Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
Boca no trombone
O medo de ser pioneira não desestimulou a estudante Andréa Alves Maia, de 25 anos, aprovada no primeiro Vestibular do curso de Fonoaudiologia da UFMG, que estreou com a disputa de 31 candidatos por vaga, em 2000. O peso da instituição pública e a segurança em relação aos professores que coordenavam a implantação do novo curso fizeram com que ela apostasse nele. “Sempre encontramos espaço para reivindicar e discutir os problemas que aparecem. Por isso, nunca me senti prejudicada, já que tivemos liberdade de tentar ajustar o que não estava legal”, diz Andréa, para quem a Fonoaudiologia era, também, quase uma incógnita quando fez a opção profissional. “Eu só sabia que queria a área de Saúde e, por isso, tentei Fisioterapia e Fonoaudiologia. Mas só depois que estava freqüentando as aulas é que compreendi melhor com que eu mexeria nessa área. O que me atraiu foi a possibilidade de lidar com os aspectos que envolvem a comunicação do ser humano”, explica.
Foca Lisboa |
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De acordo com a professora Ana Cristina Côrtes Gama, o curso da UFMG é generalista, de formação multidisciplinar e abrangente. Nos dois primeiros anos, a maioria das aulas acontece no Campus Pampulha, fazendo um tour por várias Unidades. A partir do terceiro ano, as aulas acontecem na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas. Profissional da saúde, o fonoaudiólogo atua em prevenção, aprimoramento, diagnóstico e tratamento dos aspectos de voz, fala, motricidade oral, audição, linguagem oral e escrita, primordiais na comunicação humana.
A Fonoaudiologia é uma ciência reconhecida há 21 anos no Brasil, sendo um curso desconhecido ainda para muitos candidatos, mas não apenas por eles. A sociedade em geral e muitos médicos, conta Melissa Martins, de 22 anos, não compreendem totalmente a importância do fonoaudiólogo num programa de reabilitação de pacientes com vários tipos de deficiência na região da cabeça e do pescoço. “Mas isso está mudando porque a Medicina já percebeu que alcançamos resultados”, avalia. Formada há um ano numa Faculdade privada, ela escolheu a Fonoaudiologia e a linha de atuação que persegue, a partir de uma experiência familiar. Quando Melissa tinha 15 anos, o pai sofreu um derrame e passou a ser acompanhado em casa por uma fonoaudióloga. Como os especialistas precisam sempre de muita colaboração da família no tratamento, a jovem passou a ser a referência da “fono” na assistência. Foi nessa relação tão próxima e do cotidiano que ela decidiu seguir carreira e trabalhar com idosos. Atualmente, ela atende em uma clínica para doentes com lesões neurológicas e especializa-se no cuidado domiciliar desses pacientes. “Sou chamada quando o paciente tem algum tipo de problema para se locomover até um consultório e, como trabalho com pessoas idosas, isso é muito comum”, lembra. Para a fonoaudióloga, esse é um campo de trabalho importante, pouco explorado, mas também de difícil acesso, porque o tratamento fica mais caro e vários convênios não custeiam o tratamento fonoaudiológico.
Há um compromisso do fonoaudiólogo moderno de buscar sempre novas frentes de trabalho e a profissão oferece um extenso leque de oportunidades. Além do exercício de uma função terapêutica em clínicas e consultórios, existe a possibilidade de atuação em contextos de prevenção e aprimoramento das habilidades de comunicação nos setores educacionais e empresariais.
Foca Lisboa |
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Andréa Alves Maia apostou no curso de fonoaudiologia recém-criado na UFMG |
Foi o que sentiu na prática a professora Cynthya Corradi, de 30 anos. Logo depois de formada, ela e quatro colegas decidiram abrir uma clínica. Foi durante essa experiência que Cynthya teve o primeiro contato profissional com a área de telemarketing, com a qual vem trabalhando nos últimos tempos. Numa empresa de telemarketing, conta a Professora, o profissional atua em programas de conservação de audição – junto ao setor de recursos humanos –, avaliando a saúde da voz e a sua adequação ao produto que será comercializado, e em treinamento de voz, fala e linguagem, potencializando a comunicação. O irônico da atuação profissional de Cynthya é que, na sua época de estudante, trabalhar com a voz não era uma prioridade. Entretanto, hoje, além de consultoria e assessoria em telemarketing, ela presta assistência a atores e cantores e participa, há cinco anos, da banca de expressão vocal no processo seletivo do curso de teatro do Palácio das Artes. “Ninguém gosta de tudo, mas é importante que o aluno não se feche numa única perspectiva, porque ele sempre poderá se surpreender”, aconselha.
Professora do curso, Luciana Macedo de Resende, de 32 anos, especializou-se em audiologia depois de uma experiência de trabalho em uma clínica de crianças deficientes auditivas. Atualmente, ela é responsável pelo programa de triagem auditiva na Unidade Neonatal e no Alojamento Conjunto (de mães e filhos) da Pediatria, no Hospital das Clínicas, no qual seus alunos também trabalham.
Além de fazerem avaliação e diagnóstico, os alunos podem atender as crianças no ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital São Geraldo, sempre supervisionados pelos professores. “Com isso, trabalhamos com prevenção e reabilitação dos problemas de comunicação”, ressalta Luciana, que também sugere ao candidato ao curso de Fonoaudiologia ter conhecimentos de Inglês e Informática.