Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
No encalço da energia
O futuro engenheiro eletricista Marcelo de Lima Vasconcellos não fugiu à regra e teve o mesmo tormento que incomoda nove entre dez formandos do Ensino Médio. “Aos 17 anos, você se sente muito imaturo para saber o que vai escolher no Vestibular”, avalia. Dúvidas esquentaram-lhe a cabeça durante quase todo o curso, mas, aos 24 anos, prestes a se formar, Marcelo abandonou as incertezas porque, com criatividade, acabou direcionando sua própria formação. Ele será o primeiro aluno da Engenharia Elétrica a se habilitar em Fontes Alternativas de Energia, com enfoque em tecnologia, meio ambiente e planejamento.
Eber Faioli |
A guinada que Marcelo deu é fruto da sua própria persistência, mas só foi possível graças à flexibilização do currículo, uma mudança inovadora dos parâmetros do Ensino Superior. A flexibilização permite que o aluno tome as rédeas de sua formação, montando um currículo de acordo com seu interesse na área. Para isso, ele pode fazer o que Marcelo fez: incorporar um grande número de disciplinas das mais diferentes Unidades Acadêmicas, modelando, desde que com coerência, o seu curso e, em conseqüência, o futuro profissional que será.
O engenheiro eletricista é capaz de lidar com todo o percurso que envolve a energia elétrica, uma força que não existe in natura, mas que precisa ser gerada, processada e transmitida em diferentes formas – como hidráulica, solar, nuclear ou eólica. O campo de atuação é vasto: no planejamento e na execução dos serviços das companhias energéticas, nos sistemas de comunicação e telecomunicações, nos projetos e no controle de energia elétrica em residências, comércio e parques industriais, etc.
No curso de Engenharia Elétrica, explica o Coordenador do Colegiado de Graduação, professor Alessandro Fernandes Moreira, quando o aluno chega ao sétimo período, tem de optar por uma das cinco especializações existentes – Sistemas de Energia Elétrica, Computação, Controle de Processos, Eletrônica de Potência e Telecomunicações.
O currículo flexibilizado permitiu que a “escolha obrigatória” de Marcelo não ficasse restrita às cinco especializações e, muito menos, às paredes da Engenharia Elétrica. Para se formar em Fontes Alternativas de Energia, ele fez aulas na Engenharia Mecânica, na Arquitetura, na Biologia, na Geografia e até nas Pós-Graduações em Ecologia e Engenharia Nuclear. “A chave da formação aberta é a transdisciplinaridade. Ela te ajuda a explorar todo o teu potencial dirigido para determinada área”, afirma Marcelo.
Ele garante que, só após descobrir a possibilidade de se virar de uma forma diferente na UFMG, se tranqüilizou em relação à profissão. Por duas vezes, Marcelo pensou seriamente em abandonar o curso e só não o fez porque decidiu por uma pequena pausa. Viajou para a Espanha e lá fez um estágio em Saragoza, trabalhando numa empresa de máquinas para a construção civil, com tradução de manuais técnicos, e numa outra de instalação de antenas de TV digital. “Nos primeiros períodos, a Matemática e a Física são muito maçantes e isso incomoda”, diz ele.
Para o estudante de Mestrado Natanael Zanata Braga, de 30 anos, o problema está no fato de essas disciplinas serem aplicadas por professores do Instituto de Ciências Exatas e não pelos da Engenharia, sob uma ótica mais dirigida. “Vi colegas desistirem por isso, mas não faz sentido, porque é apenas uma fase, possível de ser superada”, acredita ele, outro exemplo de persistência e um dos raros estudantes a se definir com segurança na adolescência. “No primeiro ano científico, eu já sabia que faria Engenharia Elétrica”, lembra.
Apesar de o curso ser bastante apertado, Natanael conseguiu trabalhar durante a Graduação. “Foi um período muito difícil”. Iniciante no Mestrado, ele sabe que a pesquisa em Engenharia não é um ramo fácil, pois o Brasil praticamente não investe no desenvolvimento de tecnologia nessa área, importando grande parte dos equipamentos. “Por isso, depois de se especializar, tendenciosamente você acaba virando professor”, diz.
Foca Lisboa |
Laboratório de Energia Nuclear: alunos têm chances permanentes de envolvimento com pesquisa |
Ele admite, porém, que o mercado de trabalho no setor privado, junto a empresas e indústrias, começa a requisitar profissionais mais bem qualificados, pois é uma área onde a tecnologia é moderníssima e envolve quase sempre grandes corporações. Doutor pela Wisconsin University, o professor Alessandro Fernandes Moreira acredita que a demanda por especializações no mercado de trabalho, além da docência é uma questão de tempo. “Também na Engenharia Elétrica, o panorama vai mudar muito, como em outras áreas onde o Mestrado e o Doutorado são uma exigência para quem está trabalhando na aplicação da ciência”, ressalta.
Ele destaca que a escolha de uma carreira nunca deve ser norteada unicamente pelo mercado. “As pessoas têm que estar atentas às aptidões, para não se frustrarem”, diz, lembrando que os alunos da Graduação têm chances permanentes de envolvimento com pesquisa. “Temos vários programas especiais e projetos de Iniciação Científica. E não só na Elétrica, porque os alunos são chamados para participar em outros cursos afins”, ressalta. O Departamento de Engenharia Elétrica tem tanto o Mestrado quanto o Doutorado e os alunos da Graduação podem se matricular em disciplinas da Pós-Graduação.
Na avaliação de Alessandro Moreira, a Graduação da UFMG é responsável pelos mais competentes profissionais do mercado. “Os alunos têm uma base conceitual muito boa, temos bons laboratórios e o curso é bem mesclado com teoria e prática”, assinala. Nos concursos em grandes empresas, os egressos da UFMG estão sempre entre os contratados. A Engenharia Elétrica é um curso diurno – há dias em que os alunos têm aula pela manhã e à tarde. O currículo padrão pode ser integralizado em cinco anos.