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Mitos e fatos​

1) Se eu preciso ir a um psiquiatra ou psicólogo, meu caso deve ser muito grave.

As especialidades profissionais que trabalham as questões psíquicas são responsáveis por diagnosticar, acompanhar e apoiar as pessoas em seus sofrimentos emocionais.

Quando uma pessoa percebe que seu modo de viver está lhe causando sofrimento e interferindo em sua vida, dificultando ou mesmo impossibilitando as suas relações com outras pessoas e, principalmente, quando percebe que não está mais conseguindo lidar sozinha com essas dificuldades, recomenda-se que busque o apoio de um profissional especialista.

Dessa forma, admitimos que o sofrimento é uma experiência de todas as pessoas e os limites entre o sofrimento e o adoecimento não são nítidos. A demora ou mesmo o medo de procurar ajuda contribui para aumentar o sofrimento.

Para saber mais: BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos da Atenção Básica n. 34. 2013.

 

2) Quase todo mundo hoje tem depressão e a maioria dessas pessoas ficariam curadas se deixassem a preguiça de lado e se esforçassem um pouco! Na depressão o que mais falta é força de vontade!

É preciso saber que qualquer pessoa pode passar por períodos de sofrimento ou adoecimento mental. É fundamental respeitarmos quem está em alguma situação de sofrimento. Julgamentos ou falas preconceituosas não ajudam. Podemos auxiliar na busca de ajuda profissional e oferecer apoio. A criação de laços sociais é um fator importante para a saúde mental.

Para saber mais, acesse o texto Depressão: o que você precisa saber, disponível no site da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

 

3) A doença mental é a pior das doenças, pois ela faz com que as pessoas se tornem perigosas e, por isso, pouco confiáveis.

A ideia de que há algo de perigoso nas pessoas com experiência da loucura é antiga e não se verifica como verdade. Essa periculosidade e instabilidade das pessoas, se pensada a fundo, pode ser uma experiência de qualquer ser humano. Além disso, alguns estudiosos acreditam que os comportamentos violentos podem ser uma forma que pessoas em sofrimento encontram para se comunicar.

As experiências de cuidado das pessoas com adoecimento mental, mesmo nos momentos de crise, vêm mostrando que não há essa periculosidade e que se pode construir possibilidades de vida junto com a pessoa que sofre. De acordo com o psiquiatra italiano Basaglia (1985), “…a periculosidade não reside na especificidade do diagnóstico, reside na falta de respostas às necessidades das pessoas”.

Para saber mais:

Projeto Transversões. Cartilha ‘Ajuda e suporte mútuos em saúde mental’

BARROS-BRISSET, F. O. Genealogia do conceito de periculosidade. Revista Responsabilidades, v. 1, p. 37-52, 2011.

VENTURINI E, OLIVEIRA RT e MATTOS V. O louco infrator e o estigma da periculosidade. Brasília: Conselho Federal de Psicologia. 2016. 356p.

 

4) Quando observo a vida das pessoas próximas vejo que eu sofro e que todos conseguem ser felizes e ter sucesso.

A percepção de que todos ao seu redor estão bem, menos você, é uma realidade para quem sofre e não um mito. O mito se encontra na ideia, tão comum nos tempos atuais, de que o sofrimento não pode fazer parte da experiência humana. Além disso, vivemos tempos em que se evita demonstrar fragilidade e tristeza. Pelo contrário, somos incentivados a expressar uma imagem de felicidade permanente. Esteja certo de que há muitas pessoas se sentindo do mesmo jeito que você. Os momentos de sofrimento e dificuldade estarão presentes na vida de todos e todas. Precisamos encontrar formas de enfrentá-los. Se necessário, procure ajuda.

Para saber mais:

NASCIMENTO KL e SILVA ADM. A sociedade líquida e o conceito de felicidade em “A arte da vida de Zigmunt Bauman”. Cadernos Zigmunt Bauman; 9(18): 2019. p. 115 – 137.

 

5) Eu não devo falar com ninguém sobre meu sofrimento porque não vão me entender.

Esse pensamento somente afasta mais você de outras pessoas e agrava sua situação. É importante compartilhar o sofrimento vivido com pessoas de confiança para que possamos encontrar caminhos de auxílio. Estudos mostram que o apoio social tem efeitos positivos na redução do estresse e dos problemas mentais e psicológicos, na autoestima e no bem-estar psicológico.

Para saber mais: CANESQUI AM e BARSAGLINI RA. Apoio social e saúde: pontos de vista das ciências sociais e humanas. Ciência & Saúde Coletiva, 17(5):1103-1114, 2012.

 

6) Não devemos estimular quem está em sofrimento ou adoecimento mental a buscar tratamento. A pessoa deve fazer isso quando ela desejar. Não devemos “intrometer” se percebermos que alguém próximo ou conhecido está em situação de sofrimento, pois se a pessoa quiser, ela irá falar.

Muitas vezes a pessoa em sofrimento/adoecimento tem dificuldades para buscar ajuda sozinha. Pessoas próximas podem incentivá-la e inclusive acompanhá-la em um primeiro momento, considerando que a decisão de se tratar será dela.

A pessoa pode estar confusa e talvez não tenha iniciativa, confiança, ou segurança para falar. Quando percebermos alguma situação de sofrimento podemos, com discrição, abordar a pessoa e abrir espaço para o diálogo.

Para saber mais: Projeto Transversões – Ajuda e suporte mútuo em saúde mental

 

7) Quem tem depressão tem que tomar remédio a vida toda.

Há diferentes formas de tratamento e cuidado da pessoa que está em depressão e há diversos tipos de depressão. É necessário buscar opinião profissional para identificar possibilidades de melhora, geralmente com bons resultados em abordagens multiprofissionais.

Para saber mais:

World Health Organization (WHO). Mental health action plan 2013-2020. Geneva, Switzerland; 2013.

 

8) Se uma pessoa que pensava em suicidar parece mais tranquila e fala menos sobre isso, significa que está fora de perigo.

Uma pessoa que pensava em se suicidar pode ficar mais tranquila justamente por ter tomado uma decisão de tirar a própria vida. Mas, o contrário também pode ser verdadeiro: a pessoa encontrou outras formas para lidar com uma dor que parecia ser insuportável. É importante considerar que a melhor forma de saber sobre o risco de suicídio é uma conversa aberta com a pessoa.

Para saber mais:

Conselho Federal de Psicologia. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013. 152p.

 

9) As pessoas que ameaçam se matar querem apenas chamar a atenção.

A maioria das pessoas que pensam em suicídio falam ou dão sinais sobre suas ideias de morte. A expressão da ideação suicida nunca deve ser interpretada como simples ameaça ou chantagem emocional, pois pode, sim, haver um risco real. Uma pessoa com mudanças bruscas no comportamento, na forma de falar ou de se relacionar com outras pessoas pode estar vivendo uma situação de grave sofrimento. De modo especial, essas mudanças devem chamar atenção se durarem um tempo maior.

Para saber mais, acesse o folheto “Suicídio. Saber, agir e prevenir”, elaborado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).

 

10) Quem pensa em suicídio quer de fato morrer.

É difícil afirmar que essa frase é 100% mito ou 100% fato. Pensar em suicídio numa linguagem técnica é chamado ideação suicida. A ideação suicida não deve ser interpretada de maneira simplista. Todo comportamento humano é complexo e multideterminado e existe ambivalência entre o desejo de viver e de morrer. Muitas vezes a pessoa que pensa em suicídio deseja uma vida diferente e um alívio para o sofrimento.

Para saber mais:

BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Aspectos psicológicos do suicídio, p. 51 – 54.

 

11) Devemos evitar falar sobre o suicídio, pois isso pode aumentar o risco de uma pessoa se matar.

Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário, falar com alguém que está pensando em suicidar pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.

Para saber mais, acesse a página Prevenção do suicídio: sinais para saber e agir, presente no site do Ministério da Saúde, e o folheto “Suicídio. Saber, agir e prevenir”, elaborado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).

 

12) O abuso do álcool e outras drogas não interfere na saúde mental da pessoa.

Álcool e drogas possuem substâncias que podem alterar o funcionamento do sistema nervoso central, podendo levar à repercussões na saúde mental. Além disso, sabe-se que o abuso de álcool pode aumentar a impulsividade e a intensidade de ideações suicidas. Em algumas pessoas, o abuso de álcool ou outras drogas podem estar relacionados à algumas formas de adoecimento mental, tais como, depressão, psicoses ou outros.

Para saber mais, acesse o “Global status report on alcohol and health 2018” (em inglês), produzido pela Organização Mundial da Saúde.

 

13) ‘Só adoece quem bebe todos os dias’; ‘Só é alcoolista quem bebe antes do almoço’; ‘Eu bebo muito, mas eu paro de beber quando eu quiser’; ‘O álcool é menos prejudicial. Dependente é quem faz uso de drogas ilícitas’.

Há uma diferença entre uso e abuso de álcool. Os potenciais problemas com o abuso de álcool devem ser entendidos além da quantidade de álcool consumida, pois o padrão de consumo (quanto bebe, se é bebida destilada ou fermentada, qualidade da bebida consumida, quantas vezes por dia bebe) que a pessoa tem, ao longo do tempo, pode significar um risco para a saúde.

Pesquisas atuais apontam que a ingestão de grandes quantidades de álcool em uma única ocasião também afeta a saúde e está associada a outros problemas, como acidentes e violência. Apontam, também, que muitos alcoolistas têm essa impressão de que se controlam em relação a bebida. Sabemos, ainda, que o potencial do álcool de causar danos à saúde é real e pode ser tão prejudicial quanto outras drogas.

Para saber mais, acesse:

O relatório da Organização Mundial da Saúde, Global status report on alcohol and health 2018;

E o documento Drogas e redução de danos: uma cartilha para profissionais de saúde.

 

14) As universidades e o mundo acadêmico acolhem mal as pessoas com adoecimento ou sofrimento mental.

O mundo acadêmico é marcado, dentre outros, pela competitividade. Por vezes, essa competitividade se torna predatória e o produtivismo invade as relações no trabalho. Saiba que um dos papéis Universidade é acolhê-lo, orientá-lo e incentivá-lo a buscar ajuda. Além de auxiliá-lo a fazer escolhas mais adequadas para concluir o seu percurso acadêmico, indicando opções e criando alternativas sobretudo em momentos em que você esteja em situação de sofrimento.

Para saber mais, acesse a aba Política de Saúde Mental da UFMG e a cartilha do Projeto Transversões – Ajuda e suporte mútuo em saúde mental.

 

15) A universidade mata.

O número de pessoas que vivem com depressão no mundo aumentou 18% entre 2005 e 2015, de acordo com o relatório lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017. Pesquisas recentes demonstram que a saúde mental dos estudantes também está piorando nos últimos anos (V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos (as) Graduandos (as) das IFES – 2018).

A vida universitária é um período de grandes descobertas, aprendizagens e de construção de laços afetivos e sociais importantes. Entretanto, ela pode também se caracterizar como mais um fator de pressão e dificuldade na vida da pessoa, mas não o único, uma vez que cada pessoa possui sua história individual antes de entrar na Universidade.

É necessário, institucionalmente, um esforço conjunto para criar estratégias de enfrentamento às dificuldades pessoais e coletivas para propiciarmos um ambiente mais saudável na comunidade universitária.

Para saber mais, acesse a notícia “Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo“, o relatório da V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação e a aba Política de Saúde Mental da UFMG.