Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
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Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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Na rua, na fazenda, mas sempre longe do apê

Ciências Biológicas

Ciências Biológicas exige amor à natureza e disponibilidade para movimentação

Bruno Eduardo Mota, de 22 anos, confessa que nunca foi um aluno muito dedicado. Isso até chegar à Universidade e se deparar com os detalhes da única área de estudo que lhe chamava a atenção no Ensino Médio. “Como quase todo mundo, tive dúvidas, mas decidi com base na minha afinidade com a Biologia”, conta. No sétimo período da Licenciatura, Bruno, ou Kelé, acredita que acertou ao insistir, durante três anos, em Ciências Biológicas. “Logo que entrei, comecei a estudar muito”, lembra.

Foca Lisboa
BRUNO acredita que vivência nos laboratórios amadurece o profissional

Referindo-se à imensidão de contatos com os professores-cientistas que estão no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), onde funciona o curso, Kelé diz que, na UFMG, o aluno certamente conhece pessoas que ajudam, indicando caminhos. Bolsista, há dois anos, no Laboratório de Microbiologia, ele trabalha em pesquisas sobre o papel do interferon, substância natural do corpo, no combate aos vírus e, também, em um segundo projeto, que investiga componentes naturais no combate à herpes.

Para Kelé, todo estudante deveria conhecer bem a pesquisa, ainda que os investimentos no país não favoreçam a área. “Mesmo com todas as dificuldades, o que vemos são resultados muito bons das pesquisas nacionais, o que mostra que temos qualidade”, diz o estudante, para quem a experiência nos laboratórios ajuda a amadurecer o futuro profissional.

Adiante de Kelé na esteira do tempo, o biólogo João de Magalhães Lopes, de 27 anos, passa todos os seus dias na Estação Ambiental da Usina Hidrelétrica de Volta Grande, no Triângulo Mineiro. Ali, ele trabalha há cerca de dois anos, numa experiência que se iniciou com um concurso para trainee da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Na época, João cursava o mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, também no ICB, o que serviu de estímulo para ele conquistar a vaga de funcionário na Estatal.

Na estação ambiental, o biólogo é responsável pela reserva florestal e pela estação de piscicultura. “Sempre quis trabalhar com meio ambiente e, com a especialização, pude me dedicar exatamente ao que escolhi”, assinala João, destacando que o mercado para biólogos, no Triângulo, está crescendo bastante. Segundo o biólogo, quem escolhe deve ter claro que há grande probabilidade de trabalhar no interior. “É claro que, nos grandes centros, tem, também, muito espaço para biólogo, mas viajar é uma das condições da profissão.”

Eber Faioli
Detalhe de lacraia no Laboratório de Venenos e Toxinas Animais, no ICB

Nesse item, o também biólogo Cristiano Cristhófaro, de 28 anos, concorda plenamente, pois, ainda que trabalhando na sede do Ministério Público, na capital, sua agenda está lotada de viagens. Ele participou, há cinco anos, do concurso público para biólogo, o primeiro específico para o cargo na história da instituição em Minas Gerais. Cristiano acredita que ter feito o curso na UFMG foi essencial para sua seleção. “Eu não sabia exatamente o que iria fazer no Ministério Público, mas descobri que é um trabalho muito interessante”, conta o biólogo, que participa ativamente das investigações do órgão em processos que envolvem a preservação do meio ambiente. “Mostro, através das provas, que aspectos ambientais foram danificados. Caracterizo o dano, mas também ofereço sugestões de controle”, esclarece.

Profissão ampla e diversa

Com mais de cem laboratórios, o ICB é um dos principais centros de pesquisa do país. A estrutura privilegiada e o contato com pesquisadores integrados em estudos de importância singular, como o projeto Genoma Humano, tornam as Ciências Biológicas uma opção muito rica, porque a formação está ancorada numa forte união entre teoria e prática.

Segundo o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Carlos Rosa, mudanças curriculares estão em andamento e devem estar concluídas no próximo ano. A intenção é tornar o curso de Ciências Biológicas mais ágil, nas duas modalidades – bacharelado ou licenciatura.

O que os estudantes procuram no curso de Ciências Biológicas?

A possibilidade de estudar e entender as relações que existem na natureza. Eles se interessam, também, pelas aplicações que as Ciências Biológicas permitem e que são bastante divulgadas, hoje, pela mídia, como clonagem, seqüenciamento de genoma, descobertas relativas a doenças e epidemias.

Eber Faioli
Detalhe de jararaca no Laboratório de Venenos e Toxinas Animais, no ICB

Os estudos se concentram apenas na Biologia?

A Biologia é muito ampla e diversa. Cada aspecto dela é um universo de pesquisa e de conhecimento. O aluno que escolher Ciências Biológicas vai estudar não só Botânica, Ecologia, Zoologia, Microbiologia e outras áreas da Biologia, mas também Anatomia, Química, Física e até Matemática e Estatística.

Ciências Biológicas é um curso muito voltado para a pesquisa?

Sim, especialmente no caso dos estudantes que escolhem o bacharelado. Muitos não só estudam como trabalham nos laboratórios. Quando terminam a graduação, inúmeros retornam para o mestrado e o doutorado.

O contato com a realidade profissional fora da UFMG é muito necessário para a formação do aluno?

Sim, porque ele tem a oportunidade de conhecer de perto não apenas a pesquisa feita na Universidade. Entra em contato com outras áreas, como ensino – especialmente importante para os alunos da licenciatura – e consultoria ambiental, pois o mercado de trabalho do biólogo não é só o da pesquisa. Fora dos laboratórios do ICB, o aluno interage com a aplicação da Biologia nas indústrias, nos órgãos públicos, nos hospitais. Sabemos que a pesquisa acadêmica entusiasma, mas, para a maturidade do estudante, é muito importante que ele vivencie outras realidades.

O Brasil não é um país que investe muito em pesquisa. Isso afeta a área de atuação do biólogo?

Afeta bastante, porque diminui as oportunidades de trabalho do profissional que opta pela pesquisa. Os centros federais são responsáveis por 70% das pesquisas feitas no Brasil, mas faltam recursos. As universidades dependem de verbas públicas para tais investigações, já que não existe, no país, uma cultura forte de financiamento de pesquisas, por exemplo, pelas indústrias.

E como o ICB se encaixa nesse quadro?

O Instituto tem pessoal e equipamentos que nada devem a centros estrangeiros de pesquisa, mas o dia-a-dia das pesquisas depende, também, de material de consumo, de dinheiro para manter tais equipamentos funcionando, para contratação de bolsistas, etc. Então, a diferença básica de nossa pesquisa para a que é feita fora é o dinheiro de que dispomos. É bom lembrar, também, que as pesquisas atuais são multidisciplinares, envolvem várias instituições nacionais e estrangeiras. É necessária uma boa articulação com instituições do exterior, o que o ICB possui.