Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


Editorial

Entrevista
UFMG, espaço de formação crítica e cidadã

Assistência ao Estudante
Conforto de lar

Bibliotecas
Multiplicador do conhecimento

Iniciação Científica
As primeiras interrogações ninguém esquece

Diplomação
Campus aberto

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Sua nova cidade

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Agronomia
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Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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Expediente

Outras edições

Biblioteca

Multiplicador do conhecimento

Acervo variado e numeroso das bibliotecas é fonte importante de pesquisas e renovação do pensamento

No início deste ano, a Reitora Ana Lúcia Almeida Gazzola e outros professores tiveram uma visão pouco comum do Campus Pampulha da UFMG. Eles foram ao topo do prédio da Biblioteca Universitária cortar a fita de inauguração do novo telhado da Unidade. O gesto, longe de ser uma simples brincadeira ou aventura, estava travestido de enorme simbolismo. Por dez anos, a Biblioteca aguardou uma reforma que evitasse prejuízos a um patrimônio inestimável, pois goteiras e vazamentos ameaçavam tudo ali abrigado. O telhado recebeu novas calhas e um moderno sistema de captação de água pluvial.

A brindada reforma, com custo de R$ 300 mil, resolveu uma das maiores dores de cabeça e angústias da bibliotecária Simone Aparecida dos Santos, Diretora do Sistema da Biblioteca Universitária (BU), órgão que administra todas as 28 bibliotecas da UFMG, um tesouro que soma 24 mil metros quadrados de área construída e um acervo de quase 700 mil títulos, entre livros, teses, periódicos e materiais especiais – mapas, globos e fitas.

A Biblioteca Universitária, um prédio amplo, de quatro andares, ao lado da Reitoria, foi construída para reunir todas as bibliotecas da Instituição espalhadas pelo Campus. Mas o projeto não cumpriu seu objetivo inicial, porque as Unidades resistiram à transferência dos acervos locais e, assim, apenas a literatura própria à Graduação dos cursos do Instituto de Ciências Exatas e do Instituto de Ciências Biológicas, além de coleções muito especiais, foi instalada ali.

Foca Lisboa
Biblioteca Universitária é tesouro de 700 mil títulos aberto aos estudantes

O espaço, então de sobra, foi sendo distribuído de acordo com outras demandas, permitindo adaptações inovadoras. No início do ano, por exemplo, o Acervo de Escritores Mineiros, uma coleção formada pelas bibliotecas pessoais de Henriqueta Lisboa, Murilo Rubião, Abgar Renault, Cyro dos Anjos e Oswaldo França Júnior, ganhou tratamento diferenciado, museográfico. No terceiro andar, foram remontadas essas bibliotecas, com os móveis e os objetos que as compunham nas casas dos autores, transformando o ambiente em algo nostálgico, criativo e, antes de tudo, instigante não só para pesquisadores mas também para o público em geral. “É uma atração e uma maneira diferente de perceber o espaço de estudo e de pesquisa”, diz Simone Aparecida.

Assim como o Acervo de Escritores Mineiros, a Biblioteca Universitária guarda outras coleções especiais, entre elas, a do arquiteto e musicólogo alemão Curt Lange, de nacionalidade uruguaia, um pesquisador importantíssimo para a história da música sul-americana. Integrada à UFMG em 1995, essa coleção é uma preciosidade que registra a vida musical do Continente no período de 1928 até o meio da década, além de reunir valioso material sobre a música colonial de Minas Gerais. Lange guardou, entre livros, partituras, escritos e documentos, a correspondência que trocou com personalidades da música de todo o mundo. “Os guardados de Lange são uma referência no setor”, diz Simone Aparecida.

Uma outra coleção especial da Biblioteca é a Memória Intelectual da UFMG, na qual estão preservados os documentos do cotidiano administrativo da Instituição ao longo dos anos. Parte desse acervo é o arquivo gerado pela Assessoria Especial de Segurança e Informação na Universidade (Aesi), braço do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) criado para controlar as instituições universitárias.

O arquivo da Aesi começou a ser desvendado num projeto coordenado pelo Professor Rodrigo Patto Sá Motta, do Departamento de História. Segundo ele, a organização do material está no início, mas é possível perceber sua importância. O arquivo contém documentos muito variados, desde simples folhetos de propagandas produzidos pelo Governo até exemplares de jornais e outras publicações da UFMG que haviam sido apreendidas. Estão lá, também, fichas contendo informações sobre alunos que pertenciam ao movimento estudantil ou sobre professores considerados de esquerda, ou, ainda, sobre docentes que assumiam cargos na administração da Universidade, listas de livros proibidos, ofícios de reitores resistindo às ingerências da Aesi.

De acordo com a Professora Heloísa Murgel Starling, também da História, a UFMG é uma das poucas universidades brasileiras que possuem tal registro dos tempos da ditadura militar, o que torna o arquivo ainda mais relevante. Os documentos deverão ser exibidos numa exposição, em 2004, possivelmente patrocinada pelo Museu da República. A organização dessas coleções, salienta a Diretora da BU, cria fonte de trabalho para pesquisadores de todo o País. “Mas tudo isso exige uma estrutura grande, compatível com a importância dos acervos que temos na UFMG”, diz ela.

Espaço vivo de cultura e de integração entre professores e alunos, a Biblioteca Universitária acolherá, também, o Centro de Acesso à Informação Digital (Caid). Trata-se de um programa em parceria com o portal educativo Universia Brasil – uma rede de conteúdo educativo formada por mais de 600 Instituições de Ensino Superior do Brasil e de mais sete países –, que equipará a UFMG com diversos computadores a serem utilizados na formação digital de, preferencialmente, alunos com dificuldades financeiras.

Foca Lisboa
Simone Aparecida: arquivos preciosos que ajudam a desvendar o passado e a projetar o futuro

Avançado, um dos projetos do Sistema de Bibliotecas da UFMG é a criação da Biblioteca Digital, que conterá teses e dissertações digitalizadas. Esse projeto ainda está em elaboração, ressalva Simone Aparecida, porém alguns acervos do sistema já foram ou estão sendo digitalizados. É o caso da Coleção Linhares, nome dado ao conjunto de exemplares de antigos jornais de Belo Horizonte, que foi salva da ação destruidora do tempo com a sua digitalização. A preocupação com a preservação de documentos históricos é grande, entretanto o custo é altíssimo e, por isso, a UFMG só possui uma parte de seu patrimônio bibliográfico digitalizado ou microfilmado.

Algumas das bibliotecas da UFMG, lembra Simone Aparecida, têm coleções únicas em todo o Estado e todo o sistema possui mais de cinco mil livros raros. Os raros não podem ser emprestados, apenas pesquisados no local. “Os acervos nas Unidades são muito ricos e não são compostos apenas pelos livros de uso no dia-a-dia dos cursos”, ressalta a Diretora da BU. Segundo ela, na biblioteca da Escola de Música, por exemplo, estão partituras que representam um conjunto de relevância inestimável para a formação dos alunos e para a pesquisa. Simone Aparecida lembra, ainda, coleções como a de catálogos de exposições das artes plásticas e cênicas, abrigada na Escola de Belas Artes, e uma série preciosa de mapas do Instituto de Geociências. “Coleções especiais estão na Biblioteca Universitária, mas todas as Unidades possuem um material valioso, de destaque, que exige muito cuidado”, observa a Diretora.

Esse cuidado inclui, além da preservação, a segurança do patrimônio, ameaçada por constantes investidas de usuários. Bens públicos, os acervos não estão totalmente a salvo de péssimas condutas, expressas, às vezes, pela total falta de carinho no uso dos livros e, também, por freqüentes roubos. Os reparos são feitos com verbas próprias das Unidades e algumas – como Letras, Ciência da Informação e Medicina – possuem laboratórios próprios de restauração e de encadernação.

O primeiro inventário do Sistema da Biblioteca Universitária foi realizado no ano passado e constatou a falta de 36 mil livros pertencentes a todas as Unidades. Como o levantamento foi inédito, Simone Aparecida acredita que esse número cairá muito nos próximos anos. “Porém ele reforça a idéia de que o patrimônio tem que ser garantido por medidas de segurança bastante concretas”, defende. Para evitar o roubo, as bibliotecas serão equipadas com um sistema, hoje, só disponível na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) e na Faculdade de Medicina. Na Faculdade de Letras, a biblioteca é dotada de um circuito fechado de câmeras.

Segundo a Vice-Diretora da BU, Anália Gandini de Paula, o investimento em segurança será de R$ 1 milhão e a pretensão é a de atender 22 Unidades. “Só um portal de segurança, como aqueles colocados na saída das lojas, custa em torno de R$ 36 mil”, contabiliza Anália. Além dos recursos, a segurança exige um volume de trabalho estrondoso. Com a utilização dos portais, todos os livros do acervo recebem uma fita transparente magnetizada.

“Vamos ter que mexer em livro por livro, em periódico por periódico”, salienta a Vice-Diretora. A trabalheira é justificável, pois as bibliotecas são muito utilizadas pelos alunos e professores e os recursos para a aquisição de novos volumes são escassos. Desde 1999, recorda Simone Aparecida, o Ministério da Educação cortou a verba para a renovação dos acervos e a demanda, obviamente rotineira, tem sido atendida, em parte, por verbas retiradas do orçamento da Pró-Reitoria de Graduação e do Fundo Fundep. “As bibliotecas são muito bem utilizadas”, constata a Diretora da BU. Para um acervo de 650.139 exemplares – sem os periódicos –, o número de empréstimos feitos no ano passado foi de 668.628. “É um índice muito alto”, assinala, lembrando que alguns títulos ficam em listas de espera durante longo tempo. Só a Fafich empresta, em média, mil livros por dia. Já estão garantidos, também, recursos para a melhoria do software utilizado pelo Sistema da Biblioteca Universitária. “Essa é outra necessidade urgente”, diz Anália de Paula. Os recursos, que vêm do Fundo de Investimento de Infra-Estrutura, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), haviam sido cortados, mas foram renegociados com a UFMG e salvos no início do ano.