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Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 6, nº 12 - julho de 2007 - Edição do Vestibular

vida de estudante

Os muitos lugares da participação estudantil

Larissa Nunes

Associações atléticas, grupos de teatro e de estudos, empresas juniores e entidades de representação política são exemplos do movimento estudantil na UFMG.

Ilustração

“Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento...” Os versos da canção “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso retratam uma geração de jovens que, na década de 60, foi às ruas, aceitou correr riscos e enfrentou a opressão e o autoritarismo da ditadura militar, instaurada no país após o golpe de 1964. Quatro décadas se passaram, os ventos da liberdade de expressão agora sopram sobre o país e o movimento estudantil, antes identificado unicamente como movimento de resistência política, ganhou outros significados. “Toda forma de atuação dentro da Universidade, seja ela cultural, social, política ou acadêmica, é movimento estudantil”, define Leonardo Rodrigues Carvalho Silva, aluno do 6º período de Comunicação Social e presidente do DCE, gestão 2006-2007.

Associações atléticas, grupos de teatro e de estudos e empresas juniores são exemplos pouco conhecidos do movimento estudantil na UFMG, que geralmente é associado ao DCE, o Diretório Central dos Estudantes, e aos Diretórios e Centros Acadêmicos, os DAs e CAs, respectivamente. Escolhidas por votação, e renovadas a cada ano, as diretorias dessas entidades têm com objetivo representar os estudantes junto às diretorias das unidades acadêmicas e à administração da Universidade. O DCE, órgão máximo de representação estudantil da Universidade, participa e organiza encontros entre universitários, promove eventos políticos, culturais e acadêmicos, além de ser o responsável pela emissão das carteiras de identificação estudantil, as populares “carteirinhas de estudantes”. Já os DAs agregam os interesses de estudantes de uma unidade acadêmica, e os centros acadêmicos ou grêmios são os mais próximos da rotina estudantil, uma vez que representam os interesses dos alunos junto aos colegiados de curso. Com a atuação independente, e com sede própria, essas entidades mantém representantes em todos os Conselhos Deliberativos da UFMG, órgãos responsáveis por toda e qualquer decisão dentro da Universidade.

Mito “vermelho”

Por mais que tenham visibilidade no espaço universitário, as entidades estudantis costumam afastar alunos que não se vêem envolvidos com questões políticas. “As pessoas costumam ter muito medo da expressão ‘movimento estudantil’. Acham que para atuar no movimento é necessário ser comunista, e brigar por mudanças políticas”, diz José Humberto Soares, estudante do 8º período de Medicina e presidente da Conclave Médico Esportiva, a Associação Atlética da Faculdade de Medicina da UFMG, uma das diversas organizações que representam os estudantes da Universidade. Criada em 15 de outubro de 1996, a Conclave promove e participa de eventos esportivos, que envolvem, inclusive, estudantes de faculdades e universidades de outros Estados.

Empresas juniores são, ao mesmo tempo, espaço de participação e aprendizagem
Empresas juniores são, ao mesmo tempo, espaço de participação e aprendizagem

Este fator, no entanto, não impede a participação em outras organizações de estudantes. Diogo de Moura Cordeiro, estudante do 4º período de Engenharia Elétrica, foi um dos que optou pelo caminho da atuação acadêmica para batalhar pelos direitos estudantis. Embora não tenha chegado sequer à metade do tempo de duração de seu curso, ele já é presidente da CPEJr – Consultoria e Projetos Elétricos, a Empresa Junior dos Cursos de Engenharia Elétrica e de Controle e Automação da UFMG. Como todas as outras empresas juniores da UFMG, a CPEJr desenvolve trabalhos sem fins lucrativos, com o objetivo de proporcionar vivência profissional complementar aos estudantes. Porém, as metas desta “pequena” empresa não terminam aí. “A empresa tem um caráter de aprendizado. Mas é claro que como grupo, nós temos mais facilidade de acesso à administração da Universidade do que se trabalhássemos isolados”, diz Diogo Moura. Para ele, este movimento ganharia ainda mais força se todas as empresas juniores buscassem mais parcerias e encontros. “Seria mais fácil alcançar nossos objetivos se as empresas atuassem juntas”, completa.

Desafios geográficos

IlustraçãoDivulgar as diferentes formas de atuação dentro da Universidade é uma das maneiras que o DCE tem encontrado para superar o esvaziamento do movimento estudantil. Dos 17.149 estudantes que contribuíram, no primeiro semestre de 2007, com a taxa do DCE, 38,7% votaram na última eleição para escolher a diretoria da entidade. ldquo;A UFMG é muito grande. Os torneios esportivos, eventos culturais, e as empresas juniores contribuem para que os estudantes participem dos rumos da Universidade”, alerta o presidente da atual gestão do DCE, Leonardo Rodrigues.

Mas a tarefa de unir os estudantes torna–se ainda mais complicada nos casos dos cursos das unidades acadêmicas que ficam fora do campus Pampulha, como é o caso da Faculdade de Direito e da Escola de Arquitetura, localizadas na região centro-sul da capital mineira, e principalmente, o campus regional da UFMG em Montes Claros, a 437 quilômetros de Belo Horizonte, onde são oferecidos os cursos de Agronomia e Zootecnia. “Nós perdemos grandes discussões que acontecem no campus Pampulha.
E alguns assuntos que têm destaque aqui, sequer chegam lá”, lamenta Jefferson Mariano Silva, estudante do 8ºperíodo de Direito, e ex-integrante do Diretório Acadêmico da Faculdade.

Festas, como a popular calourada do Direito, facilitam esta integração, mas ainda é pouco. Segundo Jefferson Mariano, os encontros entre as entidades são escassos, e a participação é reduzida. Para ele, o enfraquecimento dessas organizações tem origem em outro problema: a falta de recursos. Na UFMG, o arrecadamento das entidades dos estudantes vem do pagamento de taxas optativas, além de venda de camisetas, ingressos para eventos, entre outros. “A maioria das entidades estudantis não tem condições de fazer jornais, ou promover eventos entre os estudantes. Isso dificulta, ainda, o diálogo”, completa o estudante.

Diálogo franco

O movimento estudantil tem muitos caminhos e lugares
O movimento estudantil tem muitos caminhos e lugares

Estreitar a relação entre os diversos segmentos e tendências do movimento estudantil e a Universidade é o objetivo da Diretoria de Ações Estudantis (DAE). Em abril de 2006, o órgão foi criado com o propósito de servir como um canal entre os estudantes e a administração da UFMG. “A DAE não nasceu para representar, substituir, ou tutelar o movimento. É um espaço na administração da Universidade que tem uma atenção especial aos estudantes”, esclarece a diretora Samira Zaidan.

O presidente do DCE, da gestão 2006-2007, Leonardo Rodrigues, também vê com otimismo a participação da nova diretoria e o apoio oferecido aos estudantes, mas faz ressalvas: “Nós precisávamos deste acesso facilitado à Reitoria. Mas é preciso demarcar bem os limites e a atuação da diretoria e do movimento”.

Além de ampliar o diálogo entre a Reitoria e o movimento estudantil, a DAE também surgiu para atuar na criação e apoio de diversas iniciativas e eventos voltados para os alunos da UFMG. Uma das iniciativas de maior sucesso são os cursos livres, aulas sem pré-requisitos, que acontecem nos mais variados campos do conhecimento, como Cinema, História e Psicologia. “Os alunos se prendem muito à formação profissional. Os cursos livres são oportunidades de aprendizado que vão além do conhecimento acadêmico”, diz Samira Zaidan.

Trote solidário

Outra ação de sucesso da nova diretoria é o trote solidário. Em 2007, a DAE fez uma campanha de doação de material didático para a recepção dos novos calouros e estimulou os estudantes a abandonar as antigas práticas de recepção dos calouros, muitas vezes abusivas e violentas. No total, foram reunidos 1958 livros e apostilas, doados posteriormente à escolas de ensino fundamental e médio da região do Alto Vera Cruz, bairro da região leste de Belo Horizonte. A expectativa é repetir a iniciativa nos próximos anos, e tentar eliminar o trote convencional, que ainda existe na Universidade, apesar de condenado pela Reitoria e pela direção das Unidades Acadêmicas. “Estamos empenhados em acabar com qualquer tipo de trote que gere constrangimento e violência”, afirma a diretora de Assuntos Estudantis.

O trote solidário também tem o apoio de outras entidades. Na Faculdade de Farmácia, a “Farmácia Júnior Consultoria UFMG” promove campanha de doação de sangue para o Hemominas. E, desde 2000, a Cria UFMG Jr., empresa júnior do curso de Comunicação Social, motiva os calouros a fazer blitzen solidárias. Próximos aos sinais de trânsito da portaria principal do campus Pampulha, na avenida Antônio Carlos, os estudantes pedem contribuições aos motoristas. Todo o dinheiro arrecadado é doado a instituições de caridade.

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