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Abertura da Semana de Saúde Mental valoriza liberdade e cidadania

Participantes alertaram para retrocesso e lembraram que relação de saúde com democracia orientou avanços

A partir da esquerda, Claudia Mayorga, Sandra Goulart Almeida, Alessandro Moreira e Teresa Kurimoto. Foto: Raphaella Dias | UFMG

Os movimentos que levaram a conquistas importantes como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a desativação de instituições psiquiátricas marcadas pela violência sempre valorizaram a relação entre saúde e democracia, lembrou o psiquiatra Paulo Amarante, pesquisador da Fiocruz, ao falar, na noite de ontem (segunda, 13), durante a sessão de abertura da 7ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. Segundo ele, resgatar o espírito que moveu os avanços das últimas décadas é fundamental no momento atual, em que as políticas do setor são ameaçadas de desconstrução e retrocesso.

Inspirada pelo tema De mãos dadas pela democracia, a Semana foi aberta por cortejo e apresentação do bloco Sem Manicômio e Sem Prisão, formado por jovens percussionistas do bairro Ribeiro de Abreu, em Belo Horizonte. Haverá atividades até a sexta-feira, 17, nos campi de Belo Horizonte e Montes Claros e na cidade de Brumadinho. Por causa da paralisação e das manifestações previstas para esta quarta-feira, 15, em defesa da educação e da universidade pública, a programação do dia foi distribuída pelo restante da semana. (Consulte o site do evento.)

A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, comemorou o sucesso da iniciativa e enfatizou que promover a saúde mental tem tudo a ver com a missão da Universidade, que tem se dedicado fortemente à inclusão. “Este é um momento de reflexão e aprendizado. Queremos construir uma instituição cada vez mais aberta, consciente dos problemas, que acolha de maneira adequada os membros da comunidade que enfrentam dificuldades para exercer sua cidadania de maneira plena”, ela disse.

Sandra destacou o trabalho da Rede Saúde Mental e da Comissão Permanente de Saúde Mental da UFMG, cujo objetivo é consolidar uma política “arrojada e transdisciplinar”. Segundo ela, em tempos de restrições orçamentárias às universidades e ataques à “nossa maneira de pensar”, aumenta o desconforto da comunidade. “Este é o lugar da pluralidade, em que se valoriza a liberdade e o fazer democrático. É crucial que estejamos juntos na defesa de valores de uma instituição que forma profissionais que são antes de tudo cidadãos e cidadãs”, afirmou a reitora.

Ele foi acompanhada, à mesa de abertura, pelo vice-reitor Alessandro Moreira, presidente da Comissão Permanente, pela pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, e pela professora Teresa Kurimoto, integrante da Comissão. Na plateia, estudantes exibiram faixas que defendiam a democracia e associavam a defesa da assistência estudantil à preservação da saúde mental.

Estudantes se manifestaram por meio de faixas. Foto: Raphaella Dias | UFMG

 

Com os usuários

Claudia Mayorga salientou que a história da Rede Saúde Mental da UFMG é marcada por processo de democratização, uma forma de contraponto a dinâmicas sociais caracterizadas pelo individualismo exacerbado, que “sobrecarrega e adoece os sujeitos”. Segundo a pró-reitora, todo o movimento em prol da saúde mental na Universidade alia os conhecimentos disciplinares aos saberes dos usuários e dos profissionais.

“Nossa política segue os princípios da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica. E a UFMG tem sabido se transformar, associando a escuta e o acolhimento a mudanças culturais e estruturais. Nossas ações são continuadas e valorizam a formação e o diálogo com parceiros externos, como a Assusam [Associação dos Usuários e Familiares de Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais]”, disse Claudia Mayorga.

Na sequência de sua apresentação, Paulo Amarante afirmou que “todo dia é dia de luta antimanicomial” e que, cotidianamente, é preciso “acolher o diferente, promover a emancipação e a autonomia dos sujeitos e a participação coletiva”. Ele lembrou que o processo de fechamento das vagas em instituições psiquiátricas interrompeu um ciclo de violência e ampliou relações sociais ao incluir antigos pacientes na vida comunitária e profissional.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz, o que se percebe há algum tempo é o aumento da intolerância e a mercantilização da vida. “A exigência de um desempenho sempre além da capacidade faz as pessoas sofrerem. O ultraliberalismo produz dor e a busca por medicamentos que produzem dependência”, disse Amarante. “E não se devem aceitar as provocações do ódio. Nossa ação deve ser na micropolítica, de reforço ao diálogo, que é afinal a característica do homem e de sua forma de estar no mundo.”

Leia mais sobre a Semana de Saúde Mental em reportagem do Boletim UFMG.

O bloco Sem Manicômio e Sem Prisão percorreu o campus a fez breve apresentação no auditório. Foto: Raphaella Dias | UFMG