Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
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No aconchego do urbano

Arquitetura e Urbanismo

O arquiteto possui formação ampla, crítica e humanista e deve estar atento à evolução da vida humana

Com a experiência de mais de 50 anos de profissão, o professor Radamés Teixeira descreve, com paciência, a história da Arquitetura no século XX, seus períodos férteis e limitadores de épocas, e garante que essa ciência inicia nova fase. Segundo ele, a Arquitetura de hoje incorpora demandas sociais e do meio ambiente que, por muito tempo, ela desprezou. A informática e as grandes alterações no comportamento do homem em sociedade motivam mudanças em antigos conceitos e referências em diversas áreas do cotidiano, e a Arquitetura – diz o Professor que atuou por mais de 30 anos na Escola de Arquitetura – está alerta.

A Arquitetura, acredita Radamés Teixeira, começa a refletir o enorme desenvolvimento tecnológico dos últimos tempos e, especialmente, as necessidades que surgiram dessa trajetória transformadora de lógicas que orientaram, durante décadas, a ocupação, quando ordenada, do espaço urbano. “Hoje, muitas pessoas podem trabalhar em casa, não precisam se submeter a grandes descolocamentos, a um urbanismo extremamente perigoso. Podem entregar o resultado de todo um dia de trabalho pela Internet”, exemplifica o Professor. Para ele, o arquiteto deve ser sensível à evolução, aconteça ela em qualquer área da vida humana.

Eber Faioli
Antes de projetar parques, Lansky troca idéias com a comunidade

O curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG é voltado para o tipo de preocupação que o professor Radamés Teixeira aponta, pois está longe de oferecer uma formação tecnicista. Aliadas às disciplinas específicas, muito ligadas às Ciências Exatas, são ofertadas disciplinas das Ciências Humanas e Econômicas. O currículo está em processo de flexibilização e isso garante uma formação ampliada e direcionada para as principais áreas de interesse do aluno, pois ele já pode optar por um grande número de matérias, além das obrigatórias.

Mesmo elogiando as alterações, que deram ao curso um leque maior de disciplinas, Maini de Oliveira Perpétuo, de 22 anos, aluna do sétimo período, ainda se ressente de mais mudanças. “Algumas matérias, principalmente as que são ligadas à Engenharia, estão um pouco desvinculadas do que o arquiteto moderno precisa”, diz ela. Mas ressalva que o curso de Arquitetura e Urbanismo é muito bem estruturado. “É o curso mais antigo de Minas Gerais e isso faz muita diferença”, assinala.

A tradição do curso também atraiu João Francisco Reis Vilela, de 24 anos. Formado no ano passado, ele lembra que, quando escolheu Arquitetura e Urbanismo, definiu que não tentaria outra escola que não a da UFMG. Filho de arquiteto, João experimentou as funções de desenhista na área muito antes de fazer o vestibular, o que lhe trouxe segurança na opção. “Eu sabia o que queria”, assinala. Apesar de trabalhar em um escritório de arquitetura, projetando, principalmente, edifícios, João revela que pretende se dedicar à área do patrimônio histórico.

O gosto nasceu da oportunidade que teve como bolsista do projeto, executado pela Escola de Arquitetura, de inventário das cidades de Ouro Preto e Mariana, no qual cerca de 1.800 imóveis foram radiografados por dentro e por fora. “Fizemos um levantamento completo dos imóveis, com informações detalhadas sobre o interior e o exterior das construções. Sabemos, agora, quantos cômodos têm as casas, que tipo de paredes, o que foi modificado. É um material muito importante para qualquer projeto de conservação e restauração”, acentua.

Por enquanto, João inicia a carreira fazendo projetos de prédios de apartamentos e comerciais, quando trabalha no conteúdo das construções – altura, número e dimensão de cômodos e de áreas internas e externas, detalhes da iluminação, do sistema hidráulico e elétrico, etc. É um trabalho de muitas etapas e que exige bastante agilidade e rapidez, salienta, destacando o uso permanente da computação em seu dia-a-dia. Saber lidar com computador é importante, observa João, porque a informática já está muito presente no processo de criação do arquiteto, ainda que o uso deva ser equilibrado, para não cercear a criatividade do profissional.

Eber Faioli
João Francisco pretende se dedicar à area de patrimônio histórico

João destaca a importância múltipla, crítica e humanista da formação do arquiteto e urbanista, para que o profissional saiba se posicionar e se orientar diante das imposições do mercado. “A gente não constrói para vacas ou cachorros e, por isso, temos sempre que intervir com segurança para que um projeto não leve em conta apenas aspectos financeiros de uma obra, que são importantes, mas não são tudo”, diz. A criatividade e a atenção, além de demandas puramente financeiras, norteiam o trabalho do arquiteto Samy Lansky, formado há 18 anos pela UFMG. Logo que saiu da Escola, ele viajou para Israel, para trabalhar num escritório de Arquitetura, incentivado por um programa do Governo daquele país.

Apesar da intenção inicial, Lansky não ficou muito tempo nesse escritório e acabou se desvinculando da Arquitetura por muitos anos, até que voltou para o Brasil. Chegando aqui, recebeu convite para projetar um parque infantil num clube. Foi a partir desse trabalho que as portas se abriram para uma área ainda pouco explorada, avalia o arquiteto, atualmente um especialista em projetos de parques e praças em locais públicos e em escolas. Faz parte do seu processo de criação ouvir e trocar idéias com o público, a partir de oficinas de arte.

Para projetar tanto os parquinhos de escolas de classe média alta quanto uma praça em favela ou na periferia de Belo Horizonte, Lansky interage na comunidade, realizando previamente atividades que estimulem os principais interessados a reivindicar, por exemplo, os tipos de brinquedos e outros equipamentos que devam constar do projeto e até o tipo de decoração predominante. Na região do Barreiro, na Capital mineira, uma praça ligada à Vila Independência está na última fase de construção.

Lá, os moradores participaram de uma oficina de imagem e arte, quando as crianças desenharam como queriam a praça e, também, os adultos listaram em cópias da planta da área o que gostariam de ver construído. “A participação das comunidades nesses projetos faz com que as pessoas usem o local de forma diferenciada, mais carinhosamente, tomando conta do lugar, ajudando a mantê-lo”, defende Lansky, apontando o compromisso social como uma das características mais importantes da profissão. “Nós estamos num país pobre e cada um tem a obrigação de tentar mudá-lo”, conclui.