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Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 6, nº 12 - julho de 2007 - Edição do Vestibular

independência tecnológica e ação social

Diálogos possíveis e necessários

Flávia Miranda

A abertura ao diálogo sempre foi um dos aspectos mais valorizados pela UFMG em seus 80 anos de existência.

A Extensão trabalha, assim como outros setores da Universidade, com projetos variados. As atividades distribuem-se em oito eixos temáticos: comunicação, cultura, direitos humanos, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia, produção e trabalho. Em 2006, foram promovidos 547 cursos, 441 eventos, 436 ações de prestação de serviços, 370 projetos e 78 programas, que envolveram quase 5,5 milhões de pessoas, entre alunos, professores, funcionários da UFMG e as comunidades em todo o Estado.

Os estudantes de graduação da Universidade podem participar dos programas e projetos de extensão como bolsistas ou voluntários. Segundo a pró-reitora de Extensão Ângela Dalben, “o aluno tem a possibilidade de estabelecer um diálogo melhor com o campo de estudos no qual está inserido e com a sociedade por meio das atividades de extensão. Dessa maneira, o estudante fica mais seguro, conquista uma formação mais densa, mais abrangente, de conjunto”.

Atuação multidisciplinar

A participação de várias áreas do saber num mesmo projeto de extensão ajuda a formar profissionais mais críticos e com ferramentas para refletir sobre as questões sociais. Um dos programas mais tradicionais da Universidade, com quase dez anos de atuação, é o Manuelzão. Com sede na Faculdade de Medicina da UFMG, o projeto busca trabalhar a preservação do meio ambiente, principalmente a bacia do Rio das Velhas, onde as atividades do Manuelzão se concentram. Nessa tarefa, estão empenhados alunos, professores e profissionais de cursos como Medicina, Geografia, Comunicação e Engenharia. Cada área colabora para propor e elaborar medidas que contribuam para a preservação da bacia do Velhas, o que traz impactos não só para a formação dos estudantes envolvidos, mas também para as comunidades que compõem a região.

O estudante do 4° período de Medicina, Samuel Sóstanes Santos, 24 anos, trabalha no Manuelzão desde que iniciou o curso. O aluno relata que conhecia o projeto mesmo antes de entrar para a faculdade, quando começou a participar das atividades do Grupo de Educação e Mobilização, onde atua. “A observação do cotidiano e das práticas das comunidades ampliaram meus conhecimentos e ajudam-me a pensar o próprio fazer da Medicina”, reflete

Outro projeto veterano nas relações com comunidades mineiras é o Pólos de Cidadania, da Faculdade de Direito. Desde 1995, o Pólos desenvolve ações que contam com a participação de estudantes dos cursos de Direito, Psicologia e Comunicação, além de moradores de aglomerados de Belo Horizonte e cidades do Vale do Jequitinhonha. “Ao trabalhar junto dessas comunidades, tentamos fazer uma parceria entre os conhecimentos científicos e o senso comum”, resume a sub-coordenadora do Pólos, Sielen Caldas, que entrou para o projeto quando estava no 2° período do curso de Direito, onde hoje cursa o doutorado.

Sielen passou toda a graduação vinculada aos trabalhos do Pólos e mesmo depois de formada não abandonou a experiência. Hoje, como sub-coordenadora do projeto, a advogada e doutoranda conta que trabalhar no Pólos agregou muito à sua experiência profissional e pessoal. “Quero ser professora e vou querer continuar fazendo parte do Pólos porque considero que o Direito sem o lado social fica sem sentido. Na extensão, nosso olhar muda por causa do contato com pessoas em situação extrema e a experiência ajuda a cultivar a solidariedade, a mudar nosso relacionamento com todos”, avalia.

Se o olhar de quem é da Universidade muda, o dos moradores das comunidades, também. A gerente de projetos da Casa da Juventude, Glasiane Aparecida da Silva, relata que a parceria com o Pólos foi “um casamento perfeito”. A Casa, que fica em Itaobim, Vale do Jequitinhonha, tinha interesse na realização de ações contra o abuso e a exploração sexual infantil. Recorreu, então, ao Pólos para elaborarem juntos uma cartilha sobre o tema. “Além da cartilha, desenvolvemos em conjunto oficinas de teatro e os adolescentes da Casa adaptaram textos que foram transformados em peças teatrais apresentadas nas comunidades da região”, lembra Glasiane.

Yes, temos pesquisa de ponta

Pesquisa Quem não fica impressionado com as descobertas feitas pela ciência, que ajudam no desenvolvimento das sociedades e no aprofundamento de conhecimentos? Muita gente pensa que a produção científica é feita lá longe, nos grandes centros de estudos europeus, asiáticos ou norte-americanos. Mas há pesquisas feitas bem próximo de nós e nem nos damos conta. As universidades, por exemplo, são grandes colaboradoras no processo de criação de novas tecnologias, experimentação e produção de conhecimentos. E a UFMG é integrante ativa da atividade de pesquisa nas oito grandes áreas do conhecimento: Ciências Agrárias, Biológicas, da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Engenharias, e Lingüística, Letras e Artes.

A UFMG desenvolve trabalhos nas áreas de biotecnologia, tecnologias educacionais, ambientais, química e materiais, informática, mecânicas, elétricas, eletrônicas e sociais. Entre 2004 e 2006, foi arrecadado R$ 1 milhão com o processo de transferência tecnológica. “O desenvolvimento e a transferência da tecnologia e do conhecimento produzido ajuda o país a crescer. Temos que começar a intensificar a exportação de produtos de alta tecnologia, não poluentes e com alto valor agregado para nos inserir entre as nações mais ricas do mundo”, analisa o pró-reitor de Pesquisa Carlos Alberto Tavares.

As áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas e Lingüística, Artes e Música também têm grande contribuição para o crescimento histórico, cultural e social. “As produções desses campos são divulgados para a sociedade principalmente por livros e artigos apresentados, mas algumas pesquisas dos campos da Música e das Belas-Artes são difíceis de contar, ainda que sejam mostradas para a comunidade em forma de recitais, obras de arte e peças teatrais”, relata Carlos Alberto Tavares.

Com o trabalho de 650 grupos de pesquisa e o envolvimento de centenas de professores, estudantes e funcionários, a UFMG conseguiu alcançar o primeiro lugar de pedidos de patentes nacionais e internacionais em relação a outras universidades federais. Ao todo, a Universidade detém o título de 48 patentes internacionais, 180 nacionais e 20 marcas registradas. “Todos os anos o Brasil perde milhões de dólares porque não protege suas descobertas por meio de registros. Por isso seria importante até que o tema da propriedade intelectual fizesse parte do currículo dos estudantes, para que eles se informassem sobre o que é importante ou não proteger”, sugere Rubén Dario, coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG.

Inovar para crescer

Os avanços das pesquisas da UFMG têm rendido boas descobertas. Nos dois últimos anos, os setores que mais pediram o registro de patentes na Universidade foram os de biotecnologia, química, engenharia mecânica e engenharia elétrica. O departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, atento à grande incidência de doenças relacionadas ao sistema circulatório, desenvolveu uma nova formulação para um medicamento usado por hipertensos. Em parceria com o departamento de Química, a equipe de pesquisa coordenada pelo professor Robson Souza Santos trabalha, desde 2003, na elaboração de um remédio que tenha um efeito mais intenso e prolongado em pessoas com pressão alta. Já foram feitos testes em ratos e foi constatado que a nova formulação permite um efeito mais duradouro em comparação com os medicamentos disponíveis no mercado. Agora, o remédio vai ser testado em seres humanos. “Caso a eficácia da nova formulação seja comprovada, quem tem pressão alta vai poder tomar uma dose menor, vai sofrer menos os efeitos colaterais e haverá uma maior adesão do paciente ao tratamento, já que muitos abandonam os remédios por esquecerem de tomar ou acharem as doses excessivas”, explica o pesquisador.

Outro projeto é o que permite a operação de uma aeronave sem o controle de um piloto. O avião foi feito numa parceria entre departamentos da Escola de Engenharia e do Instituto de Ciências Exatas da UFMG. De acordo o professor Paulo Iscold, do Centro de Estudos Aeronáuticos da UFMG, o avião não-tripulado serve para diminuir os riscos para a tripulação em ações repetitivas, como inspeções militares, agrícolas e monitoramento de grandes áreas. O diferencial é que ele toma as decisões sozinho, por meio de um programa de computação, que pode ser instalado em qualquer tipo de aeronave. “Esse tipo de pesquisa mostra que o Brasil está menos dependente da compra de tecnologia externa e que a Universidade tem condições para desenvolver tecnologias de ponta”, salienta Iscold. Os Estados Unidos e Israel são os países que mais desenvolvem os aviões não-tripulados, principalmente para uso das forças armadas.

Tradução de conhecimentos

Para aproximar os conhecimentos científicos e as comunidades, a UFMG criou o Centro de Difusão da Ciência (CDC). Ligado à Pró-Reitoria de Extensão, o Centro busca criar e aprimorar práticas para que a sociedade saiba do que a UFMG produz e também para que a Universidade perceba como sua produção é entendida e reapropriada pelas pessoas. Segundo a coordenadora do CDC, Tânia Margarida Lima Costa, o trabalho de divulgação tenta fazer os trabalhos dos pesquisadores serem conhecidos pela sociedade e também pela comunidade da UFMG.

Os trabalhos do Centro envolvem estudantes de diferentes cursos da UFMG, como Engenharia, Comunicação, Pedagogia e Biologia. “Com isso, buscamos informações diferenciadas sobre um mesmo assunto para mostrá-lo de maneira mais ampla para as pessoas”, explica Tânia Margarida. As formas de “traduzir” os conhecimentos também são variadas: há exposições, contação de história, oficinas e cartilhas que sintetizam os conteúdos disponibilizados. “A intenção é mostrar que a ciência está presente no cotidiano e que pode modificar a escolha dos cidadãos por meio do acesso ao conhecimento”, resume a coordenadora.

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