Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

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Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
Campus aberto

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Sua nova cidade

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Outras edições

Axônios e dendrites em plena carga

Filosofia

Curso de muita leitura ensina a pensar o mundo e sua complexidade por ângulos distintos

“Se você é alguém muito questionador, que nunca vê o mundo por um único prisma e não se satisfaz com uma primeira resposta, então é forte candidato a se dar bem no curso de Filosofia. Mas atenção! Abandone o senso comum e não pense que vai ficar divagando, sonhando e observando os problemas do cotidiano de pernas para o ar”, avisa Felipe de Paula Soares, de 20 anos, aluno do quinto período. “Quem pensa assim fica desesperado quando se depara com uma grande carga de leitura, de textos complexos, e uma necessidade de estudo enorme”, ressalta ele.

Felipe diz que sempre foi dado à reflexão e que, no segundo grau, se interessava por leituras filosóficas. Por isso, quando teve que se decidir no vestibular, não hesitou – “cravou” Filosofia. O que ele não esperava é que o curso fosse tão exigente. Para quem entra com vontade de conhecer a história da Filosofia e de que forma ela interfere em todas as outras ciências, diz Felipe, o curso não decepciona. Mas ele diz que é preciso estar consciente de que o estudante de Filosofia depende muito de si próprio.“É um curso heterogêneo, que atende a pessoas de várias outras áreas, porque tem um conteúdo que incentiva a reflexão”, salienta. No seu aprendizado, o de que ele mais gosta é a capacidade de desenvolver o raciocínio lógico e abstrato. Além disso, Felipe sente-se extremamente estimulado a analisar de maneiras distintas um mesmo problema. “Os professores nos incentivam a isso o tempo todo e o pensamento filosófico é o que nos dá amparo”, argumenta Felipe, exemplificando: “O crime é visto pela sociedade como algo patológico, mas vem um filósofo e mostra que ele é útil, em vários momentos, porque contribui para situações futuras que vão agradar a todos. Quantas pessoas foram presas ou mortas porque, em determinada época, foram consideradas criminosas ao defender a liberdade de expressão? Nesse sentido, não seria absurdo considerar o crime útil”.

No curso de Filosofia, o aluno poderá optar pelo Bacharelado ou pela Licenciatura. Em ambos, a história da ciência é uma constante, percorrendo a Filosofia Grega, Medieval, Moderna e Contemporânea. Completam o curso disciplinas como Lógica, Ontologia, Ética, Estética, Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência. O conjunto oferece uma grande base cultural e estimula o aluno à consciência crítica em relação à realidade. O currículo está sendo reformulado, mas deverá continuar atendendo a alunos com perfis e expectativas muito diferentes.

Eber Faioli

“Para mim, é difícil traçar um perfil dos meus colegas, porque percebo interesses bastante variados entre eles. Acho que essa é a principal característica do curso de Filosofia, que é capaz de agradar e ser útil às mais diferentes atuações profissionais”, resume Felipe. Ele pretende aprofundar-se no estudo da Filosofia Moderna e seu interesse maior tem sido a Psicanálise. Por isso, decidiu buscar formação complementar em Psicologia.

Até hoje, Júlio César de Oliveira, de 35 anos, é capaz de citar de cor trechos do Manual do Candidato ao Vestibular de quando disputou uma vaga na UFMG, em 1996. Influenciado pela apresentação que leu do curso e, também, por um professor do Ensino Médio, ele escolheu Filosofia, mas, hoje, aluno do Mestrado em Letras, ele aconselha: “Qualquer pessoa interessada em fazer Filosofia deveria visitar o curso, procurar saber melhor o que vai estudar, porque, assim, evitaria muitos dissabores”, salienta ele. Júlio César não é, entretanto, um desiludido com o curso que fez. “Tecnicamente, ele é muito bom, leva o aluno a um processo de erudição”, atesta, lembrando que o estudante conhecerá profundamente a história das idéias.

Júlio César ressente-se de mais incentivos à reflexão voltada para demandas existenciais e pessoais. “É um curso que tira o chão. Você não é mais capaz de pensar com o senso comum, mas, ao mesmo tempo, não consegue preencher o vazio que ele deixa”, filosofa. Além do gosto pela Filosofia, ele tem grande atração pela literatura e, por isso, decidiu continuar os estudos na Faculdade de Letras. “Vou tentar unificar meus interesses pela Filosofia e pela Literatura”, conta.

Abrangente e ocupada com a evolução do pensamento e do fazer humano, a Filosofia atrai, cada vez mais, outros cursos, que procuram embasamento teórico capaz de enriquecer práticas distintas. Daí, ser extremamente comum o estudo introdutório da Filosofia nos diversos cursos universitários e, cada vez mais, no Ensino Médio e até no Fundamental. Foi exatamente nos colégios que Isabella Ferreira Avelar, de 23 anos, encontrou espaço para trabalhar. Formada no ano passado, ela lembra que era muito introspectiva na adolescência e, por isso, acabou se envolvendo com leituras filosóficas que definiram sua opção profissional.

Hoje, professora na Escola Estadual Milton Campos, ela aproveita sua própria vivência para despertar o interesse dos alunos pela Filosofia. “No início, os alunos demonstram preconceito em relação à disciplina, mas, com jeito, a gente consegue mostrar que a Filosofia tem a ver com a vida deles, que ela é útil para eles no dia-a-dia”, conta, salientando que seu principal intuito, ao cursar Filosofia, sempre foi a docência. Durante o curso, Isabella teve alguns problemas de adaptação que ela reconhece terem ocorrido especialmente pela falta de domínio de uma segunda língua. “Grande parte da bibliografia não está traduzida. Então, é importante o candidato se preparar para estudar”, assinala ela, lembrando que a Filosofia é um curso que exige muita leitura. “Mais do que um gosto, esse é um hábito que tem que ser cultivado o tempo todo, especialmente para quem deseja ser professor”, ressalta Isabella. Apesar de os formados seguirem com bastante freqüência a carreira de professor, a Filosofia tem despertado demandas que vão além das salas de aula. É comum o interesse da área empresarial. Instigados por uma sociedade mais competitiva e, portanto, por consumidores mais exigentes, empresas buscam padrões de questionamento da própria atividade. Para tanto, muitas delas incentivam a realização de seminários e encontros de funcionários para discutir, por exemplo, ética, sob a orientação de filósofos.