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Família e amigos

Os familiares são sempre muito lembrados quando se está diante de uma pessoa em risco, em crise ou com dificuldades – seja pelos profissionais e gestores dos serviços de saúde, pelos vizinhos, pelos amigos ou mesmo pela sociedade em geral. Questionamentos recorrentes são: vocês chamaram a família? Mas cadê a família? Os familiares estão tomando providências? O que os familiares falaram?

Tais questionamentos, muitas das vezes, estão sustentados por algumas certezas:

  1. A responsabilidade do cuidado é da família.
  2. A família é o lugar do afeto incondicional.
  3. A família ‘fala por ou sabe por’ essa pessoa que, estando em crise, não fala ou sabe por si só.

Vale pensar que, talvez, essas certezas, tão entranhadas em nosso cotidiano e nosso modo de ver a família e a loucura, pudessem ser apenas meias certezas, ou mesmo, incertezas.

Nesse sentido, a responsabilidade do cuidado poderia também significar que a família fosse corresponsável com tantos outros e outras que também funcionassem como família para a pessoa em questão. E que, por vezes, essa família poderia estar sofrendo tanto ou tão ‘desorganizada’ em seus afetos e modos de ser família, quanto a pessoa que está em crise. Dessa forma, o afeto incondicional estaria condicionado ao momento presente, ao aqui e agora dessas pessoas, mas também à toda história, de fatos e afetos, que essa família já viveu.

E de tanto viver, assim, juntos, lado a lado, em momentos tão diversos, intensos em amores, tensões, conflitos…. ou de tanto viver, assim, na mesma rua, mesmo número, mesmo apartamento ou casa, numa proximidade geográfica, mas uma geografia sem encontros…

Que esses tantos jeitos e modos – e outros tantos que nem imaginamos – que cabem nesse universo que chamamos de família, poderiam sinalizar para todos que uma família poderia falar por ou saber por seu familiar em crise ou grande sofrimento, mas também que essa fala ou saberes serão sempre a fala e saberes de outros, ainda que familiares, ainda que amigos, ainda que amores.