Voltar para o início Ir para o Menu Ir para a Busca Ir para o rodapé Contraste

Situações de sofrimento

‘O Grito’, quadro de Edvard Munch (1893)

“E fique aí tranqüilo tranqüilinho bem
tranqüil tranqüilid tranqüilase tranqüilan
tranqüilin tranqüix tranqüiex tranqüimax
tranqüisan e mesmo tranxilene! Estás
píssico, talvez, de tanto desencucarem tua
cuca? Estás perplexo? Não ouves o pipilar:
psicoplex? psicodin psiquim psicobiome
psicolatil? Não sentes adejar: psicopax?
Então morre, amizade. Morre presto,
morre já, morre urgente, antes que em
drágea cápsula ampola flaconete proves
letalex mortalin obituaran homicidil
thanatex thanatil thanatipum!”

Carlos Drummond De Andrade

 

Confira, a seguir, conceituações e reflexões sobre algumas situações de sofrimento mental:

  • “Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde. Mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.” (Machado de Assis)


    Na atualidade vivenciamos um aumento das depressões, o que é apontado em relatório da OMS (2015) pelo percentual de 18,4% na década 2005-2015. Segundo esse relatório, cerca de 4,4% da população mundial sofre pela depressão, o que corresponde a 322 milhões de pessoas. O Brasil aparece com 5,8% de sua população afetada.

    Desânimo, ausência de prazer na realização de atividades cotidianas, sentimento de vazio e de inutilidade e falta de sentido na vida são características de quadros depressivos. Mas, para além de dizer respeito ao sujeito e sua história, que possui suas razões para estar sofrendo, o aumento das depressões no século XXI, demonstra que algo não vai bem na sociedade contemporânea.

    Abordar o tema da depressão pela perspectiva de que ela é um sintoma social nos leva a pensá-la como um sinalizador do mal-estar provocado pela cultura. Nesse sentido, Dunker (2016) defende que as nossas relações com o trabalho (e podemos entender também com os estudos), as cobranças do mundo capitalista e a forma com que vamos nos interligando ao que nos é posto pode nos levar ao sofrimento. Para ele, o sofrimento diz respeito às nossas relações com os outros. Ele não é individualizado, sendo uma evidência disso o fato de que a depressão está entre as principais causas de afastamento no trabalho.

    São também indicadores do mal-estar que vivemos: a nossa relação com o tempo - cada vez mais escasso para a produtividade a que nos obrigamos -; com as cobranças sociais e familiares; as relações muito competitivas; o excesso ligado ao consumo e a diminuição da reflexão sobre as experiências subjetivas. Paulinho da Viola ilustra bem esse desencontro com o tempo acelerado e impaciente em sua canção, “Sinal fechado”:


    “Tudo bem, eu vou indo, correndo
    Pegar meu lugar no futuro, e você? (...)
    Me perdoe a pressa
    É a alma dos nossos negócios (...)
    Tanta coisa que eu tinha a dizer
    Mas eu sumi na poeira das ruas (...)”


    Para Kehl (2009), a depressão não se confunde com estados de ânimo como a tristeza, o desânimo e a falta de desejo com a vida. Ela também não se confunde com ocorrências de lutos e fracassos situacionais. Mas, sim, se configura em um profundo abatimento e sentimento de vazio e inutilidade, uma lentidão corporal e mental, em que a falta de sentido impera, fazendo com que a vida pareça não valer a pena. Tudo isso se agrava pela falta de empatia com que nossa cultura trata os depressivos, transformando a depressão na “mais inconveniente expressão do mal-estar psíquico”, pois ela desafina o “coro dos contentes” (KEHL, 2009, p. 23).

    Além da aceleração da vida cotidiana, outra característica da sociedade contemporânea é a imposição de estados de felicidade. O sujeito vive uma obrigação de ser feliz conforme um imaginário social hegemônico veiculado pela mídia e publicidade. A felicidade, sob essa ótica, passa a ser mais uma mercadoria que pode ser adquirida e, além disso, deve ser ostentada nas redes sociais em cenas de alegria e prazer. Quando o sujeito é capturado por esse imaginário social, sua singularidade é apagada (KEHL, 2017).

    É ao que Moretto (2016) remete ao dizer que a sociedade do consumo e a lógica capitalista produz o apagamento do sujeito, da sua singularidade. Considerando que a subjetividade se constitui e se modifica na relação com o outro, no laço social, teremos pistas para se pensar a dor e o sofrimento que cada um sente a partir da relação entre a subjetividade e as mudanças da ordem social, política e econômica de uma época.

    Sofrer faz parte do nosso viver e esconder o sofrimento leva ao apagamento do sujeito. Safatle (2015) remete a ideia de sofrimento a um impulso fundamental à crítica, considerando que o sofrimento é algo que te lembra de tudo que não se enquadrou na forma de vida que você se insere. Para ele, tomar o sofrimento como patologia não seria uma forma adequada de tratá-lo.

    Nessas perspectivas, podemos pensar que a depressão traduz as tentativas fracassadas de atender as demandas vindas do desejo do outro. Ela reflete um vazio de desejo do sujeito, que vem carregado de angústia. Diante dos apelos imperativos da sociedade, ela aparece de forma aterrorizadora, aumentando o sofrimento de quem está deprimido com o sentimento de culpa por não participar dos ideais vigentes de felicidade, competência e sucesso. Ideais esses que não comportam a tristeza e a dor do viver, e que não permitem abertura para pensar em delas extrair algum saber que pode nos preparar para a vida, que pode auxiliar na construção de outras referências para viver.

    Alguns ideais interpretados imperativamente, como “tenha sucesso” e “seja feliz” podem ser geradores de angústia e depressão. E se esses ideais não são alcançados? Cada um precisa inventar saídas imaginativas para encontrar o sentido da vida.

    O poema de Carlos Drummond, “Passagem da noite”, nos traz um alento: mesmo que “em noite nos dissolvemos”, após um passeio pela noite chegaremos na alegria do dia que surge, onde tudo se nos confia outra vez, concluindo que “O essencial é viver”.


    Referências

     

    WORLD HEALTH ORGANIZATION; Mental health action plan 2015 (FALTA ESSA REFERÊNCIA COMPLETA)

     

    DUNKER, Christian. Qual é a relação da depressão com a modernidade? Falando nisso 59, 12 out 2016. Acesso em 09 mai 2020.

     

    KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Editora Boitempo. 2009. 312p

     

    KEHL, Maria Rita. Aceleração e depressão. Instituto CPFL, 16 nov 2017. Acesso em 08 mai 2020.

     

    MORETTO, Maria Livia Tourinho. É Preciso Ser Feliz. Instituto CPFL, 10 jul 2016. Acesso em 09 mai 2020.

     

    SAFATLE, Vladimir. Sobre a insatisfação pessoal e depressão na sociedade atual. Trecho do Programa "Café Filosófico - A lógica do condomínio com Vladimir Safatle", 04 set 2015. Acesso em 09 mai 2020.

  • Muito se fala sobre rotinas estressantes e o quanto elas fazem parte do cotidiano. Entretanto, quando se aprofunda no tema, descobre-se que o estresse e a ansiedade estão bem mais presentes na vida das pessoas do que se pode imaginar.

    O estresse é um padrão de resposta a um fator ou evento, seja ele físico ou emocional, que perturba o equilíbrio e pode estar ligado a um evento desagradável, momentâneo, ou a algo crônico, constante.

    O estresse é uma condição humana natural e, em grau mínimo, é importante e necessário para a vida. Poderíamos escutar pessoas dizendo “matar um leão por dia”. Esse grau de estresse pode possibilitar condições para sobreviver, gerando a coragem para trabalhar e para enfrentar as diversas situações do dia-a-dia.

    Por outro lado, em condições desfavoráveis, sejam no ambiente profissional, familiar ou social, podem levar a um grau “negativo” de estresse, que pode causar um desequilíbrio no organismo humano, causando o aparecimento de diversas doenças.

    “A Organização Mundial da Saúde reconhece o estresse, como uma doença que atinge mais de 90% da população do mundo. Irritações no trânsito, excesso de trabalho, falta de descanso e até mesmo falta de um ambiente familiar favorável. Vários fatores podem levar ao problema, com isso pode se manifestar em graus elevados, sendo responsável por um desequilíbrio do organismo e pelo aumento dos casos de outras patologias, inclusive fatais”. (OMS, 2013)

     

    Referência

     

    WORLD HEALTH ORGANIZATION; Mental health action plan 2013-2020. WHO Geneva, Switzerland ISBN: 978 92 4 150602, 2013. Acesso em: 01/05/2020

  • “Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja” - Mário Quintana


    A ansiedade afeta 264 milhões de pessoas em todo o mundo
    , alta de 14,9% entre 2005 e 2015, segundo relatório da OMS publicado em 2017. No Brasil, 9,3% da população é acometida por transtornos de ansiedade, taxa bem acima da média mundial.

    A ansiedade se caracteriza por um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, tensão ou desconforto, gerando dificuldades para a pessoa relaxar e concentrar, o que, por sua vez, tende a aumentar a sensação de cansaço e insônia. A permanência destes sintomas por longo período tendem a interferir nas funções da vida cotidiana, como no trabalho, nas atividades sociais e relacionamentos.

    A ansiedade pode ainda desencadear situações de adoecimento como fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático e ataque de pânico (OMS, 2013).

    Mas porque estamos tão ansiosos?

    A revolução industrial ocorrida no século XVIII provocou significativa transformação dos meios de produção, mudando, desde então, o modo como lidamos com o tempo. Desde 1950 vivemos o que se chama a 3ª Revolução Industrial referente às inovações científicas, tecnológicas e da informação, traduzindo-se em conforto, praticidade, aumento da expectativa e da qualidade de vida.

    Hoje, com um computador ou um celular às mãos, podemos dar início a uma capacitação profissional ou pesquisa sobre qualquer tema de nosso interesse. Isso é verdadeiramente um avanço! Onde está o problema então?

    O problema é que o conhecimento que devemos buscar para sermos considerados cidadãos conscientes e produtivos são amplos, variados, nos levando a uma busca incessante, desgastante e sempre insuficiente de informação e formação.

    Assim precisamos saber sobre o mercado de trabalho, saúde, num busca alucinada para atender às exigências estéticas. Também precisamos aprender sobre finanças, pois muito comumente ganharemos menos do que nos dizem ser necessário para alcançar uma vida de sucesso!

    Precisamos saber sobre economia, política, literatura, ciência, coronavírus, desmatamento e todo tipo de questão para não ser qualquer dia destes questionado: - você não soube disso? Em que mundo você vive? Você está atrasado! É assim mesmo que nos sentimos, tal como diz a música: “Eu sei de quase tudo um pouco, mas nada tanto assim.”

    Não é curioso que em tempo de pandemia de informações o ser humano se sinta perdido e sem apoio para seguir sua vida? Essa inquietação se chama “angústia existencial”. A angústia é inerente à existência e, portanto, não é novidade dos tempos modernos. O vazio que sentimos é doloroso, mas é necessário para nos impulsionar ao desenvolvimento.

    Ocorre que nesta trajetória o ser humano se depara com sua liberdade de escolha e a cada escolha temos que lidar com os seus resultados que, segundo Sartre, também é gerador de angústia. Além disso, tememos o julgamento, o olhar acusador direto ou indireto sobre o que não escolhemos. Então muitas vezes desejamos não ter essa liberdade, mas descobrimos que não estamos livres para deixar de ser livre. Precisamos continuar escolhendo a cada momento, a cada situação, a cada dilema. Diante desta angústia, é comum o desejo de fugir, mas mesmo a fuga é uma escolha.

    “O indivíduo possui liberdade de escolha para fazer opções em sua vida e, em contrapartida, esta consciência de liberdade suscita no sujeito o aterrorizante sentimento de angústia” (SARTRE, 1997 apud Bervique).


    O psicólogo Rollo May esclarece que a ansiedade é própria do ser humano e necessária para que tenhamos atitudes protetivas contra ameaças à existência. E acrescenta que as reações que teremos com relação a ansiedade podem ser patológicas ou não.

    São patológicas as respostas de fuga ou evitação da ansiedade, tais como distrações que nos levam a esquecer o conflito ou a negação de enfrentar a situação. É comum buscar-se o entorpecimento consciencial através de medicações que se farão necessárias por longo tempo, já que o conflito não está sendo enfrentado. Mello (2016) nos alerta que todos nós poderemos fazer uso dos métodos evitativos da ansiedade para “sobreviver existencialmente”, mas é a permanência nesta atitude de fuga que provocará o seu estado patológico.

    Já uma forma saudável de lidar com a ansiedade é o enfrentamento da situação, buscando-se soluções criativas. “A solução passa por um momento criativo, a criação de um sentido, como apontam Frankl e Yalom... May aponta pesquisas empíricas que mostram o trabalho, a fé e arte como grandes soluções para a ansiedade.” (Melo, 2016).

    A busca de uma solução criativa nos remete a autencidade. Ser autêntico é ser fiel, verdadeiro, sincero. A quê ou a quem? À essência de cada um, ao que nos traz prazer, aquilo pelo qual nos atraímos naturalmente e promove aquela sensação de estar em casa.

    Em outras palavras, antes de buscar o que está fora, é preciso conhecer o que está dentro, para melhor orientar nossas escolhas.

    É preciso lembrar que sendo a angústia existencial inerente ao ser humano dado o seu estado de liberdade, ela jamais acabará, pois é ela que nos move na busca de significação e ressignificação da vida. Tentar silenciá-la ou entregar-se em busca de perfeição termina por potencializar a angústia.

    É preciso, portanto, saber conviver com ela, buscar os recursos necessários para com ela dialogar. É importante saber que essa é uma das formas de se falar, pensar e abordar a ansiedade. Existem diferentes teorias que pensam a ansiedade de forma diferente. Entretanto, pode-se afirmar que, independente da abordagem, a ansiedade é uma experiência humana, que pode em maior ou menor grau, significar sofrimento ou interferir com a vida da pessoa.

     

    Referências

     

    BERVIQUE, Janete de Aguirre (Orientadora); PEREIRA, Everly Fernanda; MELLO, Tamyris Villela. O homem e a angústia existencial em Jean Paul Sartre. Acesso em 30/04/2020.

     

    MELO, Roberto da Silva. A Ansiedade: o Olhar Existencial-Humanista. Psicologado , [S.l.]. (2016). Acesso em 27 Abr 2020.

     

    WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and order common mental disorders. (2017). Acesso em 29/04/2020

     

    WORLD HEALTH ORGANIZATION; Mental health action plan 2013-2020. WHO Geneva, Switzerland ISBN: 978 92 4 150602, 2013. Acesso em: 01/05/2020

  • Loucura é um termo bastante conhecido fora do contexto da ciência. Ao longo das épocas, o conceito de loucura foi sendo modificado de acordo com cada contexto. O que sabemos atualmente sobre a loucura recebe influências de formas muito antigas de se compreender o louco e suas experiências, as quais podem ser organizadas em três enfoques:

    1) Enfoque mitológico-religioso da loucura: a loucura é entendida como uma experiência influenciada por forças não humanas, sendo o louco um privilegiado por possuir saberes, ora compreendidos como divinos, ora demoníacos. Independente da origem do saber, os loucos eram escutados pela sociedade na qual viviam. Isso se deu desde a Idade Média até o período do Renascimento.

    2) Enfoque passional ou psicológico: no Renascimento, observa-se uma ruptura em relação à compreensão da loucura. Ela passa a ser considerada como experiência de ausência da razão (desrazão) ou excesso de paixões. Nesse contexto, os loucos perdem o lugar social de sabedoria e, juntamente com todos os demais da sociedade que também ‘não faziam uso da razão’ (todos os que afrontam os valores morais vigentes), são confinados em espaços específicos, chamados asilos. As ideias e palavras dos loucos não são mais ouvidas pela sociedade. Os tratamentos propostos são de ordem moral: excesso de disciplina, rigor, silenciamento.

    3) Enfoque organicista: é no século XIX que a loucura passa a ser alvo do interesse da ciência médica. Tal ideia remonta ao Enfoque organicista presente desde muito antes. Os loucos são levados para espaços próprios (manicômios) e passam a ser estudados. Instituída a doença mental, vemos uma nova redução: a loucura torna-se um transtorno mental produzido por disfunções cerebrais.

    “... a loucura passa para o domínio da ciência, deixando de ser uma questão social, moral e jurídica de exclusão para ser uma questão médica de exclusão. ‘Cria-se’a doença mental” (Providello e Yasui, 2013: p.1520).


    A loucura é novamente silenciada.

    Na virada do século XIX para XX, Freud, como cientista e médico, identifica e localiza que a experiência humana é influenciada pelo inconsciente e que a loucura é uma forma que o sujeito encontra de lidar com o outro e consigo mesmo.

    No Brasil, na década de 80, inicia um grande movimento de se repensar a loucura e a função dos manicômios. Trata-se do movimento da Luta Antimanicomial que instaura a Reforma Psiquiátrica Brasileira. A delimitação do que é normal e anormal é imensamente questionada. A cidadania da pessoa com sofrimento psíquico torna-se uma pauta central. A proposta de um cuidado psicossocial ganha força em vários países do mundo e, de modo especial, no Brasil.

    “Todo fato psíquico é um fato social. Não existe fato psíquico que não se inscreva como fato social. Não existe fato social que não se inscreva como psiquismo. A ‘loucura’ ou a ‘psicose’ como fato psíquico encontra-se marcada pela condição de ser um fato social estridente e significativo. Somente quando os sintomas interferem na ordem social de forma relevante, o sujeito será inscrito no quadro do desvio psiquiátrico, sobretudo quando afetadas as suas qualidades de autorregulação, autonomia pessoal e/ou econômica ou de perturbação da ordem” (Oliveira Silva, 2007: p. 41).

     

    Psicose

    Significa um dos nomes da loucura; nome científico que define as experiências estranhas e incompreensíveis que algumas pessoas (1 a 3% da população) possuem.

    Assim, as psicoses são transtornos mentais em que a pessoa é acometida por delírios (alterações do pensamento), alucinações (alterações da percepção) e alterações da consciência do eu (Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, 2006).

     

    Referências

     

    OLIVEIRA SILVA, MV. In-tensaEx-tensa. A clínica psicossocial das psicoses. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia. 2007: 260p.

     

    PROVIDELLO GGD e YASUI S. A loucura em Foucault: arte e loucura, loucura e desrazão. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 20, n. 4, p. 1515-1529, 2013.

     

    MINAS GERAIS, Secretaria Estadual de Saúde. Atenção em saúde mental: Linha Guia da Saúde Mental. Belo Horizonte, 2006. 238 p.

  • A forma clínica da psicose, da qual sabemos que:

    “Dentre as Psicoses, incluindo a esquizofrenia, são caracterizadas por distorções no pensamento, percepção, emoções, linguagem, consciência do “eu” e comportamento. As experiências psicóticas comuns incluem alucinações (ouvir, ver ou sentir coisas que não existem) e delírios (falsas crenças ou suspeitas firmemente mantidas mesmo quando há provas que mostram o contrário).” (OMS, 2013).


    Sabemos que as pessoas que recebem esse diagnóstico sofrem por serem alvo de estigma e de discriminação, tendo um alto risco de exposição a violações de direitos humanos, como o confinamento de longo prazo em instituições.

    Em geral, em situações de crise, as pessoas nesta condição experimentam uma situação de grande sofrimento proveniente da dificuldade de lidar com delírios e alucinações, que se apresentam de forma muito concreta e real.

    É comum que nessa situação de crise a pessoa sinta-se perdida, com medo do que ela experimenta em si mesma sem entender o que está acontecendo, por vezes, ficando bastante agitada. Essa situação é chamada de desorganização psíquica, que pode acontecer em graus variados.

    Diante de alguém em crise, é importante que todos tentem permanecer calmos e busquem conversar com a pessoa, no sentido de também acalmá-la. O ideal é que a abordagem seja feita por alguém com quem a pessoa em crise já tem vínculo.

    Embora esteja em crise, não se pode perder de vista que a pessoa sabe o que quer ou não quer. Então, é importante conversar com ela para saber como, onde e por que profissional ela quer ser cuidada. Nesses casos, recomenda-se encaminhar a pessoa em crise para os serviços abertos, denominados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que aqui em Belo Horizonte são chamados Centro de Referência em Saúde Mental (CERSAM).

     

    Referência

     

    WORLD HEALTH ORGANIZATION; Mental health action plan 2013-2020. WHO Geneva, Switzerland ISBN: 978 92 4 150602, 2013. Acesso em: 01/05/2020

  • Você já sentiu ou ouviu alguém se queixar de exaustão extrema, esgotamento físico, falta de energia, distúrbios de sono? E quando esses sintomas vêm acompanhados de uma sensação de incapacidade de cumprir com as demandas da sua função, devido às situações de estresse contínuo no ambiente de trabalho? Infelizmente, este mal estar e queixas tem se tornado muito frequente na atualidade.

    Freudenberger, psicanalista alemão, no início da década de 70 denominou de Síndrome de Burnout (do inglês to burn out, como queimar por completo) ou Síndrome do esgotamento Profissional. Esta Síndrome apresenta um conceito multidimensional que envolve três dimensões:

    1) exaustão emocional, que se caracteriza pela falta ou carência de energia e um sentimento de esgotamento emocional, ocorrido quando o indivíduo percebe que não pode dar mais de si mesmo em nível afetivo, bem como sente que sua energia e recursos emocionais estão esgotados, em decorrência do contato diário com seus próprios problemas e os de outras pessoas;

    2) despersonalização, caracterizada pelo desenvolvimento de uma insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate clientes, colegas e a organização de maneira fria e impessoal. Essa é uma forma de o profissional defender-se perante a carga emocional proveniente do contato direto com o outro; e

    3) a baixa realização profissional, na qual ocorre uma tendência de o profissional avaliar-se negativamente, causando-lhe um sentimento de insatisfação com a realização do seu trabalho e originando a sensação de incompetência e de baixa autoestima (Maslach, Schaufeli e Leiter, 2001).

    A Síndrome de Burnout é uma importante questão de saúde pública, sendo um dos agravos ocupacionais de caráter psicossocial mais importantes na sociedade atual. Burnout é considerado um sério processo de deterioração da qualidade de vida do trabalhador, tendo em vista suas graves implicações para a saúde física e mental (Batista, Carlotto, Coutinho, Augusto 2010).

    É um processo que se desenvolve na interação das características do ambiente de trabalho e características pessoais, no qual o trabalho passa exigir mais do que o indivíduo pode dar e proporcionar menos do que ele precisa.

    Essa Síndrome apresenta um tipo de estresse relacionado a situações de trabalho, resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada ao intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo. Ao vivenciar este quadro, o sujeito passa por uma experiência subjetiva , que gera sentimentos e atitudes negativas no relacionamento deste com o seu trabalho (insatisfação, desgaste, perda de comprometimento), comprometendo o seu desempenho profissional e trazendo consequências indesejáveis à organização, como o absenteísmo, abandono desemprego, baixa produtividade (Tamayo, Tróccoli, 2002).

    Podemos compreender o quanto o ambiente de trabalho pode ser fonte de suporte ou de estresse, minimizando ou maximizando condições favoráveis ao alcance das metas de cada sujeito. Dessa forma, a probabilidade de aparição do Burnout irá depender da existência - ou não - de um equilíbrio entre os fatores de suporte e de estresse.

    Como pensar, então, em uma abordagem para este sujeito que experimenta sentimentos de fracasso, mostrando-se apático e desinteressado, impossibilitando-o de alcançar seus objetivos? Devemos reconhecer que há necessidade da organização do trabalho oferecer espaço para expressão das individualidades, não impondo a todos o mesmo caminho para a busca da satisfação no trabalho e para a proteção contra o estresse.

    Dessa maneira, é recomendável promover mudanças no ambiente de trabalho e sensibilizar gestores e interessados quanto à possibilidade de realizar ações preventivas. Para além da mobilização institucional, práticas de autocuidado, como atividade física, lazer e, a reformulação dos objetivos pessoais e profissionais, dentre outras, contribuem sempre para melhora na qualidade de vida e consequentemente melhora dos sintomas.

    Fique atento aos sintomas, procure ajuda profissional o quanto antes e pratique o autocuidado!

    Referências

     

    BATISTA, JBV; CARLOTTO, MS; COUTINHO, AS; AUGUSTO, LGS. Prevalência da Síndrome de burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 13(3):502-12. 2010.

     

    MASLACH C., SCHAUFELI, W. B., LEITER, M. P. Job burnout. Annual Review Psychology, 52, 397-422 2001.

     

    TAMAYO, M. R. & Troccoli, B. T. Exaustão emocional: Relações com a percepção de suporte organizacional e com as estratégias de coping no trabalho. Estudos de Psicologia, 7, 1,37-46. 2002.

  • Para além das referências teóricas, diversas obras, sejam vídeos ou filmes, abordam temáticas relacionadas às situações de sofrimento mental de forma criativa e sensível.

     

    Nesta aba, recomendamos algumas:

     

    1) Fine lune • Michel Charron e Anamaria Fernandes (EBA/UFMG)

    Vídeo produzido pela Associação Dana, DRAC d’Ille et Vilaine, CHGR – Rennes, França. Projeto coreográfico criado com usuários do Centro Hospitalr Guilhaume Régnier (Rennes, França) em 2010. A criação é guiada pelos passos, invenções, desejos de todos e de cada um e revela o acolhimento da diferença. Disponível no YouTube.

     

    2) Un pas de côté (Um passo de lado) Sobre dança e autismo • Michel Charron e Anamaria Fernandes (EBA/UFMG)

    Documentário produzido pela Associação Dana, DRAC d’Ille et Vilaine, CHGR – Rennes, França. A obra retrata ateliês de dança realizados com jovens autistas na cidade de Thorigné Fouillard, França. Esse filme é um suporte para questionarmos a nossa capacidade de aceitar e de construir com o que nos é desconhecido, a nos desfazermos do que pretendemos ou supomos saber, para em seguida abrirmos novos espaços de troca, de partilha, de aprendizado e de construção.

    Disponível no YouTube.

     

    3) Dá pra fazer (Si puo fare), dirigido por Giulio Manfredonia (2008).

    Retrata parte da história das cooperativas que surgiram na Itália após o movimento da luta anti-manicomial iniciado por Franco Basaglia e do fechamento dos hospitais psiquiátricos. 

    Disponível no YouTube.

     

    4) Garota Interrompida

    Final dos anos 60: enquanto alguns jovens norte-americanos vão para Woodstock e outros vão para a guerra, uma jovem, em dúvida sobre o seu próprio futuro, é internada em um hospital psiquiátrico para mulheres. Lá ela conhece uma diversidade de mulheres com fragilidades que apontam para uma gênese comum: o patriarcado. História baseada em fatos reais.

    Clique aqui para assistir ao trailer.

     

    5) As horas

    Filme dirigido por Stephen Daldry e baseado no livro “As Horas”, de Michael Cunningham. O filme narra a história de três mulheres separadas pelo tempo, mas conectadas por uma história de sufoco, melancolia e depressão junto a presença de outros homens em suas vidas.

    Clique aqui para assistir ao trailer.

     

    6) Cisne Negro 

    Filme dirigido por Darren Aronofsky. Conta a história de Nina, uma bailarina compromissada com a perfeição técnica do balé clássico. Aqui, acompanhamos a imersão, com tons obscuros e perigosos, de um trabalho criativo que acirra disputas, rivalidades e distorções desorganizadoras da subjetividade de Nina.

    Clique aqui para assistir ao trailer.

     

    7) Saúde Mental e Dignidade Humana

    Documentário produzido pelo Centro de Memória da OAB (Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil) resgata a história do tratamento dispensado aos doentes mentais pelo sistema judiciário no Brasil. Além de apresentar um panorama histórico da loucura, apresenta projetos de lei que tratam do assunto, bem como debate o tema da inimputabilidade e o problema da prisão perpétua dos “loucos infratores”. 

    Assista aqui.

     

    8) Ônibus 174 

    O documentário “Ônibus 174”, do diretor José Padilha, produzido a partir de um sequestro real de um coletivo da cidade do Rio de Janeiro, traz reflexões importantes sobre as questões sociais. Além de elucidar pontos consideráveis no que se refere a invisibilidade social, aponta também para a falta de políticas públicas para aqueles que estão à margem da sociedade e a (falta de) atuação do Estado na assistência, segurança pública e educação do país.

    Assista a um trecho do documentário aqui.

     

    9) Precisamos falar sobre o Kevin

    Neste filme dirigido por Lynne Ramsay, acompanhamos a narrativa da história da relação complicada de uma mãe com o seu primogênito. Um filme sobre culpas, responsabilizações e a maternidade real. Por que a culpa é sempre da mãe?

    Clique aqui para assistir ao trailer.

     

    10) Estamira

    Com roteiro de Marcos Prado e Produção de José Padilha, esse documentário traz um olhar questionador  sobre o sofrimento da mulher negra, pobre e periférica, a partir do caso de Estamira. Pensemos sobre a exploração da mulher e as interseções entre  gênero, raça, classe, sexualidade, território e saúde mental.  

    Por que as Estamiras demoram tanto a serem ouvidas? Assista aqui.

     

    11) Bicho de Sete Cabeças

    Dirigido por Laís Bodanzky, esse filme narra a trajetória de internação compulsória de um jovem paulista, usuário de maconha, em vários hospitais psiquiátricos do Brasil. Acompanhamos a história de um pai e de um filho com um relacionamento difícil e as agruras de um jovem que parece ser exterminado pelo saber patologizante da loucura. Filme baseado no livro Canto dos Malditos de Austregésilo Carrano Bueno: um texto autobiográfico. Qual a relação entre usos de substâncias e loucura? Qual o limite do vício? Quem é que define o que é droga? Quais drogas podem ser utilizadas?

    Clique aqui para assistir ao trailer.

     

    12) Nise – O Coração da Loucura 

    Dirigido por Roberto Berliner, o filme retrata a história de Nise da Silveira, médica psiquiátrica que revolucionou os tratamentos da psiquiatria no Brasil, abordando seu método inovador e artístico, assim como suas influências diretas na revitalização do Setor de Terapia Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro. Qual a força por trás do tratamento humanizado?  

    Clique aqui para assistir ao trailer.