Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

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Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
Campus aberto

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Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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Expediente

Outras edições

Iniciação científica

As primeiras interrogações ninguém esquece

Milhares de estudantes encontram na ciência o caminho para o exercício profissional

Ao entrar para o curso de Comunicação Social, Verônica Teodoro Pimenta, de 22 anos, tinha vago sentimento do caminho que trilharia. Ela sonhava com a prática, mas pretendia privilegiar a reflexão sobre seu próprio fazer. A intuição de que se daria bem como pesquisadora na área foi reforçada na convivência, inicialmente como voluntária, em projetos desenvolvidos no curso. No quinto período de Jornalismo e Radialismo, Verônica carrega uma certeza. “Antes, a idéia de fazer Mestrado era algo abstrato. Hoje, não tenho dúvidas e coleciono temas e problemas com os quais gostaria de trabalhar”.

Eber Faioli

Verônica e mais cerca de 1.300 alunos da Graduação, de todas as Unidades, fazem parte de programas de Bolsas de Iniciação Científica, um estímulo criado, há décadas, na Instituição para o envolvimento dos estudantes em projetos de pesquisa. A Iniciação Científica, diz o Pró-Reitor de Pesquisa, José Aurélio Garcia Bergmann, é o fermento que faz crescer o bolo da Pós-Graduação. Levantamento realizado no ano passado confirma a tese. Na UFMG, nos últimos seis anos, uma média de 42,8% dos alunos que participaram da Iniciação Científica ingressaram na Pós-Graduação da própria Instituição.

É um índice bastante alto, principalmente quando se considera que centenas continuam os estudos também em outras universidades. A iniciação científica é um passo dado por milhares de estudantes comprometidos com a própria formação. Na grande maioria dos cursos, o incentivo financeiro à inserção num projeto de pesquisa é concedido desde muito cedo. As bolsas ajudam os alunos a se definir, mas a presença deles nos programas mostra que esse não é o único nem o principal motivo para a escolha. Centenas de estudantes dedicam-se como voluntários às pesquisas na UFMG e constituem, pelo menos, o dobro do número de bolsistas.

“O número oficial de voluntários nas pesquisas é de pouco mais que 500, mas sabemos que é um número muitíssimo subestimado, porque o levantamento se baseou em respostas espontâneas de e-mails enviados aos professores”, afirma Bergmann. Ele garante que os alunos de Graduação marcam ponto em praticamente todas as pesquisas realizadas na Universidade. “Dificilmente você encontrará uma pesquisa sem a participação de um estudante”, salienta.

A história da Iniciação Científica na UFMG remonta à década de 60. Quando o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) foi criado, em 1966, seu primeiro regulamento previa bolsas de pesquisa destinadas aos alunos. Tal política foi reforçada, três anos mais tarde, com o surgimento do Conselho de Pós-Graduação. No início, a participação dos estudantes na produção de pesquisas ocorria de forma mais difusa. O quadro mudou bastante quando surgiu, em 1988, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Pouco mais tarde, também a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) adotaria medida semelhante, disponibilizando bolsas para estudantes da UFMG. Essas duas iniciativas projetaram outras, como o Programa de Aprimoramento Discente (PAD), sustentado com recursos da própria Universidade. Juntas, diferentes frentes garantem aos alunos, atualmente, quase 1.300 bolsas, cujo valor unitário é de cerca de R$ 240, para que eles trabalhem diretamente com pesquisa.

A Iniciação Científica, ressalta o Pró-Reitor de pesquisa, está totalmente consolidada na UFMG e vem crescendo de importância na vida acadêmica do graduando a cada ano. É da essência da Instituição despertar no aluno o gosto pela pesquisa, mas é certo que, freqüentemente, o acesso a tal área é uma aspiração de quem pretende entrar para a Universidade. Foi assim há 30 anos, com o professor Alfredo Gontijo de Oliveira, do Departamento de Física, Doutor formado na Alemanha e ex-bolsista na Graduação e no Mestrado concluídos na UFMG. “Quando entrei para o curso, minha rota já estava definida”, lembra ele, para quem a Iniciação Científica foi “decisiva” na sua formação.

“Eu estaria nesse caminho de qualquer jeito, mas começar na Graduação foi um grande facilitador. A experiência me ensinou a fazer pesquisa”, constata. Os anos só reforçaram em Gontijo a convicção da necessidade da prática da pesquisa na atividade acadêmica. A diferença, segundo ele, é que, na época em que se graduou, a Universidade tinha como desafio o estabelecimento da cultura de pesquisa, uma tarefa inteiramente cumprida. “Agora, a demanda é outra. Os profissionais das diversas áreas precisam ter sólida relação com a pesquisa como condição para toda e qualquer prática profissional”, sustenta.

O caráter da formação profissional mudou, de acordo com o Professor. “Costumo dizer que o mundo vai acabar em eventos”, brinca. O humor aponta para uma questão séria e há muito discutida na Universidade, porém sem consenso. Para Gontijo, os tempos provaram que o aprimoramento do aluno somente na sala de aula é algo anacrônico e, por isso, não se podem desprezar as diferentes formas disponíveis de aprofundamento dos estudos. Portanto, defende ele, as participações diferenciadas deveriam ser reconhecidas nos currículos e somar créditos, assim como a inserção em projetos de pesquisa.

O conflito em torno do assunto, salienta Gontijo, não é ruim, é apenas fruto do dinâmico embate entre progressistas e conservadores de qualquer instituição. “A Universidade avança, mas sem colocar sua existência em risco”, pondera. Pelas mãos desse mestre, o doutorando Holokx Abreu Albuquerque, de 31 anos, concluirá o curso nos próximos dois anos. Serão quase dez anos dedicados à pesquisa, contabiliza ele, também ex-bolsista de Iniciação Científica na Universidade Federal de Viçosa, onde entrou para um dos programas de bolsas a partir do quarto período.

Por duas vezes, Holokx buscou outra alternativa profissional, a Engenharia Elétrica. Não passou no Vestibular da UFMG e acabou acolhendo a Física na UFV. A opção só teve gosto verdadeiro de vitória quando a pesquisa se incorporou às suas atividades no curso. “A partir daí, me convenci de que era isso mesmo que queria fazer e todo o meu esforço passou a ser para me tornar um pesquisador”, conta. Do quarto ao sétimo períodos, Holokx se beneficiou com bolsas que garantiram sua participação em projetos, sempre ligado a um mesmo professor. Passar pela Iniciação Científica, assegura, foi o que o incentivou a seguir carreira, ingressando no Mestrado e no Doutorado.

Foca Lisboa
Alfredo Gontijo (centro): pesquisa é condição essencial para atividade acadêmica

“Para ser pesquisador em Física não basta ter Mestrado. Tem de ter Doutorado e até Pós-Doutorado”, assinala Holokx, planejando um futuro próximo, ainda como estudante, na Europa. “Não é fácil. A dedicação aos estudos é exclusiva por muito tempo, mas vale a pena”, diz. O acolhimento que teve na Graduação, por parte de alunos de Mestrado envolvidos nos projetos de pesquisa dos quais participava, ainda está fresco na memória do quase doutor. Existe uma rede solidária entre os alunos. Um ajuda o outro, ressalta, e essa relação de cumplicidade reforça os laços com a pesquisa.

No mesmo laboratório onde Holokx desenvolve seu projeto de Doutorado, trabalha Leonardo Cristiano Campos, de 22 anos, aluno do quinto período de Física. “Comecei na Iniciação Científica no terceiro período, auxiliando uma pesquisa de Mestrado”, conta. Agora, ele começa sua própria investigação, orientado pelo Professor José Sampaio. “Fui me interessando cada vez mais e, em princípio, vou continuar na pesquisa fazendo Mestrado”, planeja. Para ele, conseguir bolsa não é difícil, o problema é manter-se no programa. “A pesquisa exige total envolvimento”, ressalta.

Em grande parte, os bolsitas são selecionados em razão do interesse demonstrado e do desempenho nas salas de aula. O critério é questionado por Verônica Pimenta. Segundo ela, escolher um futuro pesquisador medindo suas notas é perigoso. “As minhas notas não são espetaculares, são normais, mas até os meus colegas percebem que tenho mesmo a ver é com pesquisa”, justifica, avaliando seu desempenho na pesquisa como muito superior ao da sala de aula. A estudante de Jornalismo começou a se interessar por pesquisas no segundo período, quando passou a freqüentar, voluntariamente, reuniões de projetos de pesquisa na Comunicação Social.

Verônica acredita que a experiência da Iniciação Científica, que continua durante este ano, lhe deu a chance de encontrar a área na qual pretende atuar depois de formada. As mídias comunitárias e o elo entre a comunicação e os movimentos sociais a fisgaram. O investimento na teoria e no processo da produção acadêmica, explica, proporcionou-lhe maior segurança ao se deparar com a prática exigida no Jornalismo. “Escrevo com mais desenvoltura e isso é uma conseqüência do meu trabalho na pesquisa”, avalia.

Bolsista do PAD, Verônica afirma que a Iniciação Científica ajuda o aluno a perceber, menos ingenuamente, o caminho que quer construir. A bolsa, observa, é um fator importante para fixar o estudante ao seu objetivo. “Antes de ter a bolsa, estava em crise, porque eu não queria procurar estágios, que priorizam a prática. Com bolsa, consegui ficar onde queria e estou sempre me surpreendendo com a boa escolha que fiz”, conclui.