Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


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Artes Cênicas

Espaço de experimentação, curso provoca reflexões intensas e permite aperfeiçoamento em arte e cultura, além de amadurecimento profissional

Perto de completar 30 anos de carreira, o ator Adyr Assumpção, de 45 anos, voltou para a escola. A decisão refletiu o amadurecimento ao longo de uma trajetória comprometida com o teatro. “Fui em busca da experimentação, porque acredito que a Universidade é um espaço privilegiado para isso”, diz. E continua: “Ao mesmo tempo, pude sistematizar todo o conhecimento construído nesses anos de trabalho que, para mim e para a minha geração, foi realizado de forma bastante empírica”.

Adyr foi aluno da primeira turma de Artes Cênicas, graduada no ano passado, mas sua história e a do curso entrecruzam-se bem antes de 1999. Desde a década de 70, em que freqüentou o Teatro Universitário – curso médio-profissionalizante para formação de atores –, havia uma discussão acirrada sobre a necessidade de se criar a Graduação em Artes Cênicas, aliada à polêmica sobre a regulamentação da profissão de ator, também debatida naquela época.

Foca Lisboa

“Felizmente, a Universidade abriu o curso, coincidindo com um momento especial de reflexão sobre o nosso ofício de ator”, assinala Adyr, para quem a formação profissional ganhou novas feições. “As escolas estão fazendo o papel que foi assumido, ao longo desses tempos, pelos grupos de teatro. Os próprios grupos, hoje, conseguem estruturar-se melhor por intermédio da escola, devido ao acúmulo de informação com que trabalham”, afirma o ator, ele próprio um profissional marcado pelas dinâmicas dos grupos.

Adyr acredita que, sozinhos, os grupos não dão conta das inúmeras propostas que surgem em torno do teatro, principalmente em relação à linguagem. “O que não quer dizer que eles não possam voltar a ser o que eram, porque, na história do teatro, tudo é muito cíclico”, ressalva. Para o também ator Chico Pelúcio, de 44 anos, os grupos foram igualmente um espaço privilegiado. Integrante do Grupo Galpão desde o início da montagem da trupe, Pelúcio lembra que ele e a maioria dos colegas se formaram na prática, buscando o aperfeiçoamento onde houvesse, mas sempre muito ligados ao dia-a-dia do fazer. Ele ressalta, porém, a importância das escolas na formação cultural do ator. “É muito importante que o ator tenha sólida bagagem cultural. Cultura não faz mal, não tem contra-indicação e é essencial no processo de criação do ator”, sustenta. Além disso, aconselha Pelúcio, o futuro ator profissional deve estar vinculado a um grupo de teatro o tempo todo, “porque a união da prática com o conhecimento adquirido na Escola irá fazê-lo crescer”, justifica.

Realizados profissionalmente, Adyr e Pelúcio chamam a atenção para as dificuldades que serão enfrentadas por quem escolher Artes Cênicas, um curso totalmente voltado para a formação do ator. “Mesmo para um grupo como o nosso, há 20 anos trabalhando, é uma vida complicada, difícil”, esclarece Pelúcio. Segundo ele, o teatro não consegue mais sobreviver só de bilheteria, tanto porque as produções se profissionalizaram muito e montar qualquer peça é caro, quanto porque o público está voltado para grandes eventos. “As pessoas estão indo ver só o espetacular e o dia-a-dia fica meio desguarnecido, o que é um problema da atual concepção cultural no País”, observa.

Além disso, há bem pouco tempo, atores e profissionais de teatro em geral enfrentavam grandes preconceitos da sociedade, traduzidos na aversão familiar demonstrada quando qualquer um anunciava a decisão de se dedicar às Artes Cênicas. Se, por um lado, certo glamour, amparado pela presença de reconhecidos atores na televisão, amenizou tais preconceitos, essa mesma valorização – por vezes superficial – não foi capaz ainda de extirpá-los de vez. A trajetória de Juliana Coelho, de 23 anos, aluna do quinto período de Artes Cênicas, prova que os novatos na profissão ainda sofrem com velhos estigmas.

Eber Faioli
Para Chico Pelúcio o ator precisa ter uma sólida bagagem cultural

Mesmo desejosa de se dedicar profissionalmente ao teatro e depois de haver concluído dois cursos de formação de ator, Juliana não teve coragem de buscar a profissionalização logo de saída. Quando fez vestibular pela primeira vez, optou por Jornalismo, porém não deu conta de permanecer no curso por mais de um mês. “Era difícil para mim assumir que queria ser atriz profissional”, lembra. Por pressão da família, no ano seguinte, disputou novamente, escolhendo Direito na UFMG e Cinema na Universidade de São Paulo (USP). “Pensei em Cinema porque me aproximava das artes e eu achava que era um curso menos marginalizado”.

Uma coincidência tirou novamente Juliana da rota. A segunda etapa dos dois vestibulares acontecia na mesma época e ela resolveu continuar tentando Cinema. Não passou e persistiu no ano seguinte. Quando achou que conseguiria, ficou 40 horas presa na estrada, por conta de inundações, na viagem para São Paulo, no dia em que faria a prova da segunda etapa. Perdeu o horário da prova de Cinema e somente conseguiu ingressar na Universidade, conquistando o primeiro lugar entre os candidatos, quando assumiu, para si e para todos, que seguiria Artes Cênicas. Assim mesmo, só entrou para o curso na segunda tentativa, porque, na primeira, foi reprovada na prova específica.

Atualmente, Juliana dedica-se aos estudos e ao teatro integralmente. Além das aulas, ela participa do Grupa, um grupo de pesquisa e de atuação, montado no Laboratório de Atuação da Escola de Belas-Artes – onde o curso de Artes Cênicas é oferecido –, que se apresentou no Simpósio da Sociedade Internacional Bertolt Brecht em junho passado, em Berlim. Ela também é bolsista de um projeto de pesquisa que trabalha com crianças e professores de teatro do Centro de Integração Martinho, um espaço cultural do aglomerado do bairro da Serra. “O curso me iluminou, abriu para mim o caminho que eu já sabia querer há muito tempo”, diz.

O curso de Artes Cênicas está ajudando Juliana a se instrumentalizar como atriz. “Acho que, se escolhi fazer um curso superior de Teatro, tenho de me preocupar não apenas em atuar, mas em refletir sobre a nossa prática e a do próprio teatro”, opina. Ela ainda não decidiu se vai optar pela Licenciatura em Teatro, que forma professores, ou se fará só o Bacharelado com habilitação em Interpretação Teatral. “Minha prioridade sempre foi ser atriz, mas gosto muito do trabalho de professora, de articuladora de ações de teatro voltadas para diferentes comunidades”.

Segundo a professora Maria Beatriz Mendonça, a Bya Braga (nome artístico), o curso de Artes Cênicas é resultado da experiência pedagógica e artística do Teatro Universitário. “O TU adubou a terra e semeou a arte teatral na UFMG. O curso é fruto de uma experiência de 50 anos de atividades ininterruptas do TU”, diz. Ela lembra a vez em que, como estudante do TU, em 1986, entregou à Reitoria a primeira proposta de formação do Artes Cênicas. Mais de dez anos depois, em 1998, ela repetiu o gesto, como integrante da comissão que formulou a proposta do curso atual.

Bya Braga destaca a Universidade como um espaço imprescindível para o profissional que deseja ser um “ator-pesquisador, ligado à invenção, à criação artística, com formação atualizada e problematizada junto a outras linguagens artísticas e a outras áreas do conhecimento humano”. Ela defende uma Escola que estimule não só o ensino mas também o envolvimento dos alunos em pesquisa e projetos de extensão.