Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
Viagem pelo planeta Terra
Geraldo Andrade |
Uma irresistível atração pela natureza mudou o rumo profissional do mineiro Sérgio Muschioni. Ex-aluno do Colégio Técnico da UFMG (Coltec), ele escolheu a Química no Vestibular de 1996 e passou dois anos dividido entre as aulas e o trabalho em um posto de gasolina. O tempo corria e menor era o interesse dele pelo curso, até que uma velha paixão o despertou: os acampamentos, como os que costumava fazer na adolescência. Muschioni percebeu que sua opção de trabalho deveria estar ligada ao ar livre. Abandonou a Química e arriscou novo Vestibular.
Em 1998, Muschioni acertou de vez ao escolher a Geologia e teve certeza disso no quarto período, quando começou a trabalhar como bolsista de um projeto de pesquisa sobre rochas vulcânicas, no qual ficou até conseguir um estágio numa das maiores empresas de exploração de granito do País. “Aí é que tudo ficou mais claro para mim”, destaca. Apenas dois meses depois de formado, em junho passado, ele assumiu a administração, na Paraíba, de uma lavra de rochas ornamentais, utilizadas no revestimento de pisos e paredes. Só em Minas Gerais, esse setor produz 1,6 milhão de toneladas por ano, envolvendo cerca de 160 frentes ativas de lavras, em mais de 50 municípios.
Com um emprego sonhado por muitos profissionais que estão no mercado de trabalho há mais tempo, Muschioni tem certeza de que sua conquista é fruto de grande empenho profissional. “Está dando tão certo porque eu gosto muito do que faço”, assinala. Ele realmente encontrou o que queria. “Não suporto ficar parado e fechado num só lugar”. O cotidiano de Muschioni é feito de horas e horas subindo e descendo morros e montanhas, desbravando, de carro ou a cavalo, lugares de difícil acesso, equipado com foice, marreta, martelo, máquina fotográfica, um aparelho de GPS (localizador) e água. “É muita ralação, mas eu adoro”, confessa.
O que Muschioni faz é a conferência, no campo, das áreas onde a empresa pretende explorar o granito. Ele tem que, a partir de mapas geológicos, descobrir se as áreas pretendidas têm a matéria-prima dentro dos parâmetros desejados e se sua exploração é viável economicamente. Para isso, ele vai até as rochas, monitora a sondagem (a retirada de amostras, normalmente por meio de pequenas explosões) e, na volta, no escritório, prepara o relatório de pesquisa que auxiliará a empresa a tomar a decisão de investir, ou não, no local.
Eber Faioli |
“Estamos na interface de várias profissões”, afirma Maria de Lourdes |
De muitas horas de viagem também é feito o dia-a-dia de Carolina Pinheiro, de 27 anos, ex-aluna da Geologia na UFMG e, hoje, na Vale do Rio Doce – um emprego conquistado depois de enfrentar 12 mil concorrentes por vaga. Durante 20 dias do mês, ela fica direto no trabalho de campo, normalmente em Carajás, em meio à selva no Pará. A folga é de dez dias, quando volta para Belo Horizonte, para depois começar tudo de novo, num ritmo que ela simplesmente adora.
Para Carolina, a realização com o trabalho veio muito antes da formatura. Durante o curso, que considera “excelente”, ela se envolveu, durante dois anos e meio, com projetos de pesquisa, a maioria na área de minerais, o que lhe rendeu um convite para estágio de continuação de estudos na Alemanha, onde passou um semestre. “Foi uma experiência única”, revela, lembrando que a escolha da Geologia ocorreu meio por acaso, mas que se sente totalmente realizada. “Tinha um vizinho geólogo e a casa dele era cheia de minerais, o que sempre achei muito fascinante”, recorda. Para ela, o candidato ao curso deve ter, antes de tudo, muita disponibilidade para viajar e andar no mato, além de muita força de vontade, pois, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Geologia é um curso pesado. “Mas a satisfação é garantida”, atesta.
A Coordenadora do Colegiado de Graduação da Geologia, Maria de Lourdes Fernandes, concorda que uma das principais características de um geólogo é o gosto pelas viagens e pelo trabalho ao ar livre, porque ele sempre estará, de alguma forma, observando a natureza ao envolver-se com os conhecimentos sobre a estrutura e composição da Terra e com o gerenciamento de recursos minerais, hídricos e energéticos. Isso não quer dizer que as opções de atividade do geólogo se restringem ao campo. Ao contrário. Nos últimos tempos, assinala a Professora, houve uma ampliação do mercado de trabalho para o geólogo, que, não só continua ocupando espaços tradicionais – como na prospecção de petróleo, na descoberta e no monitoramento de aqüíferos subterrâneos, na exploração de complexos minerais ou no estudo da evolução das crostas –, mas também se volta para áreas menos convencionais, como a Geologia urbana. Hoje, muito mais do que em outras épocas, a Geologia tem enorme importância nos grandes centros, onde a ocupação desordenada traz problemas evidenciados diariamente.
Eber Faioli |
Carolina: fascínio pelos minerais e muita disposição para viajar |
O geólogo é um dos profissionais que vai opinar nos projetos de grandes obras na cidade, tanto mostrando sua viabilidade do ponto de vista da geofísica,ou seja, das especificações do terreno, mas também propondo medidas de redução do impacto ambiental e de recuperação de áreas degradadas. “Estamos na interface de várias profissões”, salienta Maria de Lourdes, destacando que, às vezes, não é fácil identificar a presença do trabalho do geólogo. Ela lembra que uma pessoa não fica pensando, quando compra uma panela, por exemplo, no que está por trás daquele produto. “Mas nessa panela tem o dedo do geólogo, que pesquisou as características dos minerais para, mais tarde, eles se transformarem num bem de consumo”, explica Maria de Lourdes.
Na Geologia, os alunos têm oportunidade de atuar em pesquisas, desenvolvidas, muitas vezes, em consonância com empresas e órgãos públicos. “Temos uma grande parceria com o setor produtivo”, diz a Coordenadora do Colegiado de Graduação. O tempo mínimo de integralização do curso de Geologia é de nove semestres e o máximo, de 17.