Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular
Subir baías, descer florestas
Eber Faioli |
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RAFAEL enxerga na Cartografia Digital um campo promissor |
Ao entrar na Geografia, Rafael Rangel Giovanini, de 22 anos, estava seguindo um antigo desejo. “Queria ser professor e não tinha perfil para as áreas de Exatas ou Biológicas”, lembra ele, que acabou mudando de rumo durante o curso, formando-se como bacharel, e, hoje, é aluno do mestrado no próprio Instituto de Geociências, onde pretende dar continuidade à pesquisa iniciada quando elaborou a monografia de graduação.
A primeira opção de Rafael era a licenciatura, mas o bacharelado o ganhou quando ele se tornou bolsista do Laboratório de Estudos Territoriais. Ali, ele trabalhou com Geografia e População, manuseando um relatório de pesquisa sobre migração e fluxo populacional no Brasil de acordo com os dados do Censo de 1991. “Eu convertia os dados, que já estavam prontos e que descreviam o movimento das populações, numa linguagem mais acessível e, também, em mapas para o uso de alunos da graduação ou, mesmo, do público externo ao curso”, lembra ele, contando que o trato com aquelas informações o motivou a desenvolver análise própria.
Foi nesse trabalho que Rafael se deparou com programas de Cartografia Digital, o campo, para ele, mais promissor do bacharelado em Geografia. Por isso, o geógrafo aconselha a quem está interessado no curso ficar atento às possibilidades de aprendizado na área. “Não é algo que você vai aprender apenas em disciplinas regulares”, avisa, destacando que o currículo da Geografia é, ainda, bastante rígido. Do terceiro ao sexto período, Rafael foi bolsista no Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa e ajudou no mapeamento de bacias sedimentares do Nordeste, na área da Geografia Física. “Não me envolvi diretamente com a análise dos dados, mas com a coleta deles, passando tudo para o computador”, recorda. Ele diz que trabalhou com áreas bem diferentes durante o curso, o que, avalia, foi muito bom para sua formação.
A monografia de graduação de Rafael foi um estudo geo-histórico da Zona da Mata Mineira. Rafael identificou as atividades econômicas da região e levantou os impactos espaciais ocorridos. “Existem explicações econômicas, sociológicas e históricas para o desenvolvimento da região e eu apontei as da Geografia”, conta, convicto de que conseguiu demonstrar que existe uma justificativa enganosa para a decadência da cultura do café na região. “Percebi que o manejo do solo era inadequado e que esse foi o fator que mais influenciou na decadência da cafeicultura na Zona da Mata, em contraposição a diferentes análises que indicam o sucesso da cultura no Sul do estado como a razão”, afirma. Para Rafael, “o melhor do trabalho foi relacionar fontes históricas com interpretação dos recursos naturais”. No mestrado, ele vai se aprofundar no tema e fará uma análise comparativa da cafeicultura das duas regiões.
Foca Lisboa |
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Para SANDRA LUCAS a Geografia é uma ciência síntese |
Profissional síntese de diversas áreas do conhecimento, o geógrafo não enxerga o espaço como multifacetado. Segundo a ex-coordenadora do Colegiado de Graduação, professora Sandra Lucas, ele observa o conjunto, igualmente atento aos aspectos naturais, vegetativos e de solo. Na UFMG, o aluno encontrará um curso bastante prático, com alta carga de atividades de campo, que começam no segundo período.
Qual é o objeto de estudo da Geografia?
Nosso objeto é o espaço físico e as relações humanas, econômicas e sociais que se estabelecem nesse espaço. Por isso, quem, normalmente, se interessa pela Geografia é conectado com o que acontece no mundo e voltado para viagens, porque a profissão exige grande atividade de campo para estudos dos aspectos físicos e humanos de localidades.
A formação de professores é ainda o principal função da Geografia?
Temos, no curso, as modalidades de licenciatura (diurno e noturno) e de bacharelado (diurno), mas a formação é comum nos cinco primeiros semestres. Desde a década de 1970, a procura pelo bacharelado tem sido grande e, nas duas últimas décadas, ela aumentou muito.
O que aconteceu?
O aluno percebeu que a Geografia é uma ciência de síntese e que o geógrafo é capaz de sintetizar as questões do espaço. No espaço urbano, por exemplo, ele terá grande contribuição a dar na formulação do Plano Diretor de uma cidade, analisando áreas para uma ocupação adequada, realizando mapeamentos, estudos de aproveitamento e preservação de recursos naturais, levantamentos socioeconômicos para utilização em planejamentos. Na Geografia Ambiental, por exemplo, o geólogo examinará a formação do terreno, o biólogo estudará a vegetação e o geógrafo fará a síntese. Ele não vê a paisagem de forma multifacetada, mas no conjunto, fazendo a síntese de elementos do clima, vegetação, solo, etc., apontando os fatores geomorfológicos, mas aliando essas características aos elementos próprios da ocupação humana. É um profissional que fica na interface da Sociologia, da Geologia e da Biologia, entre outras ciências.
Mapa da pg 26 do livro Cartografia da Conquista do Território de Minas, organizado por Gilberto Costa |
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O curso da UFMG reflete essas interfaces?
Reflete sim, porque temos contribuição de todas essas áreas. Além disso, o curso está sendo flexibilizado, o que ampliará a formação do aluno, já que ele terá como procurar fora, em outras Unidades, o que for de seu interesse e aquilo que não estamos oferecendo. O curso dá os instrumentos necessários para o aluno atuar com Geografia Agrária e Urbana e, na UFMG, ele tem como complementar sua formação, até em algumas áreas, que nem são novas, mas estão em destaque – como o Sensoreamento Remoto – e Cartografia Digital.
Onde estão trabalhando os geógrafos?
Além das salas de aulas, temos geógrafos nos órgãos públicos, nas secretarias de Meio Ambiente e de Planejamento, nas assessorias de prefeituras e em empresas. Os alunos podem fazer licenciatura e bacharelado, o que amplia as chances de atuação. A UFMG oferece, também, o mestrado e o doutorado, que não têm interessado apenas aos geógrafos, mas a profissionais como arquitetos e engenheiros.
Os alunos têm muita aula prática?
O diferencial do curso é, exatamente, a carga de atividades de campo que ele tem e que começa no segundo período. Temos procurado fazer um “campo multidisciplinar”, entrosando as diferentes disciplinas, porque algumas exigem uma carga de campo muito grande. Em Diamantina, temos a Casa da Glória como base para nossos estudos. Os alunos vão para lá e realizam atividades muito interessantes. Já os alunos do curso noturno, fazem as atividades de campo nos finais de semana.