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Luta antimanicomial: luta fundamental do humano

Edição de 2017 do desfile que celebra a luta antimanicomial. Foto: Júlia Duarte / UFMG

Existem diferenças entre palavras e conceitos. A palavra “amor” é um grande exemplo disto, pois nos traz inúmeros conceitos, percepções, sentimentos, histórias, etc. Basta ficarmos ouvindo músicas tocadas numa rádio durante um certo tempo e uma multidão de imagens, abordagens passam por nossa mente.

Os conceitos variam de uma pessoa para outra, de um grupo para outro. Numa coletividade tenta-se buscar consensos em torno de conceitos. Sempre gosto de me lembrar da fala do antropólogo britânico Tim Ingold quando esteve na Faculdade de Educação da UFMG em 2011. Ele nos disse que os projetos não são feitos para darem certo, o objetivo deles é outro: provocar movimento. Assim como os projetos, eu acho que os conceitos fazem a mesma coisa. Os conceitos não são propostos para se encontrar a verdade. Eles fazem com que nos movimentemos: deslocam o nosso olhar para uma determinada direção, para um determinado aspecto de um fenômeno e nos auxiliam a debater com alguém o que estamos pensando e distinguindo.

Pois justamente, para o biólogo chileno Humberto Maturana o amor é uma maneira específica de nos movimentarmos num domínio relacional. Ele chama de emoção a maneira como nos movimentamos, como agimos e como estamos nos nossos espaços relacionais. Algumas emoções restringem a nossa visão, inibem o nosso potencial criativo: ambição, competição e medo. O amor é a única emoção que expande a nossa visão. O amor é a emoção que constitui as ações de aceitar o outro como legítimo outro na convivência. Opõe-se à agressão que é o domínio relacional baseado na negação.

O amor, aceitação do outro como legítimo na convivência, é o fundamento do humano e por isto a Luta Antimanicomial é uma luta básica numa sociedade humana pois esta luta se opõe à violência que é a negação do outro: negação de sua inteligência, de seu potencial inventivo, da sua possibilidade de constituir e de participar de espaços de colaboração, ou seja, negação de sua capacidade de amar.

 

Texto de Marcos Vinicius Bortolus