Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
Abstração nas ordenadas e disciplina nas abscissas
Foca Lisboa |
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Este ano, o escriturário Petrônio de Souza Oliveira fará, pela terceira vez, inscrição para disputar uma vaga no curso de Matemática. De família pobre e sem condições de pagar cursinho, ele continuará a estudar sozinho e não desistirá do desejo que cultiva há anos. “Vou tentar de novo, porque quero ser professor de Matemática”, garante. A persistência de Petrônio terá que acompanhá-lo quando ele, enfim, conseguir superar a barreira do Vestibular, pois o futuro profissional deve estar disposto a quebrar barreiras e estigmas. Afinal, a Matemática foi tradicionalmente inserida na lista dos mais terríveis monstros do Ensino Fundamental, Médio e, não raramente, também no Superior.
Não é à toa que muitos estudantes sofrem ao acreditar que a Matemática é para grandes gênios e ponto final. Petrônio desmente a tese e lembra que as dificuldades que, até agora, o impediram de entrar para a Universidade atendem pelo nome de Português, História e Inglês. “Matemática e Física nunca foram problema. No colégio, eu passava nessas disciplinas sem precisar estudar”, lembra, contando que mudará de tática neste ano. A idéia é se preparar mais para a segunda etapa. “Eu fico preocupado com a primeira etapa e, quando chego à segunda, não tenho tempo suficiente para estudar”, justifica.
Assim como Petrônio, Renato Rocha Vierno Zanforlin, de 21 anos, aluno do sétimo período do Bacharelado em Matemática, teve a ajuda de um professor da disciplina para desfazer mitos que a cercam. “Foi meu professor no colégio que me influenciou na escolha do curso. Ele tinha um jeito diferente e instigante de ensinar. Eu adorava e, embora não tivesse grandes notas, achava que seria capaz de enfrentar o Vestibular e de me dar bem na Faculdade”, lembra.
Eber Faioli |
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Renato Rocha: Matemática está em contato com diversas outras áreas e cursos |
Prestes a se formar, Renato aponta como a principal vantagem do curso a abrangência. “Nós estamos em contato com várias outras áreas, tanto que muitos que escolhem o Bacharelado fazem, depois, Pós-Graduação em Estatística, Economia, Ciência da Computação e outros cursos em que a Matemática é um conhecimento e uma ferramenta importante”. Segundo ele, o curso da UFMG requer muita disciplina para compreender a Matemática de uma forma bem diferente da que é apresentada na maioria dos colégios de segundo grau, mas o esforço é compensado. “A gente tem que fazer o que gosta e, quando isso acontece, você consegue superar qualquer coisa”, garante.
O curso de Matemática é diurno (50 vagas por ano) e noturno (40 vagas). O Coordenador do Colegiado, professor Antônio Zumpano Pereira Santos, lembra que os alunos do diurno optam pelo Bacharelado ou pela Licenciatura apenas no terceiro período. Já no noturno, a Licenciatura é a única escolha. Mas todos os alunos têm a oportunidade de estender a formação, fazendo a segunda escolha depois de formado na primeira. “Ninguém precisará enfrentar novo Vestibular para isso”, explica. A continuidade de estudos é comumente adotada pelos alunos de Licenciatura porque, acredita o Professor, eles ficam muito preocupados com o mercado de trabalho e querem garantir uma primeira habilitação – dar aulas no Ensino Fundamental e Médio. Depois, caso se interessem pela pesquisa e por lecionar no terceiro grau, partem para o Bacharelado mais seguros.
Essa é a intenção de Leonardo Gonçalves Rimsa, de 22 anos, do sétimo período de Licenciatura diurno. “Eu quero me aprimorar na Matemática e estou pensando em fazer também o Bacharelado, mas acho que o mercado de trabalho se abre mais rapidamente para quem faz Licenciatura”, opina. Ele conta que gosta muito da área de pesquisa básica e, por isso, é bolsista de Iniciação Científica num projeto coordenado por Zumpano. A pesquisa é uma possibilidade bastante concreta para quem cursa Matemática, especialmente o Bacharelado. “A pesquisa na Matemática está muito bem consolidada, inclusive porque não é das mais caras”, afirma o Professor.
Historicamente, a Licenciatura tem sido a preferência da maioria dos alunos no terceiro período diurno. Dos 50 que passam no Vestibular, cerca de 20% se encaminham para o Bacharelado. Na opinião de Zumpano, a escolha tem lançado no mercado profissionais mais conscientes e que, ressalta, certamente, têm uma postura diferente de antigos professores, que só faziam assustar os alunos. Na Licenciatura, é muito significatica a carga de matérias didático-pedagógicas cumpridas na Faculdade de Educação.
Eber Faioli |
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Leonardo Rimsa: aprimoramento na união entre Licenciatura e Bacharelado |
“A educação-matemática foi algo muito estudado nesta última década”, conta o Professor. Ele lembra que esse tipo de interesse ajuda a formar profissionais que terão muito menos problemas com seus alunos, se comparados aos professores do passado. O ensino da Matemática é um desafio milenar que, no Brasil, foi e tem sido enfrentado por muitos educadores e pesquisadores defensores da idéia de que as dificuldades apresentadas por alunos são, na maioria das vezes, de origem metodológica. “Nem sempre é fácil iniciar os alunos em processos hipotéticos dedutivos, quando eles são obrigados a concluir verdades supostas e não verdades experimentais. O aluno da Matemática tem obviamente que ter grande facilidade de raciocínio e abstração, porém a discussão que se faz é se essa ciência apresenta, realmente, um alto grau de dificuldade ou se é um problema até de estrutura dos cursos e de didática”, polemiza Zumpano.