Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 1 - 2002

Editorial

Entrevista
Reitora discute cotidiano da UFMG

Médicas
Os laços são estreitos com a comunidade

Biológicas
Os bichos são os grandes aliados

Ciências Sociais Aplicadas
Multidisciplinaridade é a marca delas

Ciências da Terra
Ligados no ambiente do planeta terra

Ciências Exatas
O lúdico pôs para correr a imagem de bicho-papão

Engenharias
Eles estão pintando o sete

Humanas
Programas privilegiam a cidadania

Artes
Um bálsamo para a vida

Fump
Acolhimento garante permanência

Hospital das Clínicas
Onde ensino e pesquisa combinam com assistência

Pólo do Jequitinhonha
Desenvolvimento sem abrir mão da regionalidade

Manuelzão
Rio das Velhas ganha novos ares

Cultura
Produção cultural para todos os gostos

Editora
Em sintonia com o mercado

UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Cultura

A gente não quer só comida

A diversificada produção cultural da UFMG integra, em seus espaços e projetos, arte, ciência, cidadania e entretenimento e é uma opção de lazer para toda a gente

Foca Lisboa
Coral Ars Nova

O maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca completará, em 2003, 70 anos. Mais da metade de sua vida está ligada ao Coral Ars Nova, o mais tradicional da UFMG e também o mais famoso coral brasileiro, com premiações nacionais e internacionais. Numa sintonia perfeita e que diz muito do sucesso alcançado, regente e coro são capazes de criar no momento em que os concertos acontecem. “O Ars Nova tem algo de transcendental”, convenceu-se o maestro, depois de muito escutar essa avaliação de quem assistia às apresentações.

O Coral foi criado em 1959. Não se chamava Ars Nova nem estava ligado à UFMG, mas à União Estadual dos Estudantes (UEE) e era regido por Sérgio Magnani. O maestro Carlos Alberto bem se lembra de quando o então reitor Aluísio Pimenta o convidou para juntar-se à Instituição, em 1964. Desde então, o Coral instalou-se em dependências da UFMG e ganhou uma estabilidade que, afirma o maestro, lhe deu fôlego para as mais de mil e quinhentas apresentações pelo Brasil e pelo mundo afora.

Metade da vida do tenor Antônio Augusto de Freitas é parte do Ars Nova. Cantor desde os tempos de seminarista, ele criou um coral na Faculdade de Ciências Econômicas, quando começou a cursar Administração. Depois de um tempo, em 1980, Antônio Augusto estreou no Ars Nova pelas mãos da ex-regente Dora Torres Pereira. “Ela regia o coral da Face e me perguntou se eu gostaria de fazer o teste no Ars Nova e, é claro, eu quis logo”, lembra. “Eu não saberia fazer outra coisa na vida. Quando tiver que parar, não imagino o que vou fazer”, revela Antônio Augusto, ressaltando seu amor pelo Ars Nova.

Vários integrantes do Ars Nova fizeram carreira solo de sucesso, como a soprano Sílvia Klein, atualmente na Alemanha, e o tenor Marcos Tadeu, preparador vocal do coro da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Do Ars Nova fazem parte 38 cantores, entre eles, 12 alunos da UFMG. Os outros são dentistas, médicos, engenheiros e até jogadores de futebol. “É um coral aberto à comunidade”, diz Antônio Augusto.

Sarandeiro

Osvaldo Afonso
Grupo Sarandeiro

Se o Ars Nova esbanja tradição clássica, o Sarandeiro tem na sua essência a tradição do folclore nacional. Fundado há mais de 20 anos, o grupo de dançarinos profissionais desenvolve, com o apoio da Escola de Educação Física, espetáculos aos quais os ritmos e as danças das várias regiões brasileiras dão o tom. Como lugar que incentiva a diversidade cultural, a UFMG dá vazão, também, a ritmos internacionais, como o jazz. É o que faz a Gerais Big Band, um projeto da Escola de Música, que atende a demandas curriculares, mas sobretudo a expectativas dos alunos de explorarem o amplo universo da música.

“A UFMG foi pioneira na formação de um grupo de jazz num curso de Música”, diz o professor de trombone Paulo Roberto Lacerda, responsável pela fundação do grupo musical que contempla alunos da graduação. Segundo ele, a Gerais Big Band é uma oportunidade que complementa a formação e abre chances de atuação no mercado. Lacerda lembra que vários músicos que tocam, hoje, em grupos de rock, de música pop e contemporânea estiveram na Gerais Big Band.

Muito além do controle remoto

Osvaldo Afonso
Centro Cultural

Um espaço de cultura e de cidadania é o que resume o Centro Cultural da UFMG. Instalado num prédio de estilo neoclássico, na região central de Belo Horizonte, onde a história da Capital é preservada, o Centro Cultural incentiva a integração entre a comunidade e a Instituição. Por isso, a diretora Regina Helena Alves da Silva, a Lena, insiste que o lugar deve ser tratado não apenas como um local de exposições. “É um espaço de incentivo à produção, onde as diferentes manifestações artísticas têm vez”, diz ela.

Além dos eventos, como exposições de artes plásticas, apresentações de dança, de teatro, da realização de palestras e de local para leitura de jornais e revistas, o Centro Cultural desenvolve a formação de um amplo conceito de cultura. Em um dos projetos, o de Formação de Agentes Culturais Juvenis, jovens residentes na periferia da Capital, que já tinham alguma atividade na área, são preparados para se firmarem como “multiplicadores de cultura”. Durante todo o ano, eles adquirem conhecimentos práticos, como, por exemplo, lidar com as leis de incentivo à cultura, que abrem novas possibilidades de atuação na comunidade.

Osvaldo Afonso
Conservatório de Música

Conservatório

Até 1997 Escola de Música, o prédio do Conservatório Mineiro de Música, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, foi totalmente restaurado, com o apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), e passou a ser um ponto de referência para a realização de concertos, cursos, seminários e congressos nacionais e internacionais.

Os eventos ali realizados foram reforçados com a inauguração, no final do ano passado, da primeira etapa de construção do anexo do chamado Conservatório UFMG. Num estilo moderno, mas que se harmoniza às linhas clássicas do antigo prédio, o anexo terá quatro andares. Já estão prontos o térreo, com praça de eventos e estacionamento, e o mezanino, onde funciona uma loja da Editora UFMG e, também, onde estarão instalados um pequeno restaurante, um bar e um cibercafé. O anexo abrigará o Museu da UFMG, um sonho antigo da comunidade universitária que já pode ser visualizado na exposição de objetos e quadros do acervo da Instituição no prédio antigo.

“Nem parece um Museu!”

Osvaldo Afonso
Pintura rupestre no Museu de História Natural

O Museu de História Natural e Jardim Botânico atrai crianças e adultos, não só por estar num espaço de muito verde, raro em Belo Horizonte, mas também porque une as preciosidades da natureza ao conhecimento. No bairro Santa Inês, numa área de 600 mil metros quadrados, um acervo natural é preservado junto com cerca de 70 mil peças que expressam história e riqueza nas áreas de botânica, zoologia, arqueologia, paleontologia, geologia e mineralogia.

No Museu, as crianças aprendem com o lúdico da reprodução de uma caverna, com pinturas rupestres e fósseis, com exposições como a Física Divertida e a Química na Cabeça ou, ainda, com a arte popular nascida das mãos de ceramistas do Vale do Jequitinhonha ou a arte viva do Presépio do Pipiripau, uma obra-prima da dedicação do artista Raimundo Machado Azeredo, que reproduziu, com 580 figuras e em 45 cenas a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. O Museu é, também, um lugar de interação com a comunidade local. Ali são desenvolvidos projetos de educação ambiental e de formação cultural para moradores do bairro, como o “Para Casa no Museu”, que orienta as crianças em tarefas escolares e cria chances de convívio com um ambiente saudável e cultural.

Fazedores de arte

Nascido no âmbito da Escola de Belas-Artes, em l967, o Festival de Inverno da UFMG tem o dom de transformar pessoas e cidades durante sua realização, sempre nas férias de julho. “É algo muito bacana, muito bom, porque é um momento de imersão no universo da arte”, diz Juliana Macedo, aluna do oitavo período de Belas-Artes. Em Diamantina, onde acaba de ser realizado o Festival de Inverno deste ano, Juliana fez um curso de atualização em esculturas e diz que a experiência proporciona um ganho muito grande na formação do artista.

“É muito produtivo, porque são 15 dias, trabalhando durante todo o tempo com a mesma coisa, num desenvolvimento contínuo de idéias e de execução, que nem sempre é possível nas salas de aula”, reforça o professor de Escultura e Cerâmica da Escola de Belas-Artes, João Cristelli, responsável, junto com a ceramista Adel Souki, pelo curso do qual Juliana participou. O curso de atualização ocorreu paralelamente a um outro de iniciação, no qual vários ceramistas da região estavam presentes. “O artesanato do Vale do Jequitinhonha é muito sedimentado, e isso é muito bom, mas não quer dizer que não possa haver trocas, quando coisas novas surgem e são absorvidas sem que se anulem as tradições”, assinala Cristelli.

Foca Lisboa
Cenas do Festival de Inverno em Diamantina

O Festival de Inverno é uma teia de idéias e de fazeres, que envolve uma enorme parcela da Universidade, entre mais de 150 professores e mais de 100 funcionários. São, lembra a gerente de administração do Festival, Márcia Fonseca Rocha, cerca de 900 inscrições para participação em cursos e oficinas que movimentam toda a cidade.

De maior tradição em Ouro Preto, onde foi realizado durante quase vinte anos, o Festival de Inverno já passou também por São João del-Rei, Poços de Caldas e Belo Horizonte, inspirando, inclusive, eventos semelhantes nessas cidades e incentivando o mundo das artes plásticas, das artes visuais, da literatura e da música. O Festival de Inverno serve de palco para diferentes produções culturais do País e da própria UFMG, com apresentações de grupos criados e mantidos pela Instituição.