O projeto REUNI, a nosso entender, deve ser visto no horizonte mais amplo das instituições federais de educação superior no Brasil e aí analisado. O parque universitário público federal, de prolongada constituição ao longo da história de nosso País, ocupa hoje, quaisquer que sejam os parâmetros considerados, uma liderança inquestionável na América Latina e tem melhorado, gradativa mas inequivocamente, os seus indicadores no cenário global das universidades. Por outro lado, na medida em que as sociedades contemporâneas são cada vez mais consideradas “sociedades do conhecimentoâ€, o papel social das instituições universitárias ganha uma singularidade inédita.É, assim, difícil imaginar que os projetos de desenvolvimento social possam ignorar ou mesmo relativizar as instituições responsáveis pela produção dos chamados bens de conhecimento. É no campo do conhecimento, da produção, posse e difusão do conhecimento, que parte do destino das nações está sendo jogado no competitivo mundo globalizado da atualidade. Qualquer hesitação no apoio continuado e decidido às instituições responsáveis pela atividade de conhecimento implicará, por parte dos países que assim procederem, na permanência de um cenário crescente de dependência econômica e, a médio prazo, de autonomia político-cultural. É essa a gravidade que nos obriga a insistir que, ao lado das grandes políticas públicas já constituídas, o Estado tenha em vista um decidido investimento no campo do conhecimento, de modo a que possamos falar, também aí, de políticas públicas. Por outro lado, dada a renovada complexidade das sociedades modernas, a administração pública, em todos os seus aspectos, demanda, inequivocamente, o recurso a instrumentos de análise e atuação sempre mais sofisticados. A estas razões deve ser adicionado o reconhecimento do que, há algum tempo, vem sendo chamado de aceleração histórica, ou seja, o fato de que, considerada a história contemporânea, os fatores de descontinuidade se sobrepõem aos fatores de continuidade. Estes fatores, que chegam até nós somados, indicam a importância da questão universitária. Portanto, cabe, sem dúvida, acrescentar às formas tradicionais de cidadania – política, econômica, social – o que poderia ser chamado, à falta de uma terminologia mais adequada, de cidadania intelectual, a saber, o acesso a um grupo de conhecimentos capazes de contribuir para uma vida mais humana e mais digna.

Por outro lado, no Brasil, a estes desafios relativos à instituição universitária em geral, outros se ajuntam. O expressivo contingente de jovens ainda sem acesso à educação superior, a escassez de vagas em instituições federais, a característica perversamente seletiva do alunado matriculado no ensino superior, o crescimento desproporcionado do sistema privado de ensino superior, a necessidade de contar com mais quadros com formação científica, tecnológica e cultural para o desejado desenvolvimento do País são, todos eles, problemas a que cabe dar uma resposta mais global, mais incisiva, mais duradoura.

Entende-se, na UFMG, que o projeto REUNI pode viabilizar muitas das mudanças que se fazem necessárias diante do cenário acima apontado. Uma vez implantado, as Instituições Federais de Ensino Superior passarão a contar com instrumentos adicionais para uma melhor consecução de suas metas mais ortodoxas e para o enfrentamento dos desafios que o cenário do conhecimento incessantemente propõe. Os valores que o sustentam, a saber, a defesa da expansão estratégica de vagas no sistema federal de ensino superior, o incentivo a novas tecnologias didático-metodológicas, o apoio a medidas capazes de sustentar currículos, ao mesmo tempo, modernizados e qualificados, o incentivo a que formações estritamente disciplinares cedam lugar a percursos curriculares mais diversificados, a compreensão dos laços estreitos que vinculam a graduação e a pós-graduação e, fundamentalmente, os recursos financeiros aportados para sua execução segura constituem uma oportunidade singular para o avanço na missão histórica das Instituições Federais de Ensino Superior. Longe de constituir uma mera expansão quantitativa das matrículas, o REUNI deve ser visto, e não é outra coisa que o projeto preconiza, como uma oportunidade efetiva de rearticulação acadêmica, seja no sentido de propiciar novas formatações para o trabalho docente, seja no sentido de oferecer novos percursos curriculares, mais capazes de acompanhar o avanço do conhecimento, seja no sentido de contribuir para que tenhamos instituições universitárias mais ágeis e menos oneradas por normas excessivamente rígidas.

A UFMG acredita que, levado adiante, com a necessária seriedade, o REUNI pode alavancar, em muito, o parque universitário federal. Certamente não deve ser visto como um procedimento uniformizado a ser aplicado indistintamente a cada uma das Universidades que a ele se candidatarem. Os instrumentos que ele fornece, e que são muitos, deverão ser cotejados com a experiência e o percurso de cada Instituição. Visto como gerador de um modelo único, em nada contribuiria para a consecução dos fins a que visa, a saber, a crescente qualificação acadêmica e política do Sistema Federal de Ensino Superior.

Uma vez implementado, nas condições que hoje se anunciam, ter-se-á, após alguns anos, uma universidade mais qualificada, mais relevante e mais inovadora.

É nesta perspectiva que a Universidade Federal de Minas Gerais discutiu amplamente a proposta do REUNI, e é esta a perspectiva que embasa a presente proposta.

Certamente que o programa REUNI, garantidos os instrumentos que encerra, tem amplas condições para contribuir para o permanente desenvolvimento da universidade brasileira, meta compartilhada por todos nós.