Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

Assistência ao Estudante
Conforto de lar

Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
Campus aberto

Espaços da UFMG
Sua nova cidade

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Agronomia
Medicina Veterinária

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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UFMG Diversa
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Outras edições

Entrevista

UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

Ana Lúcia Almeida Gazzola

Em seu segundo ano de mandato, a Reitora Ana Lúcia Almeida Gazzola fala de uma instituição de qualidade, de padrão internacional e voltada para a formação cidadã de seus alunos. Flexibilização dos currículos, inclusão social e perspectivas que se abrem para os futuros universitários são temas também abordados e convidam o leitor a entrar no universo dinâmico que é a Universidade Federal de Minas Gerais.

Diversa – Entrar para a Universidade significa, para o estudante, uma ruptura do processo educacional que ele vive ou uma continuidade?

Ana Lúcia - A Universidade é continuidade no sentido de que a formação das pessoas é permanente, constante. Hoje, na sociedade do conhecimento, a pessoa tem de estar formada de maneira que possa aprender a continuar aprendendo. É um processo permanente e não existe uma etapa concluída. Por outro lado, é uma descontinuidade, pois, na Universidade, o que se procura é equipar a pessoa para que ela continue a se educar sozinha. Aqui, o estudante terá à disposição enorme massa de informações e estará percorrendo caminhos a partir das informações geradas por outros centros produtores de saber. A Universidade precisa ser, ainda, o lugar da formação cidadã. Ela é o lugar da reflexão crítica mais aguçada, da contradição teórica produtiva.

Foca Lisboa

Diversa – O projeto de flexibilização dos cursos atende a esse propósito?

Ana Lúcia - A UFMG é a única Universidade brasileira que tem um projeto de flexibilização curricular com normas claras. A Universidade tem buscado substituir o conceito de curso por disciplinas pelo conceito de curso por atividades formadoras. E é por isso que ela está se preparando mais para a empregabilidade e não apenas para o emprego, para o conhecimento em perpétua transformação. Ela tem de se formar de maneira flexibilizada porque, hoje, cada vez mais, a melhor abordagem é a da interdisciplinaridade, a da transdisciplinaridade. Com a flexibilização, o aluno de Graduação da UFMG não terá contato apenas com seu campo disciplinar específico; ele vai se relacionar com vários campos e, nessa aproximação com outras disciplinas que não as dele, terá uma formação mais complexa, sofisticada. O objetivo é desenvolver a capacidade de aprender, de transformar, de reconhecer prioridades, de exercitar a capacidade criativa e de reagir a situações diferenciadas, de estar na sociedade de uma forma solidária, inclusiva e generosa.

Diversa – A escolha convicta da profissão, aos 17 anos, é rara. O que a Universidade pode fazer para ajudar na maturação da escolha feita?

Ana Lúcia - Quando olho, hoje, minha trajetória profissional, percebo que poderia ter feito outra opção. Fiquei muito tempo na dúvida entre Letras e Direito. Fiz a escolha profissional em pleno regime militar, quando a Ditadura colocava um enorme ônus na área do Direito, e meu pai, advogado, ficava preocupado com o meu lado emocional, se eu não passaria por um sofrimento grande demais vivendo a profissão do Direito num Estado que não era democrático. Como eu gostava igualmente de literatura, acabei optando por Letras. Fui muito feliz na minha carreira, mas não tenho certeza de que fiz a melhor escolha. Hoje, certamente, escolheria Direito. Só que a vida é assim mesmo. Quem sabe, se tivesse escolhido Direito, não estaria dizendo, neste momento, que escolheria Letras? Acho que as escolhas são feitas na vida com as circunstâncias de cada momento. Mas como a Universidade tem procurado abrir seus currículos, torná-los mais flexíveis, ela poderá permitir ao estudante redirecionar suas opções.

Diversa – Com relação à inclusão social, como a Senhora acha que esse projeto vai mudar o perfil da Universidade?

Ana Lúcia - Existe, no Brasil, uma grande necessidade de ampliação das vagas no Ensino Superior. O atendimento que o País presta aos jovens de 18 a 24 anos no Ensino Superior é de apenas 12%, o que é extremamente baixo, mesmo comparado com outros países em desenvolvimento ou até outros que estão vivendo crises piores que a brasileira. Na Argentina, por exemplo, esse atendimento é de quase 30%. É importantíssimo ampliar esse número, mas sabemos que a ampliação tem que significar, também, maior democratização, do acesso. Os cursos noturnos permitem essa maior democratização porque incluem o aluno que precisa trabalhar, e é fundamental que a Universidade Pública de qualidade se abra e crie condições para esse aluno. Além disso, as vagas do noturno indicam um percentual muito maior de alunos egressos da rede pública e maior possibilidade de inclusão étnica. Hoje, temos 40% dos alunos egressos da rede pública, mas, quanto mais crescermos no noturno, maior será o percentual desses alunos. Na UFMG, as vagas do noturno representam cerca de 17%. Na USP, esse índice é de 30%. Então, precisamos mudar esse quadro.

“A Universidade precisa ser, ainda, o lugar da formação cidadã. Ela é o lugar da reflexão crítica mais aguçada, da contradição teórica produtiva.”

Diversa – Que outras mudanças essa inclusão trará?

Ana Lúcia - É muito importante que a Universidade, paralelamente a esse movimento, amplie seus instrumentos de assistência, de apoio ao estudante em condições econômicas precárias. Daí, a importância dos programas da Fundação Mendes Pimentel, por meio dos restaurantes, da moradia universitária, das bolsas de apoio aos estudantes, da assistência à saúde, dos laboratórios de letramento digital. Acredito que o perfil do aluno da UFMG é cada vez mais, um perfil adequado às variações sociais do Brasil. Além da questão quantitativa, é preciso que o atendimento seja o mais qualificado possível. E isso o sistema público de Universidades Federais tem feito. Todos os indicadores acadêmicos apontam que as melhores Universidades brasileiras são as públicas. É preciso fazer uma expansão com inclusão social, buscando-se a inclusão étnica, de todos os grupos que têm direito a ter acesso à Universidade pública.

Diversa – O que o estudante pode esperar de uma Universidade que oferece muito, mas também lida com as carências do setor público?

Ana Lúcia - O aluno que entra na UFMG está numa das melhores Universidades do País, de padrão internacional em inúmeras áreas e com um belíssimo campus. Há problemas, mas é uma Universidade que está, neste momento, construindo cinco prédios e um novo complexo de moradias. Isso não acontece em nenhuma outra Universidade Pública no Brasil. Se ele compara a UFMG com as outras Universidades brasileiras, percebe que está numa instituição onde há uma formação de altíssimo nível, o que o tornará muito competitivo no mundo do trabalho. Agora, ele tem de saber, também, que pode ter problemas, que há carências, como em todos os lugares. Não consigo ver no ensino privado nenhuma Universidade que, como conjunto, dê uma formação de qualidade como a nossa. As instituições privadas não têm bibliotecas como as nossas, não têm laboratórios do mesmo nível, não dispõem da quantidade de professores com Mestrado e Doutorado que temos, não têm a mesma capacidade de oferta de bolsas de Graduação, de Extensão e de Iniciação Científica. Não há comparação possível. Quando olhamos os resultados do Provão – e eu não estou defendendo o Provão – vemos um reflexo da qualidade da UFMG. Quando observamos, também, os conceitos da Pós-Graduação, comprovamos a qualidade da UFMG. O índice de titulação da Universidade é de 99%, o maior do País, seguido da USP, com 75%. Conhecendo os nossos indicadores acadêmicos, não há a menor dúvida de que estamos entre as cinco melhores Universidades do País.

Diversa – Como a UFMG trata a questão dos intercâmbios com outros países?

Ana Lúcia - Nossa gestão tem feito grande esforço no sentido de internacionalizar a Graduação. Na Pós-Graduação, esse é um processo muito mais fácil, acontece normalmente entre professores e alunos. Mas, na Graduação, isso é muito mais complicado, mesmo porque os estudantes não têm informação e formação suficientes para, sozinhos, procurar as oportunidades. Então, é muito importante que haja programas institucionais, em que os estudantes possam ser acompanhados, possam ter supervisão. Estamos fazendo grandes investimentos para que a Diretoria de Relação e Cooperação Internacional tenha, cada vez mais, programas sólidos de intercâmbio. Temos convênios com várias Universidades na América Latina, nos Estados Unidos, na Europa. Mas, também, temos nos preocupado com o intercâmbio aqui no Brasil.

Diversa – Como a senhora avalia o atual Governo e, em especial, a política do Ministério da Educação para as Universidades?

Ana Lúcia - Em termos de relacionamento das Universidades Federais com o MEC e os demais Ministérios do Governo, acho que houve uma melhoria extraordinária. Hoje, temos condições de diálogo com o Ministério, temos podido discutir projetos, somos bem recebidos, de forma respeitosa. Nisso, houve uma grande mudança, porque a relação com a cúpula do Ministério passado sempre foi muito difícil. Entretanto a política do Governo preocupa, principalmente a proposta de Reforma da Previdência Social. Ela tem impacto muito grande nas Universidades Federais. Em 2002, tivemos 145 aposentadorias e, só nos quatro primeiros meses deste ano, já tivemos 106. Esse fenômeno se repete em todas as instituições públicas. Isso significa uma enorme perda, porque essas pessoas foram formadas com recursos públicos, constituem um verdadeiro patrimônio intelectual e científico do País. E, saindo das Universidades públicas no auge da sua produtividade, elas vão se deslocar para o sistema privado, que não investiu na formação delas. O projeto de Reforma está provocando uma privatização do público, no sentido da privatização de grandes talentos, cientistas e intelectuais, que não tinham nenhuma intenção de se aposentar. Errou o Governo ao lançar uma proposta de Reforma em que não eram claras as regras de transição e que demonizou o servidor público, culpando-o pelo déficit da Previdência.