Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 1 - 2002

Editorial

Entrevista
Reitora discute cotidiano da UFMG

Médicas
Os laços são estreitos com a comunidade

Biológicas
Os bichos são os grandes aliados

Ciências Sociais Aplicadas
Multidisciplinaridade é a marca delas

Ciências da Terra
Ligados no ambiente do planeta terra

Ciências Exatas
O lúdico pôs para correr a imagem de bicho-papão

Engenharias
Eles estão pintando o sete

Humanas
Programas privilegiam a cidadania

Artes
Um bálsamo para a vida

Fump
Acolhimento garante permanência

Hospital das Clínicas
Onde ensino e pesquisa combinam com assistência

Pólo do Jequitinhonha
Desenvolvimento sem abrir mão da regionalidade

Manuelzão
Rio das Velhas ganha novos ares

Cultura
Produção cultural para todos os gostos

Editora
Em sintonia com o mercado

UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Pólo Jequitinhonha

Um Vale de liberdade e muitas veredas

O eco das diferentes vozes do Vale do Jequitinhonha, uma região há muito carimbada como de tristezas e misérias no norte de Minas Gerais, tem, há várias décadas, repercutido na UFMG. A Instituição respondia às demandas de forma pontual, até que, em 1996, formulou uma nova proposta de atuação que privilegia a integração de projetos, a formação da cidadania e a preservação da liberdade numa estratégia de desenvolvimento regional. Esse é o mote do Pólo Jequitinhonha, um programa que une professores, alunos, técnicos e diferentes parceiros na construção, com as populações, de ações motivadoras de uma mudança franca na realidade de 56 municípios.

O Pólo Jequitinhonha trabalha junto às associações microrregionais, estabelecendo uma das principais diretrizes do programa: atender a demandas coletivas que sejam discutidas com quem vai se beneficiar das ações, sempre visando a uma movimentação em torno de um plano maior de desenvolvimento da região. “No Jequitinhonha são comuns projetos que já nascem prontos e que trabalham com recursos muito dispersos”, lembra Marizinha Nogueira, pró-reitora adjunta de Extensão e coordenadora do programa. Os projetos que integram o Pólo Jequitinhonha articulam-se entre si, são interdisciplinares e resultaram de um debate amplo com as comunidades e as prefeituras. “Nossa preocupação é também fazer com que o Vale perceba que é necessário trabalhar em conjunto, porque ninguém sai daquela miséria sozinho”, afirma Marizinha.

O programa Pólo Jequitinhonha foi aprovado com recursos de R$ 560 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que contemplariam 16 projetos, mas que acabaram por sustentar 29 nas áreas de cultura, saúde, educação, desenvolvimento regional, meio ambiente, geração de renda e emprego. Atualmente, novos recursos estão sendo captados, tanto para se dar continuidade a projetos iniciados quanto para se abrir em novas atividades.

Tela de Thereza Portes

Cercados pela diversidade da região, que combina pobreza e enormes carências com grandes e reais possibilidades a serem extraídas de um rico subsolo, uma forte cultura popular estampada no patrimônio histórico e na beleza do artesanato da região, os participantes do Pólo Jequitinhonha enveredaram para projetos envolventes, atrativos e práticos. Foram, por exemplo, realizados diagnósticos municipais de alternativas de geração de renda; elaboradas ações de recomposição de nascentes do Rio Jequitinhonha; confeccionados atlas escolares geográficos nos quais as crianças aprendem sobre o lugar onde moram de uma forma interativa e lúdica; publicados livros com histórias da tradição oral da região, que são utilizados didaticamente nas redes de ensino fundamental e médio. Para o setor de saúde, organizaram-se farmácias básicas, e foi implementado um plano, junto com secretarias municipais, para atacar os problemas emergenciais da área.

“As dificuldades são muitas, e não posso dizer que o Vale, que tem problemas estruturais muito grandes, mudou por causa da nossa presença. Mas posso dizer que temos competência técnica para ajudar nas mudanças, e é isso que estamos fazendo”, atesta a pró-reitora adjunta de Extensão. Esse também é o sentimento do prefeito de Carbonita, Marcos Lemos, ex-presidente da Associação dos Municípios do Alto Jequitinhonha. “A UFMG nos ajudou e continua ajudando porque tem trazido para cá o que temos dificuldade de ter, que é uma contribuição técnica e teórica”, afirma Lemos. Os pequenos municípios, destaca ele, sofrem muito pela falta de recursos e de pessoal capacitado.

Com dez mil habitantes, Carbonita está traçando, com a ajuda do Pólo Jequitinhonha, o que o Prefeito chama de “livro de propostas” ou as diretrizes de planejamento do município. Representantes da comunidade e da Prefeitura participaram da identificação dos problemas, realizando conferências orientadas pelo pessoal da UFMG. “O resultado é outro quando temos um apoio técnico competente”, assinala o Prefeito.

Durante todo o tempo de execução dos projetos do Pólo Jequitinhonha, estiveram envolvidos cerca de 60 professores, 20 técnicos e quase 200 alunos. Nessa relação, acredita Marizinha Nogueira, a Universidade coloca-se como participante de um processo que é ditado por necessidades sociais muito justas e às quais a Instituição não pode estar alheia. “É um projeto político, mas não partidário. Trabalhamos com todos que querem e precisam da nossa atuação”, garante Marizinha Nogueira.