Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
O mapa da crítica
As interações entre natureza e sociedade fazem com que o geógrafo desenvolva uma capacidade ampla de enxergar e interpretar o espaço. O curso de Geografia da UFMG, diz a professora Sandra Lucas, tem a preocupação de estimular o aluno à reflexão crítica sobre os principais problemas concernentes à espacialidade e à territorialidade dos diversos fenômenos que compõem a realidade. Por isso, questões como globalização, formas de organização e produção humanos, redes de informação, novas tecnologias e governabilidade passam a interessar de perto ao geógrafo, que terá, como alvo de sua atenção, o espaço e os elementos a ele agregados pelos seres que o habitam.
Magela Perpétuo |
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Oferecido em dois turnos – diurno, com aulas pela manhã e à tarde, e noturno –, o curso de Geografia tem duas modalidades: Licenciatura e Bacharelado. No diurno, o aluno opta por uma dessas modalidades apenas no quinto período e o tempo de integralização é de oito períodos. No noturno, só existe a possibilidade de se cursar a Licenciatura, a carga horária por períodos é menor e, portanto, o tempo de integralização é maior, completando-se em dez períodos.
Foi a possibilidade de unir os conceitos das Ciências Naturais com os das Humanas que atraiu para o curso noturno de Geografia Joselaine Ribeiro, de 23 anos. Aluna do décimo período de Licenciatura, Joselaine não se interessa apenas em dar aulas no Ensino Fundamental e Médio e partiu para uma atuação prática desde cedo. “Pensava que a Geografia tivesse uma visão generalista e, por isso optei, pelo curso”, lembra ela, contando que, à medida que avançava na Escola, seu entusiasmo pela profissão crescia. “Desde o terceiro período, faço estágios e participo ao máximo de seminários, encontros e debates, porque desejo ter uma visão de quem é o profissional”, afirma.
Os estágios, segundo Joselaine, foram importantes, pois lhe deram a noção prática da profissão. “Eu sentia que o contato puramente acadêmico na Universidade não supria minha necessidade”, assinala. Em um dos estágios que fez, na Secretaria Municipal de Atividades Urbanas (SMAU), em Belo Horizonte, Joselaine trabalhou diretamente com o Plano Diretor da cidade, atualizando cadastros para fins de cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Atualmente, ela lida, sobretudo, com planejamento e meio ambiente. Joselaine integra a equipe do Consórcio Intermunicipal da Bacia do Rio Paraopeba, órgão executivo do Comitê da Bacia do Paraopeba, sediado na cidade de Conselheiro Lafaiete. Utilizando o Sistema de Informação Geográfica (SIG), ela visualiza diferentes características dos municípios banhados pelo rio e, cruzando informações e simulando cenários, é capaz de ajudar em políticas para a região. “As informações agregadas da análise espacial sustentam tomadas de decisões políticas e socioeconômicas em relação àquela região”, explica.
A amiga de Joselaine, Cristiana Guimarães Alves, de 22 anos, também se interessou pela Geografia porque viu no curso um elo com análises políticas e sociais. Seu primeiro vestibular foi para Ciências Sociais, porém um professor de um curso pré-vestibular a fez mudar de idéia. No sétimo período do Bacharelado, ela quer se especializar em sensoriamento remoto, trabalhando, a partir de imagens de satélite no computador, com fenômenos físicos e sociais.
Foca Lisboa |
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Joselaine: interferência nas decisões políticas e socioeconômicas |
A ligação de Cristiana com computadores é antiga. Desde os 16 anos, ela utiliza a informática para trabalhar. “Aprendi brincando, mexendo por curiosidade”, diz. Atualmente, ela desenvolve páginas para a Internet e acredita que essa habilidade vai ajudá-la na especialização. “Ao mesmo tempo que o curso é bom, porque oferece visão do todo, falta maior possibilidade de especialização”, avalia. Para a estudante, quando o currículo estiver flexibilizado, essa carência, percebida por alguns alunos, vai ser solucionada porque todos poderão direcionar melhor o currículo.
João Francisco Abreu, ex-professor da UFMG, um craque em cartografia digital, destaca que vários ramos da Geografia se expandiram em função da tecnologia, tornando mais abrangentes as análises sobre ocupação espacial. Na cartografia digital, por exemplo, é possível trabalhar com bancos de dados imensos, que incluem questões socioeconômicas ou de raça, cor, religião. “No passado, demorávamos muito para produzir um mapa que hoje fazemos rapidamente e de forma muito sofisticada”, compara.
Abreu ressalta que o geógrafo é um profissional multidisciplinar, já que trabalha sempre recorrendo a outras ciências e, portanto, com outros profissionais. O futuro geógrafo deve ser alguém muito preocupado em se manter informado, lembra a professora Sandra Lucas, pois estará lidando com questões bastante atuais e que dizem respeito diretamente às relações entre os grupos humanos.