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Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 6, nº 12 - julho de 2007 - Edição do Vestibular

mercado de trabalho

O que esperar do futuro

Laís Menini

IlustraçãoDaniel Gonzaga, 19, estudou dois semestres de Química em uma universidade federal do interior do Estado antes de trancar o curso para tentar, este ano, ingressar em Comunicação Social na UFMG. Para isso, dedica a maior parte de seu tempo ao cursinho pré-vestibular. Ainda não sabe em qual área da comunicação (Jornalismo, Publicidade, RTV ou Relações Públicas) quer se especializar, mas um dos argumentos que usa para justificar a mudança de curso é que “na comunicação a gente encontra mais oportunidades de atuação”. Uma diversidade grande, sim, mas que pode estar comprometida por um dos fantasmas que mais assusta quem entra agora na universidade: a saturação do mercado de trabalho.

Apesar de não haver estatísticas confiáveis, é fácil identificar áreas que beiram a saturação. Entre elas, Jornalismo e Direito, que têm cursos superiores sendo lançados cada vez com freqüência maior, principalmente por instituições privadas. Assim como é fácil identificar, com o avanço irrefreável das ciências e das tecnologias, que os cursos “da moda” estão voltados, substancialmente, para essas áreas.

O que não quer dizer que cursos de tecnologia sejam uma escolha com mercado de trabalho garantido. A saturação das profissões acontece justamente porque elas são exageradamente procuradas – e o espaço no mercado, cada vez menor. Portanto, Daniel e mais outros milhões de jovens brasileiros podem ter dificuldades de achar, no fim de quatro ou cinco anos de estudo, um bom emprego logo na primeira tentativa.

Em 2002 o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) promoveu uma pesquisa para reordenar a Classificação Brasileira das Ocupações (CBO). A pesquisa buscou identificar as ocupações emergentes no Brasil e aquelas que poderiam desaparecer. O cenário, desde então, não mudou muito. Profissões como telefonista, engenheiro de vôo e até coveiro, segundo o MTE, estão fadadas ao desaparecimento. Já as biotecnologias, as comunicações e a informática vão permanecer no mercado por muito tempo.

Segundo o relatório do MTE, “as novas ocupações ou emergentes são resultados da adoção de novas tecnologias, criação de regulamentação ou mudanças estruturais no mercado de trabalho”. Essas mudanças também levam em conta profundas transformações econômicas vividas pelo Brasil nos últimos 30 anos. “Também são encontradas ocupações emergentes em setores econômicos recém-criados ou em crescimento”, completa o relatório.

E, segundo o economista Luiz Eduardo de Vasconcelos Rocha, a safra de profissões em expansão está diretamente ligada à nova formação da economia mundial. “As novas profissões dependem de um amplo conhecimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, deixando em segundo plano as profissões que dependem basicamente de habilidades manuais. Isso se caracteriza pelas revoluções das tecnologias da informação e, também, da biotecnologia”, explica o especialista, que é doutor em Economia Rural pela UFV (Universidade Federal de Viçosa) e desenvolve projetos nas áreas de Economia do Bem-Estar e Economia Internacional.

A biotecnologia abre portas para profissionais de áreas diversas, já que principalmente o meio ambiente é um setor que deve exigir, no futuro, ainda mais profissionais aptos para lidar com os problemas da área. Para garantir lugar nessa nova seara do trabalho, é necessário ficar de olho nas principais exigências do mercado de trabalho. Segundo o economista, a mais urgente necessidade do mercado é que o profissional tenha o maior nível de conhecimento possível nas áreas de tecnologia de ponta – entre elas, a informática.

A força do empreendedorismo

Só as seis regiões metropolitanas pesquisadas mensalmente pela Fundação João Pinheiro (São Paulo, Salvador, Distrito Federal, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife), têm juntas 3 milhões e 140 mil desempregados, dados de maio de 2007. A taxa de desemprego total é de 16,4% da população economicamente ativa, ou seja, 16,4 de cada 100 pessoas que procuram emprego se deparam com portas fechadas.

Com esses números, não é difícil entender por que o Brasil também favorece a informalidade. Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que mais da metade dos brasileiros (52%) sustenta-se da informalidade. Mas da adversidade, há quem descubra novos caminhos. E um dos que mais tem atraído os jovens é o empreendedorismo,.

A UFMG consegue formar bons exemplos da arte de dar vida ao próprio negócio, ou de transformar uma excelente idéia em realidade. No ano passado, por exemplo, o biólogo Álvaro Eiras, professor do Instituto de Ciências Biológicas, recebeu um prêmio no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), por desenvolver uma tecnologia capaz de monitorar com mais precisão a infestação de mosquitos da dengue. Transferida à iniciativa privada, a chamada Mosquitrap, uma armadilha que atrai e aprisiona a fêmea do Aedes aegypti, foi usada para monitorar o avanço do mosquito da dengue até mesmo na Vila Olímpica dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro. A iniciativa de Álvaro Eiras rendeu elogios até de Bill Gates, o poderoso chefão do mundo da informática e criador da Microsoft, cujos programas são os mais utilizados em computadores residenciais de todo o mundo.

Pessoas como Gates ditaram um modelo decisivo no mercado de trabalho: a necessidade de empreender para criar novas perspectivas no mercado. Para muitos, o empreendedorismo é sinal dos novos tempos. “Daqui a alguns anos, esse emprego clássico, com carteira assinada, como conhecemos, vai terminar. O mercado vai pertencer aos profissionais liberais, empreendedores. E estes sim vão dar o tom do emprego nas empresas do futuro”, avalia o professor de Química da UFMG, Rochel Lago. Ele também é coordenador da INOVA, uma incubadora de empresas desenvolvida na Universidade.
A INOVA nasceu em 2003, no Centro de Inovação Multidisciplinar do departamento de Física, com o objetivo de dar suporte a novas empresas e fornecer condições de sobrevivência a elas no mercado. “A idéia de uma incubadora é a mesma para nenéns, pintinhos ou empresas”, explica Rochel. “É auxiliar a empresa no momento frágil que é o nascimento para garantir que elas sobrevivam após o momento mais crítico, que são seus primeiros passos”.

O projeto ampara seis empresas. Cada empresa é assistida por uma equipe de quatro a 24 funcionários e alunos. A INOVA também tem como objetivo capacitar alunos para a criação, principalmente nas áreas tecnológicas, que são o forte da iniciativa. Curiosamente o curso de Administração (primeiro a ser lembrado quando se fala de empresas) não é prioridade na INOVA. Ao contrário: a maioria dos estagiários é composta de alunos dos cursos com ênfase no desenvolvimento de novas tecnologias, tais como Computação, Veterinária, Engenharia, Biologia, Física e Química – atuações promissoras tanto para o mercado quanto no empreendedorismo, na opinião do professor Rochel. Mas, independentemente da área a seguir, e mesmo com todos os pontos a favor do empreendedorismo, é bom lembrar que não basta querer para fazer acontecer: é preciso inovar e buscar sobrevida no disputado mercado, que, como lembra o economista Luiz Eduardo Rocha, é dinâmico. “O empreendedorismo é uma forma de subsistência, mas sempre estará a margem se não se enquadrar dentro da dinâmica da economia, que exige competitividade e eficiência, ainda mais no século XXI, com uma economia totalmente globalizada, e onde os mercados estão integrados”, avisa.

Dicas para montar um negócio

Quer saber um pouco mais sobre como inovar na criação de um negócio? Quem dá as dicas é o professor Rochel Lago, coordenador da INOVA.

Tenha boa base administrativa - não dá para desenvolver uma boa empresa sem uma equipe competente para administrá-la, senão ela não vai ter chance alguma de decolar, mesmo com boa base tecnológica. É necessário boa noção de administração para que o negócio não afunde ainda no começo.

Desenvolva um “plano de negócio” - nesse planejamento podem constar pesquisas de mercado, necessidades de demanda e como está o cenário da concorrência. Saber bem o que se quer da empresa, o que se pode fazer com ela e definir uma estratégia para inseri-la no mercado são os primeiros passos. Se os resultados forem favoráveis, a partir daí, o empreendimento vai passar a depender da boa vontade e dos recursos daqueles que o regem.

Sonhe muito, tenha motivação e seja persistente - três elementos mais que necessários para o empreendimento dar certo no mercado atual. O professor Rochel garante: sem essas três armas, é impossível levar o negócio para frente. A paciência pode ser integrada a esses três sentimentos, ainda mais se o seu negócio for montado no Brasil: nosso país é um dos mais burocráticos para liberar uma nova iniciativa. E até que ela comece a funcionar efetivamente, o processo pode levar anos. Mas como diz Rochel, a dica é não desistir. “Vão haver muitas dificuldades, e o empresário só segue em frente se for motivado, persistente e acreditar que seu sonho pode ser realizado”. Palavra de empreendedor.

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