Osvaldo Afonso |
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Há dois meses, a auxiliar de escritório Virgínia Maria Reis, de 44 anos, é “hóspede” no Hospital das Clínicas, da UFMG. De saúde, ela está bem, mas acompanha de pertinho a recuperação da filha Bruna, um bebê que nasceu de um parto complicado após apenas 28 semanas de gestação. Na sua fragilidade, Bruna encanta a mãe e a equipe de médicos e enfermeiros que lutam com ela pela sua sobrevivência. Virgínia e Bruna fazem parte do programa Mãe Canguru, um tratamento de bebês prematuros que concilia os cuidados clínicos especiais com a atenção materna. “É bom demais, uma experiência que todas as pacientes na minha situação deveriam ter”, resume Virgínia.
O Mãe Canguru existe no Hospital das Clínicas desde 1994. Na época, foi um programa inovador no País e extremamente polêmico na própria UFMG, lembra um dos médicos responsáveis pela sua adoção, César Coelho Xavier, professor do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina. Hoje, o Mãe Canguru está em outras dezenas de maternidades brasileiras e acumula resultados positivos. O fato de ter sido implantado num hospital, onde a assistência combina com o ensino e a pesquisa, fez também a diferença. “Era uma mudança de paradigma”, destaca Xavier, “daí as dificuldades”. O programa está inserido na única maternidade brasileira que presta atendimento à gestante desde o pré-natal até o pós-parto em todos os níveis de complexidade, garante o médico Henrique Vítor Leite.
O setor de Medicina Fetal do Hospital das Clínicas é dos mais desenvolvidos do País e, por isso, atende pacientes em condições muito delicadas, de diferentes partes do Brasil. Ali foi desenvolvido, por exemplo, um “cateter de derivação”, um minúsculo tubinho colocado no nenê que apresenta algum tipo de obstrução renal, ainda no útero, para que ele consiga fazer xixi. São 3,6 mil partos realizados por ano e um atendimento integrado prestado por médicos professores, alunos de pós-graduação, médicos residentes e alunos de graduação do décimo período. A excelência do atendimento à maternidade é encontrada em diversas outras áreas das nove unidades que compõem o Hospital das Clínicas, afirma o diretor clínico Ricardo Pimenta. “O que é ainda mais importante é saber que 90% do nosso atendimento é realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, ressalta.
Em julho, foi inaugurado o novo Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital das Clínicas, um investimento de mais de R$ 6 milhões feito pelos Ministérios da Saúde e da Educação e pela própria UFMG. Com o serviço totalmente reequipado, alguns atendimentos serão duplicados, como o de tomografia; outros, que não eram prestados pelo serviço público, como o de quebra de cálculos renais por laser, farão parte do rol de assistência. “Além de um atendimento complexo, geramos muito conhecimento para a rede”, destaca Ricardo Pimenta, lembrando que o Hospital das Clínicas começa a atrair um tipo de investimento pouco comum no sistema público de saúde : o investimento privado.
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No Hospital das Clínicas, 90% dos pacientes são atendidos através do sistema único de saúde (SUS) |
Em função de recursos privados, de cerca de R$ 13 milhões, o Hospital das Clínicas inaugurou, há pouco mais de um mês, o Instituto Alfa de Gastroenterologia, em substituição ao antigo Serviço de Gastroenterologia, que já acumulava feitos muito significativos – desde 1994, foram feitos ali 151 transplantes de fígado. O investimento foi feito em forma de doação pelo médico e banqueiro Aluísio de Andrade Faria, dono do Banco Alfa. Formado em Medicina pela UFMG, em 1945, o empresário guardou, durante todos esses anos, o apego à Escola onde se formou e à profissão que acabou não exercendo por ter assumido os negócios da família, com a morte do pai, o banqueiro mineiro Clemente Faria.
“Temos um serviço excelente e muito especial, porque unimos, no mesmo espaço, os equipamentos mais modernos com a assistência de profissionais muito experientes e preparados. Praticamos a assistência, o ensino e a pesquisa de forma integrada e avançada”, assinala o chefe do Instituto Alfa de Gastroenterologia e professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Luiz de Paula Castro. Com os investimentos, o setor foi inteiramente reestruturado. Toda a área do segundo andar do prédio principal do Hospital das Clínicas foi reformada e equipada com novos aparelhos, alguns, até então, não encontrados na Unidade – um deles possibilita o diagnóstico de hemorragia do intestino delgado. O paciente engole uma cápsula que contém uma microcâmera, que fornecerá, por meio de um cinto adaptado na sua cintura, imagens do órgão.
O Hospital das Clínicas em números
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