Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular
Aos números com carinho
Foca Lisboa |
Antônio Eduardo Gomes: matemática é básica na profissão |
Convencida das boas e futuras possibilidades e feliz com sua própria sorte, a mineira Fábia Russano Yazaki, de 28 anos, constata: “O futuro já chegou”. Desde o início de 2003, ela mora em Nova Iorque e trabalha na Organização das Nações Unidas (ONU). Fábia é estatística e encontrou na profissão a realização que esperava. “Trabalhar aqui é uma experiência ímpar”, diz. Formada na UFMG, na turma de 1994, ela venceu os obstáculos de um curso considerado denso e que, muitas vezes, assusta os calouros.
Entretanto, longe de queixas, Fábia garante que as vantagens da Estatística são evidentes e passam pela dosagem equilibrada entre teoria e prática e pelo mercado de trabalho em ascensão. “De maneira geral, é um curso mais difícil que a média, requerendo muito estudo. Mas compensa no fim de tudo”, avalia. A opinião dela coincide com a de outro bem-sucedido ex-aluno. João Roberto Rodarte, de 41 anos, é dono de uma empresa de consultoria na área de previdência complementar e de planos de saúde. Sem vacilar, diz: “É um curso dificílimo”.
Se, pelas dificuldades iniciais, for necessário algum consolo, o futuro profissional tem motivo para se animar: não existe desemprego na área. “Não conheço nenhum estatístico desempregado”, afirma Rodarte. O chefe do Departamento de Estatística, professor Antônio Eduardo Gomes, lembra que a propalada dificuldade apontada pelos estudantes está associada, essencialmente, ao peso da Matemática no curso. “Em geral, eles não sabem que essa disciplina será tratada em profundidade, porque é básica na profissão”, salienta.
A Coordenadora do Colegiado de Graduação, professora Glaura Franco, conta que as últimas mudanças do currículo e as que estão por acontecer atacam problemas dessa ordem. “Ao se defrontarem com muitas disciplinas voltadas para a Matemática e nenhuma propriamente sobre a aplicação dessa ciência na Estatística, os alunos se frustravam”. Antônio Eduardo lembra que o curso lidava com outro problema: o desconhecimento, em geral, da função do estatístico e dessa ciência na vida da sociedade.
Claudia Daniel |
Porém a Estatística é um curso que está mostrando sua distinção e definindo-se para os mais jovens devido à revolução tecnológica, em especial a ocorrida na última década, que multiplicou as possibilidades e criou muitas demandas para a área. Com o avanço da Informática, destaca Antônio Eduardo, técnicas estatísticas computacionalmente intensivas que auxiliam na resolução de problemas complexos passaram a ser utilizadas mais corriqueiramente.
O estatístico é um dos profissionais que mais dão vida e sentido aos números e a uma infinidade de informações não-numéricas. Ele extrai conhecimento de dados gestados e acumulados durante tempos variados. “A Estatística é um instrumento para a tomada de decisões”, afirma Antônio Eduardo. O que seria dos planejamentos públicos sem as avaliações e as projeções feitas com base em coletas sobre o crescimento populacional de um País? O que seria das instituições privadas, como os poderosos bancos e instituições financeiras, sem as análises de risco e probabilidades?
“Não existe uma pesquisa científica que possa prescindir de análises estatísticas”, acrescenta Rodarte, lembrando que a adequação de dosagens de medicação em tratamentos de câncer, por exemplo, requer estudos estatísticos. “No setor de Oncologia da Santa Casa, esse é um trabalho muito comum”, conta ele, premiado, no ano passado, como Ex-Aluno Destaque do Instituto de Ciências Exatas.
A Coordenadora do Colegiado de Graduação lembra que o trabalho do estatístico foi, durante muito tempo e mesmo depois de reconhecida a profissão, feito por pessoas que não tinham formação adequada. “Antes, qualquer um se aventurava a dar uma de estatístico, porque a necessidade é óbvia em vários aspectos do cotidiano. Mas, hoje, isso é quase impossível e a demanda por profissionais qualificados é muito grande”, compara. Para Rodarte, as ferramentas da Estatística são tantas, que ninguém mais consegue improvisar.
Segundo Glaura, no dia-a-dia, os alunos descobrem muito cedo o caráter interdisciplinar da profissão. Essa é uma característica marcante da Estatística. A interdisciplinaridade, afirma Glaura, requer um treinamento para o trabalho em grupo, o que pode parecer fácil, simples, mas não é.
Foca Lisboa |
João Roberto Rodarte: estatístico não fica desempregado |
“A Estatística não é e nunca será uma atividade fim, mas uma atividade meio. Então, o profissional não pode nunca pensar que vai trabalhar isoladamente. Ele tem que ser, também, um ‘cara ligado’, interessado em conhecimentos gerais”, diz Rodarte. No Departamento de Assuntos Socioeconômicos e Divisão de Estatística da ONU, Fábia está, mais uma vez, vendo na prática a necessidade do quesito interação com outras áreas. “Tenho colegas, profissionais muito bem capacitados, de diversos países do mundo. Trabalho num ambiente acolhedor, com projetos desafiadores. É muito legal.”
Antes de ir para a ONU, Fábia trabalhou como consultora na área de pesquisa de mercado e no setor financeiro, com a implantação do serviço de análise de crédito automatizado de um banco. Para ela, entre as qualidades dos estatísticos devem estar perspicácia e grande afinidade com a área de Exatas. “Tem mesmo que gostar muito de Matemática e de técnicas de computação”, enfatiza Rodarte.
A Estatística é um curso diurno, com entrada anual de 35 alunos. O tempo de integralização mínimo é de oito semestres e o máximo, de 14.