Um Vale de liberdade e muitas veredas
O eco das diferentes vozes do Vale do Jequitinhonha, uma região há muito carimbada como de tristezas e misérias no norte de Minas Gerais, tem, há várias décadas, repercutido na UFMG. A Instituição respondia às demandas de forma pontual, até que, em 1996, formulou uma nova proposta de atuação que privilegia a integração de projetos, a formação da cidadania e a preservação da liberdade numa estratégia de desenvolvimento regional. Esse é o mote do Pólo Jequitinhonha, um programa que une professores, alunos, técnicos e diferentes parceiros na construção, com as populações, de ações motivadoras de uma mudança franca na realidade de 56 municípios.
O Pólo Jequitinhonha trabalha junto às associações microrregionais, estabelecendo uma das principais diretrizes do programa: atender a demandas coletivas que sejam discutidas com quem vai se beneficiar das ações, sempre visando a uma movimentação em torno de um plano maior de desenvolvimento da região. “No Jequitinhonha são comuns projetos que já nascem prontos e que trabalham com recursos muito dispersos”, lembra Marizinha Nogueira, pró-reitora adjunta de Extensão e coordenadora do programa. Os projetos que integram o Pólo Jequitinhonha articulam-se entre si, são interdisciplinares e resultaram de um debate amplo com as comunidades e as prefeituras. “Nossa preocupação é também fazer com que o Vale perceba que é necessário trabalhar em conjunto, porque ninguém sai daquela miséria sozinho”, afirma Marizinha.
O programa Pólo Jequitinhonha foi aprovado com recursos de R$ 560 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que contemplariam 16 projetos, mas que acabaram por sustentar 29 nas áreas de cultura, saúde, educação, desenvolvimento regional, meio ambiente, geração de renda e emprego. Atualmente, novos recursos estão sendo captados, tanto para se dar continuidade a projetos iniciados quanto para se abrir em novas atividades.
Tela de Thereza Portes |
![]() |
Cercados pela diversidade da região, que combina pobreza e enormes carências com grandes e reais possibilidades a serem extraídas de um rico subsolo, uma forte cultura popular estampada no patrimônio histórico e na beleza do artesanato da região, os participantes do Pólo Jequitinhonha enveredaram para projetos envolventes, atrativos e práticos. Foram, por exemplo, realizados diagnósticos municipais de alternativas de geração de renda; elaboradas ações de recomposição de nascentes do Rio Jequitinhonha; confeccionados atlas escolares geográficos nos quais as crianças aprendem sobre o lugar onde moram de uma forma interativa e lúdica; publicados livros com histórias da tradição oral da região, que são utilizados didaticamente nas redes de ensino fundamental e médio. Para o setor de saúde, organizaram-se farmácias básicas, e foi implementado um plano, junto com secretarias municipais, para atacar os problemas emergenciais da área.
“As dificuldades são muitas, e não posso dizer que o Vale, que tem problemas estruturais muito grandes, mudou por causa da nossa presença. Mas posso dizer que temos competência técnica para ajudar nas mudanças, e é isso que estamos fazendo”, atesta a pró-reitora adjunta de Extensão. Esse também é o sentimento do prefeito de Carbonita, Marcos Lemos, ex-presidente da Associação dos Municípios do Alto Jequitinhonha. “A UFMG nos ajudou e continua ajudando porque tem trazido para cá o que temos dificuldade de ter, que é uma contribuição técnica e teórica”, afirma Lemos. Os pequenos municípios, destaca ele, sofrem muito pela falta de recursos e de pessoal capacitado.
Com dez mil habitantes, Carbonita está traçando, com a ajuda do Pólo Jequitinhonha, o que o Prefeito chama de “livro de propostas” ou as diretrizes de planejamento do município. Representantes da comunidade e da Prefeitura participaram da identificação dos problemas, realizando conferências orientadas pelo pessoal da UFMG. “O resultado é outro quando temos um apoio técnico competente”, assinala o Prefeito.
Durante todo o tempo de execução dos projetos do Pólo Jequitinhonha, estiveram envolvidos cerca de 60 professores, 20 técnicos e quase 200 alunos. Nessa relação, acredita Marizinha Nogueira, a Universidade coloca-se como participante de um processo que é ditado por necessidades sociais muito justas e às quais a Instituição não pode estar alheia. “É um projeto político, mas não partidário. Trabalhamos com todos que querem e precisam da nossa atuação”, garante Marizinha Nogueira.