Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

Assistência ao Estudante
Conforto de lar

Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
Campus aberto

Espaços da UFMG
Sua nova cidade

Ciências Agrárias
Agronomia
Medicina Veterinária

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

Ciências da Saúde
Educação Física
Enfermagem
Farmácia
Fisioterapia
Fonoaudiologia
Medicina
Odontologia
Terapia Ocupacional

Ciências Exatas e da Terra
Ciência da Computação
Ciências Atuariais
Estatística
Física
Geologia
Matemática
Matemática Computacional
Química

Engenharias
Engenharia Civil
Eng. Controle e Automação
Engenharia de Minas
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Metalúrgica
Engenharia Química

Ciências Humanas
Ciências Sociais
Filosofia
História
Pedagogia
Psicologia

Ciências Sociais Aplicadas
Administração
Arquitetura e Urbanismo
Biblioteconomia
Ciências Contábeis
Ciências Econômicas
Comunicação Social
Direito
Geografia
Turismo

Lingüística, Letras e Artes
Artes Cênicas
Belas-Artes
Letras
Música

UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Uma meta social pela frente

Odontologia

Com uma das mais avançadas odontologias do mundo, o Brasil ainda é um campo aberto para a atuação dos dentistas

Uma Odontologia que privilegia a prevenção e a saúde. Esse é o modelo de atuação que o dentista Mário Favato persegue há 25 anos, numa trajetória que guarda coerência com o adolescente que optou pela carreira depois de enfrentar oito vestibulares para Medicina. Ao contrário do que pode parecer, a Odontologia na vida de Favato não é fruto da frustração, mas da descoberta que derrubou o mito de uma única escolha e do encontro que evidenciou habilidades e enorme disposição para o aprendizado.

Foca Lisboa

Quando decidiu mudar de rumo, Favato seguiu o conselho de um amigo e não imaginava como se realizaria com a nova escolha. O segundo ano do curso foi decisivo para ele e, não por acaso, foi o momento em que começou a ver e a sentir na prática o que a Odontologia tinha para lhe oferecer. “O contato com o paciente me mostrou que eu seria um bom profissional. Eu estudava muito. Ia para a Faculdade às sete horas e só voltava à noite”, recorda.

A dedicação e a paciência, ressalta Favato, são características que o dentista terá que cultivar em toda a sua vida profissional. Dedicação, porque é um eterno aprender a lidar com novas técnicas, novos materiais, novas realidades de mercado. E paciência, porque a prática exige um cuidado exagerado, tanto em relação à multiplicidade das relações a que os dentistas estão sujeitos – “cada um que senta no consultório tem um modo de ser diferente, e você tem que se entender com todos” –, quanto no fazer. “O trabalho do dentista é muito artesanal, é dente a dente. Muitas vezes, é preciso ficar com um único paciente por quatro horas”, diz.

A dentista Laura Carvalho Agostini, 25 anos de profissão, lembra que, durante muito tempo, a Odontologia não se preocupou com a saúde, mas com a doença e, por isso, ainda é hegemônica, inclusive entre muitos profissionais, a idéia de que os dentistas existem para “fechar e abrir buracos”. Lutar contra essa concepção e contra uma dinâmica que só enxerga no paciente o dente, acredita ela, é um dos mais importantes desafios que se impõem ao profissional de hoje.

“Mesmo com a necessidade da especialização, o dentista tem que ter uma visão global. Não pode ficar lidando só com o dente, como se a saúde bucal do paciente não tivesse a ver com as condições sociais, econômicas e culturais em que ele vive. Quem for alienado está fadado a abrir e a fechar buraco. É preciso que o profissional escolha o seu lado”, insiste Laura, que, como Favato, ressalta como melhor caminho o da Odontologia Social, o de uma ciência voltada para a saúde e não, para a doença.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geoestatística, 30 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista. As conseqüências são óbvias. Estima-se que 40% da população,aos 53 anos de idade é constituída de desdentados . Em várias capitais brasileiras, o índice de cáries em crianças aos 12 anos é maior do que o dobro do admitido pela Organização Mundial de Saúde. Os números assustam, porém estampam a realidade de uma cultura, que somente há muito pouco tempo, começou a tratar a saúde bucal como um caso de saúde pública.

Com 40 anos de profissão, Carlos Roberto Martins conhece a realidade, mas não se fecha numa visão pessimista da profissão. Ao mesmo tempo que sofre com os prejuízos causados pela falta de assistência ao povo, o País pode orgulhar-se de possuir uma das mais avançadas odontologias do mundo. “Temos que nos voltar para a saúde coletiva, usar a tecnologia a nosso favor e acabar com a relação desequilibrada existente entre número de dentistas e região”, defende. A Faculdade de Odontologia, diz o Coordenador do Colegiado de Graduação, professor João Henrique Lara do Amaral, trabalha na direção da saúde pública, ao adotar uma política de ensino, de pesquisa e de extensão que privilegia a solução das principais necessidades da população brasileira. “Formamos generalistas, que são capazes de resolver a maior parte dos problemas odontológicos, e batemos na tecla de que o dentista tem de se colocar sempre como parte de uma equipe de saúde”.

Segundo o Professor, essa preocupação é essencial para a mudança de uma cultura que ainda vê esse profissional como responsável apenas pela aparência dos dentes. “A saúde bucal envolve todo o sistema de mastigação, a mucosa dessa região, os tecidos de suporte dos dentes, osso, gengiva. Nossa área de atuação é de importância fundamental para o bem-estar das pessoas, porque é por onde elas se comunicam, interagem no mundo”, diz João Henrique. Para ele, a saúde bucal está intimamente ligada à saúde em geral. “Cuidando de uma, você estará cuidando da outra”, assinala.

Foca Lisboa
Elizabeth Alfenas: garantindo vida melhor para mutilados na região da cabeça e do pescoço

“Temos que socializar a evoluída tecnologia que possuímos, e isso só é possível por meio de políticas públicas. O dentista, como membro de uma equipe de saúde, tem que lutar por isso”, insiste o Professor, ressaltando que, quando adotadas, as políticas de saúde pública mostram eficácia. O Programa de Saúde da Família (PSF), adotado pelos governos federal, estadual e municipal, previa, até bem pouco tempo, que, para cada duas Equipes de Saúde da Família, formadas por um médico, um enfermeiro e agentes de saúde, poderia existir apenas uma Equipe de Saúde Bucal. Uma nova determinação se refletirá no atendimento à população e, ao mesmo tempo, no mercado de trabalho dos profissionais. Agora, os municípios podem implantar uma Equipe de Saúde Bucal para cada Equipe de Saúde da Família, não sendo necessário manter a antiga origatoriedade. Atualmente, existem cerca de quatro mil Equipes de Saúde Bucal em atividade no País.

O professor João Henrique lembra que a ênfase dada pela Faculdade de Odontologia na formação do generalista não caracteriza um preconceito em relação à especialização, uma outra realidade do mercado de trabalho. “Cada vez mais os dentistas estão se especializando e desenvolvendo técnicas extremamente inovadoras e avançadas”, diz ele, ressaltando que a Escola se preocupa com essa situação e demonstra isso nos seus programas de extensão e de pesquisa. A professora Vera Lúcia Resende, por exemplo, coordena o atendimento na clínica de pacientes com deficiências neuropsicomotoras e que, muitas vezes, precisam de imobilização anestésica para serem assistidos.

Essa atividade é desenvolvida com a ajuda de alunos da Graduação, que estão presentes, também, em outros laboratórios especializados, como o de Prótese Maxilofacial, coordenado pela professora Elizabeth Alfenas. Ali, são atendidos pacientes mutilados na região da cabeça e do pescoço – com danos causados por tumores, acidentes ou problemas de má-formação genética – e que precisam, para terem uma vida normal, de próteses feitas com extrema habilidade.

A especialização é uma exigência do mercado de trabalho, avalia a ex-aluna da UFMG, Gisele Cabral da Costa, mas deve ser entendida como uma necessidade ligada à formação básica. “O que sinto é que, hoje, existe dificuldade em se fazer um diagnóstico completo, que perceba o paciente de forma integrada”, assinala Gisele. Ela especializou-se durante sete anos, mas acredita que um profissional só será completo se conhecer todas as demandas da população brasileira. “Ele precisa conhecer para dialogar com os outros profissionais e oferecer um diagnóstico integral”, defende.