência

Hospital das Clínicas
Onde ensino e pesquisa combinam com assistência

Pólo do Jequitinhonha
Desenvolvimento sem abrir mão da regionalidade

Manuelzão
Rio das Velhas ganha novos ares

Cultura
Produção cultural para todos os gostos

Editora
Em sintonia com o mercado

UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Ciências da Terra

Onde está Wally?

Trabalho de geoprocessamento do IGC encontra minúcias do território brasileiro

A Floresta Nacional de Tapajós, na Amazônia, será revelada num mapa de visão tridimensional, onde estarão os dados de altitude e volume do terreno. O projeto está sendo realizado pelo departamento de Cartografia do Instituto de Geociências (IGC), em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que pretende mapear toda a Floresta Amazônica em parceria com outras instituições. Segundo o professor Marcos Antônio Timbó, esse tipo de mapa tem diferentes aplicações, como conhecer bem os melhores pontos do terreno para programas de agricultura ou mesmo para instalação de torres de energia elétrica.

As imagens são captadas com radar e processadas por meio de programas de imagens computadorizadas. O que se tem, a partir daí, são modelos digitais de terreno ou representações contínuas de toda a superfície. Pode-se ver com precisão onde estão, por exemplo, os maiores e menores declives daquela região. A cooperação entre UFMG e Inpe, destaca o professor, é importante, porque estão sendo testadas novas tecnologias de cartografia.

De acordo com Timbó, a demanda por mapas cresceu muito na última década, por conta da expansão de serviços como telecomunicação e energia elétrica. “Os serviços infra-estruturais acabam por demandar mapas tecnologicamente mais avançados, nos quais a precisão é elemento chave”, argumenta o professor. Aliada à importância do mapa está a necessidade de se associar a ele informações variadas, que dão uma outra dimensão quando alocadas geograficamente. Esse trabalho de geoprocessamento é cada vez mais comum e imprescindível em políticas urbanas, por exemplo. Timbó lembra que os policiais mineiros passaram por um treinamento no IGC, onde receberam as bases para montagem do atual plano de policiamento na região metropolitana da capital.

Ciência no sertão

A tradição de mais de trinta anos do ensino profissionalizante do Núcleo de Ciências Agrárias, em Montes Claros, acabou por transformar a Unidade no lugar ideal para receber mais um curso de graduação da UFMG. Desde 1999, circulam por dependências modernizadas e adaptadas às exigências curriculares os primeiros alunos da Agronomia, um curso que nasceu de uma base sólida formada pelas experiências do passado.

A primeira turma, que deu entrada em 1999, se formará no próximo ano. “Sabemos que crescemos muito nesse período”, diz a diretora Maria Amália de Queiróz Lafetá. Quando o curso foi implantado, havia no quadro de pessoal apenas um professor com título de doutor. Hoje, dos 26 docentes, sete são doutores, e quatro são mestres. Além disso, quatro professores são doutorandos, três são mestrandos e outros nove possuem curso de especialização. “Não é pouco para o tempo de existência do curso. Fizemos um programa de qualificação arrojado”, destaca a diretora. Um outro salto aconteceu na estruturação física e tecnológica do Núcleo de Ciências Agrárias. Eram 12 laboratórios, hoje são 24.

“Promovemos uma reestruturação completa para atender às diversas áreas de abrangência da Agronomia”, conta a diretora. Alguns dos laboratórios modernizados estão diretamente ligados aos interesses das comunidades locais. No Laboratório de Solos, são feitas análises para produtores rurais, que também utilizam o Laboratório de Nutrição Animal com freqüência. Em julho, o Núcleo de Ciências Agrárias realiza o seu principal e mais atraente projeto comunitário: a Semana do Produtor Rural, quando a Escola se transforma em um campo aberto para cursos que vão atender à demanda dos produtores e de suas famílias.

No Núcleo de Assistência Agrária, desenvolve-se, ainda, o projeto de extensão denominado Serviço Civil Voluntário, financiado pelo Fundo de Assistência ao Trabalhador (FAT). É um programa de apoio a jovens e às famílias de situação de risco social. Os jovens, moradores da redondeza, são capacitados e muitos, encaminhados para o mercado de trabalho pela Escola. A Unidade também é responsável pelo Geracop, um programa de apoio ao desenvolvimento de cooperativas rurais. “Nós estamos sempre muito próximos da população”, sustenta a diretora.

Complexo de rejeição

Grupo estuda alternativas para o lixo produzido na Universidade e contribui para a criação de consciência ecológica nos campi

O levantamento qualitativo e quantitativo do lixo na UFMG está sendo realizado e é mais um passo para a definição de um programa que pretende encontrar alternativas para a destinação de todo e qualquer tipo de lixo orgânico e não-orgânico produzido nas Unidades. Coordenado pela professora Ilka Soares Cintra, do Instituto de Geociências, o Grupo de Estudos de Resíduos Sólidos (Geresol) foi criado pela Pró-Reitoria de Administração, para desenvolver um plano de educação ambiental na Universidade. A intenção não é apenas dar solução para o lixo, mas contribuir para uma consciência ecológica entre os usuários.

Osvaldo Afonso

A Faculdade de Farmácia, a Escola de Medicina e o Instituto de Ciências Biológicas iniciaram, tempos atrás, o processo de coleta seletiva do lixo, mas o trabalho, admite a professora, não foi muito adiante. “Verificamos que, antes de adotar a coleta seletiva, era necessária a educação ambiental”, diz Ilka Cintra. Foi dessa constatação que nasceu o Geresol, o grupo que iniciou as atividades definindo uma comissão responsável pela elaboração de questionários bastante detalhados e específicos sobre os vários tipos de lixo e seu encaminhamento nas Unidades.

Os questionários foram o pontapé inicial no levantamento que revelará o perfil do lixo da UFMG e dará as bases para a proposição de alternativas, conta a subcoordenadora do Geresol, Eliane Pawlowski. Com a ajuda também da estudante de mestrado em Engenharia, Patrícia Guimarães, cerca de 400 questionários foram aplicados aos usuários dos laboratórios, das áreas administrativas, das salas de aula, enfim, de todas as partes das escolas. Os dados começam a ser tabulados, mas já se sabe que qualitativamente o lixo da UFMG será bem definido, porém quantitativamente nem tanto.

Segundo Eliane Pawlowski, isso é normal e comprova a necessidade de projetos de educação ambiental, já que as pessoas, em geral, não atentam para a quantidade de lixo que geram. Além disso, um dos problemas no levantamento quantitativo foi a falta de um padrão de medida. Por exemplo, os coletores de lixo nas salas e nos corredores da UFMG não têm o mesmo tamanho. “Quando se perguntava ao professor quantos cestos de papel ele enchia por semana, ele se surpreendia e não sabia responder, não tinha noção de quantidade”, relata. Mas a análise qualitativa do lixo, muito detalhada, será de enorme importância para a busca de soluções.

Para os resíduos químicos de laboratórios, são analisadas alternativas de co-processamento – aquela situação em que o resíduo é submetido a temperaturas muito elevadas, transformado em cinza e juntado ao cimento nas indústrias. Atualmente, esse rejeito é tratado nos próprios laboratórios antes de ser dispensado. “Estamos estudando estas alternativas, vendo o que é viável”, reforça a subcoordenadora, apontando um outro tipo de lixo comum e em grande quantidade: as lâmpadas fluorescentes. Essas lâmpadas não podem ser colocadas nos contêineres transportados pelo serviço de limpeza urbana. Por isso, há dois anos, a UFMG acumula as lâmpadas queimadas em um depósito, esperando a solução que será apontada pelo Geresol. A idéia inicial é entregar o volume a empresas que trabalham a reciclagem dos componentes, como o mercúrio.

Quando todos os questionários forem tabulados, as alternativas serão explicitadas, destaca Eliane Pawlowski, pois a UFMG deverá propor regras que estejam ajustadas às legislações existentes. A Universidade já segue procedimentos usuais, como a separação do lixo da área de Saúde, recolhido separadamente do doméstico. A professora Ilka Soares lembra que encontrar saídas para os rejeitos da UFMG é também encontrar formas de diminuir gastos. “Temos que despertar nas pessoas a consciência de que a produção de lixo está diretamente relacionada ao comportamento delas”, assinala. O Geresol tem a proposta de realizar cursos de educação ambiental, como forma de estimular o envolvimento de toda a comunidade universitária no planejamento de ações em relação ao lixo.

Tomou?

Boa parte do leite brasileiro terá qualidade testada por laboratório da Escola de Veterinária

Osvaldo Afonso

Em breve, todo o leite de Minas Gerais e de outros estados da Região Sudeste estará sendo monitorado pelo Laboratório de Leite da Escola de Veterinária, que foi credenciado pelo Ministério da Agricultura para atender ao Programa Nacional de Qualidade do Leite. A UFMG será, mais uma vez, referência na área de saúde. Só no Estado, que é o primeiro no ranking de produção de leite no Brasil, são quase 1.700 laticínios. “Vamos ter um ganho enorme. Além de equipar o laboratório, teremos muitos dados para serem explorados em pesquisas”, afirma a professora Cláudia Penna, do departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal.

O Laboratório de Leite da Escola de Veterinária fará as análises microbiológicas e físico-químicas do leite e produtos derivados. Para tanto, serão adquiridos equipamentos de mais de R$ 1 milhão e só existentes, dentro de Minas, na Embrapa, em Juiz de Fora. Os equipamentos permitem a análise de até 350 amostras por hora. Belo Horizonte foi escolhido como município estratégico para a instalação do Laboratório, especialmente porque , no estado, são produzidos mais de cinco milhões de litros por ano, o correspondente a cerca de 30% de toda a produção brasileira, e, também, por causa da malha rodoviária, um facilitador para a fiscalização.

Excluindo São Paulo, onde também existe laboratório credenciado pelo Ministério da Agricultura, o leite e os produtos derivados do Sudeste terão que passar pela UFMG. “As amostras serão enviadas pelos próprios laticínios, pois eles cumprirão uma obrigação legal especificada no Programa Nacional do Leite”, explica Cláudia Penna. A Escola de Veterinária estará inovando, também neste segundo semestre, em outra área relacionada ao leite, neste caso referente à própria produção. Será inaugurada uma miniusina de pasteurização, e o leite produzido nas duas fazendas-escolas será comercializado como produto próprio.

As fazendas-escolas estão nas cidades de Igarapé e Pedro Leopoldo. A mini-usina, que aguarda liberação para funcionamento do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), está instalada em Igarapé, onde a fazenda da UFMG produz, todos os dias, cerca de mil litros de leite. Hoje, a produção das duas fazendas é entregue a cooperativa. Inicialmente, explica Cláudia Penna, somente o leite de Igarapé será pasteurizado na miniusina e comercializado. “Mas vamos nos estruturar para o aproveitamento, na usina, do leite da cidade de Pedro Leopoldo. Pensamos em produzir derivados”, diz ela.

Como a Veterinária é uma escola voltada também para o ensino de práticas rurais, as fazendas-escolas ocupam um espaço importante e necessário, muito utilizado para pesquisa e extensão. Assim também é o Hospital Veterinário, instalado no campus. Ali, é dado o atendimento clínico, laboratorial e cirúrgico a animais de pequeno e grande portes. O diretor Ernane Fagundes do Nascimento conta que os consultórios serão duplicados em breve, passando para oito, para suprir a uma demanda não só interna, mas também externa. O Hospital Veterinário tem uma grande clientela, assistida por veterinários contratados, professores e residentes, que são responsáveis pelo acompanhamento de alunos. Só de animais domésticos, especialmente cães e gatos, são cerca de 40 atendimentos por dia.

A capacidade de internação é de até 50 animais. No Hospital Veterinário, são realizadas cirurgias eletivas e também de urgência. Por isso, a unidade funciona 24 horas. “Atendemos muitos animais atropelados”, diz Nascimento, contando sobre parcerias estabelecidas, como com a Polícia Militar (em especial no atendimento a eqüinos), e sobre eventuais serviços prestados ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e até à Secretaria de Estado da Segurança. “Atendemos também a muitos pedidos de necropsia”, assinala o diretor. A Unidade participa do Programa de Desenvolvimento da Bovinocultura de Leite, do Ministério da Agricultura, dando suporte técnico às atividades de transferência de tecnologia em melhoramento genético.

Na pesquisa, o Hospital Veterinário desenvolve técnicas clínicas e cirúrgicas, principalmente em relação ao sistema locomotor. “São procedimentos científicos realizados dentro de padrões éticos, que respondem às necessidades do desenvolvimento”, afirma Nascimento, ao ressaltar que muitas das novas técnicas da medicina veterinária podem ser úteis à medicina humana.