‘Oportunizar aos estudantes o envolvimento com a pesquisa’: professor da Nutrição da Unifal conta sobre sua experiência no UEaDSL

Foto: Pixabay

O UEaDSL (http://ueadsl.textolivre.pro.br/) é democrático. Não importa a qual a área de conhecimento, curso, instituição ou períodos em que estejam os estudantes e professores interessados em participar: o evento terá espaço para todos.

Na programação, discussões sobre tecnologias de comunicação, didática e direito à informação são postas, lado a lado, com debates sobre tecnologias de alimentos, matemática e gestão.

Em entrevista à coordenadora do grupo Texto Livre, Ana Matte, o professor Bruno Martins Dala Paula, do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), explica por que trouxe seus alunos para esta edição do UEaDSL e já promete convencer seus colegas a participarem também.

Bruno, como foi sua trajetória acadêmica?

Minha vida acadêmica foi construída exclusivamente dentro de escolas públicas municipais, estaduais e federais. Cursei técnico em Química pelo Cefet-MG e me graduei em Nutrição pela UFMG. Durante a graduação, tive a oportunidade de participar de projetos de iniciação científica, no laboratório de Bioquímica de Alimentos na Faculdade de Farmácia da UFMG, uma vez que precisava realizar um estágio curricular para obtenção do diploma do curso técnico.

Acabei gostando muito da área de pesquisa, o que não me impediu de dar uma pausa na área para a participação do projeto de extensão “Ambiente, Sociedade e Cultura”, com o Aroeira, um grupo de estudantes de áreas diversas que realiza estudos em agroecologia e agricultura urbana.

O projeto de extensão chamava-se “Plantando e colhendo vida na cidade, uma experiência de agricultura urbana no Aglomerado da Serra, Belo Horizonte, MG”, e foi uma experiência que mudou a minha visão sobre a universidade e o trabalho de extensão, porque pude entender a verdadeira importância da construção de saberes e de conhecimentos a partir da interação, de via dupla, entre comunidade e universidade. Nessa fase, estava seguro de que queria atuar como docente universitário, pois queria ter a oportunidade de desenvolver projetos de pesquisas e extensão, nos quais percebo potencial para contribuição social e para o processo de aprendizagem.

Terminando a graduação, ingressei no mestrado em Ciência de Alimentos, sob a orientação da professora Maria Beatriz de Abreu Gloria, a qual foi minha orientadora de iniciação científica por 2 anos na graduação. Desenvolvi um projeto de determinação da contaminação por metais pesados (cádmio, cobre e chumbo) em hortaliças produzidas a partir de três iniciativas de agricultura urbana na região metropolitana de BH, sendo que uma delas fornecia as hortaliças cultivadas para a alimentação escolar de crianças e adolescentes.

No doutorado, tive a oportunidade de realizar um intercâmbio acadêmico no exterior, no United States Department of Agriculture (USDA). No entanto, eu tive que abrir mão do projeto iniciado no mestrado e me integrar em um projeto envolvendo uma doença que acomete os citros e causa grande prejuízo para os produtores de laranja e sua respectiva indústria de beneficiamento. O projeto era de interesse para o Brasil, maior produtor de laranjas do mundo, assim como para os EUA, que também ocupa posição de destaque.

Após a conclusão do doutorado, tentei alguns concursos para a docência no ensino superior e tive a felicidade de ingressar na Unifal, onde sou professor das disciplinas de Bromatologia e Tecnologia de Alimentos para os cursos de Nutrição e Química.

Como você definiria seu trabalho como professor universitário? O que te move?

Definiria meu trabalho como um sonho realizado, sendo uma atividade de constantes aprendizados. Procuro me dedicar de forma efetiva no ensino, pesquisa e extensão e estou sempre buscando alternativas que proporcionem conhecimento criativo e interativo aos estudantes.

A participação no simpósio UEaDSL foi uma possibilidade de colocar esse pensamento em prática. Com o auxílio de uma colega de departamento, conseguimos elaborar “mini” projetos de pesquisas e inseri-los nas aulas práticas das disciplinas de Bromatologia e Tecnologia de Alimentos, como conteúdo extra às atividades já existentes nos seus planos pedagógicos.

Também participo de um projeto de extensão envolvendo atividades de educação em saúde com um grupo de idosos. Não quero me afastar da extensão, pois foi a partir dela que pude vivenciar importantes experiências na minha vida profissional e pessoal.

Como conheceu o UEaDSL? Já participou antes? Com que papel (público, coordenador de mesa etc)? Qual foi sua impressão?

Conheci o UEaDSL enquanto estudante de pós graduação e participei pela primeira vez apresentando o relato das minhas atividades extensionistas e de pesquisa com a agricultura urbana na região metropolitana de BH. Após essa primeira participação, pude me envolver, como coordenador de mesa, e, hoje, participo pela primeira vez como professor.

Qual foi seu objetivo ao trazer seus alunos neste semestre?

É uma tentativa de oportunizar aos estudantes o envolvimento com a pesquisa, com o exercício da escrita de um artigo, atividade que nem sempre é muito abordada em cursos da área de exatas e de ciências da saúde e também com a interação dos estudantes com outros estudantes e profissionais de outras áreas, que trazem discussões interessantes e necessárias ao desenvolvimento profissional deles.

Como você avalia sua participação nesta edição?

Confesso que a participação na edição atual me fez algumas horas de sono, pois a participação como professor é bem distinta da participação como público: você assume novas responsabilidades, e, no meu caso, a necessidade de introduzir novas atividades experimentais nas disciplinas ministradas, com o intuito de proporcionar aos estudantes a participação prática nos projetos de pesquisa apresentados no UEaDSL.

Você acha que o UEaDSL pode ser um aprendizado também para o professor?

Com certeza! O evento proporciona a interação com profissionais de diversas áreas, além de exercitar múltiplas habilidades, como a de orientação, organização, revisão de estudos e na própria rotina didática.

Você pensa em participar de novo?

Penso em participar novamente, sim! Inclusive em convidar alguns professores do departamento que poderiam contribuir bastante com as discussões e levar o aprendizado que o evento proporciona aos seus estudantes.

O que você diria a outros professores universitários – especificamente de sua área – que estejam pensando em participar do UEaDSL?

Venham se reinventar nesse desafiador evento científico que engloba discussões em inúmeras áreas do conhecimento, cuja construção acontece de forma participativa e respeitosa.

Para as próximas edições do UEaDSL, eu tomei a iniciativa de convidar alguns colegas do departamento e acredito que uma professora, da área de Enfermagem, na área de saúde coletiva, irá desenvolver os trabalhos com seus alunos. Sendo assim, pensando na próxima edição, “Ciências da Saúde” seria apropriado um nome apropriado para a área, embora se afaste um pouco dos temas de que irei participar.