Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular
Dúctil e flexível
Nascido no Vale do Aço, berço da siderurgia mineira, Alysson Werneque Pereira, de 23 anos, não teve qualquer dúvida ao escolher Engenharia Metalúrgica para graduação. A experiência do pai, funcionário da Companhia Vale do Rio Doce, reforçou a opção. “O curso é excelente, o mais bem conceituado do país. Por isso, formar na UFMG já é um passaporte para qualquer emprego”, atesta Alysson, também presidente do Grêmio Minerometalúrgico Louis Engsch, uma entidade supervalorizada por alunos e professores, pois é ela uma das responsáveis pelo forte laço existente entre o curso e o mercado de trabalho. Segundo Alysson, a metalurgia está em ascensão no mundo. “Só a China cresce anualmente o que o Brasil produz por ano”, compara o estudante do nono período, para quem a grande maioria dos engenheiros formados na área não tem qualquer problema de colocação.
Alysson está em seu quarto estágio desde que entrou no curso. O primeiro, quando fazia o sexto período, aconteceu durante as férias, na Usiminas, onde acompanhou o setor de laminação. “O estágio é muito bom, abre a cabeça da gente”, diz ele, ao lembrar que estagiou, também, na Companhia Belgo-Mineira e na Fundiligas. Neste último, Alysson ficaria por um ano, mas passou no apurado processo de seleção de estagiários da Companhia Vale do Rio Doce, uma maratona que durou quase cinco meses. O candidato podia escolher a área em que gostaria de trabalhar e optou pela extração de bauxita. Entretanto, a empresa requisitou Alysson para trabalhar no “projeto titânio”, fazendo o acompanhamento de testes e estudos de viabilidade econômica para a exploração do material.
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ALYSSON: apego à metalurgia desde o berço |
É também na Companhia Vale do Rio Doce que trabalha o engenheiro metalurgista Thiago Vinícius Alves Moreira, de 24 anos. Contratado, depois de passar por um período como trainee, ele não está ligado à produção e, sim, ao setor de finanças, realizando estudos de mercado e valoração de projetos para a área de não-ferrosos. Thiago optou por finanças a partir de experiência anterior de estágio, na White Martins, empresa de produção de gás industrial. Quando começou o estágio atual, o estudante tinha passado pela Vallourec & Mannesmann e, também, havia sido bolsista de Iniciação Científica na área de Perfilometria. “Foi tudo se encaixando”, lembra ele. Ao mesmo tempo que começava o estágio na White Martins, candidatou-se a um intercâmbio na Universidad Rey Juan Carlos, na Espanha (Madri), promovido pela Diretoria de Relações Internacionais da UFMG. “Fui selecionado e tive que negociar com a White Martins para continuar o estágio quando eu voltasse”, conta. Durante três meses, Thiago trabalhou na Universidade espanhola num projeto de tratamento térmico de ligas de alumínio.
As oportunidades foram surgindo e Thiago acabou parando na Companhia Vale do Rio Doce, não sem antes ter sido aprovado em dois outros processos de seleção para estágios de carreira, na Companhia Belgo-Mineira e na Alumar, uma empresa do Maranhão. “Para mim, foi muito interessante o tempo de estudante, porque tive a chance de experimentar várias áreas e escolher a em que estou hoje”, diz Thiago, analista de comercialização e mercado. Segundo ele, não é nada estranho um engenheiro metalurgista atuar nessa posição. “Tenho colegas que estão trabalhando até em bancos, prestando consultoria financeira”, afirma.
Ao contrário de outros cursos que se transformaram em Engenharia de Materiais – já que existe uma tendência irreversível de utilização, nas mais diferentes indústrias de transformação, de outros tipos de materiais, como os polímeros –, a UFMG decidiu pela permanência do curso de Engenharia Metalúrgica como tal. O professor Paulo Pinheiro da Silva Neto, coordenador do Colegiado de Graduação, explica que a decisão foi tomada em função da forte vocação metalurgista no país, e, em especial, em Minas Gerais, como grande produtor de metais. A UFMG não desprezou, entretanto, a realidade e oferecerá ao aluno dois percursos em um mesmo curso, o que atenderá à tradição e à inovação.
Quais são as competências do engenheiro metalurgista?
O espectro de ação dos engenheiros, em geral, compreende pesquisa, desenvolvimento, projetos, construção, operação, marketing, comercialização e administração. Na área da Metalurgia, o profissional estará voltado para a indústria de extração do metal, que tem sido, desde a Revolução Industrial, o principal material de construção de máquinas e equipamentos mecânicos e elétricos.
O engenheiro é responsável pelo processo desde a extração do metal até sua transformação? E qual a participação dele no desenvolvimento de outros materiais?
Ele atua em toda a cadeia. A Engenharia Metalúrgica, em todo o mundo, está se transformando na Engenharia de Materiais. De 1780 até 1950, os metais eram os materiais mais relevantes para todas as Engenharias. A partir daí, os polímeros (plásticos) e as cerâmicas se tornaram muito importantes. E também os materiais eletrônicos e os biomateriais – para próteses, por exemplo. Hoje, temos todas essas categorias de materiais e o papel especial dos metálicos praticamente desapareceu. Então, a Engenharia Metalúrgica se transformou em Engenharia de Materiais.
Eber Faioli |
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Muitos estágios deram segurança ao engenheiro TIAGO |
Essa é uma tendência na UFMG também?
Propusemos um curso de materiais para a Universidade, mas ele não foi aceito porque se resolveu que não deveria haver dois cursos. Daí, elaboramos um projeto que estabelecerá no curso dois percursos, um voltado para a Engenharia Metalúrgica e outro para a Engenharia de Materiais.
Mas por que não foi aceita a transformação do curso em Engenharia de Materiais?
Porque estamos em Minas Gerais, onde está o grosso da indústria siderúrgica brasileira, onde está a indústria de mineração de ferro. Estamos numa região de ferro, de mineração e siderurgia muito importante. Essas indústrias são muito valorizadas no país e, também, no mundo. Entretanto, a oferta de engenheiros metalurgistas no mercado de trabalho é pequena, pois, desde o surgimento da Engenharia de Materiais, os novos cursos são todos nessa área. Somente as universidades antigas, as melhores do país, mantêm cursos de Engenharia Metalúrgica, o que faz com que a oferta de profissionais seja pequena para um mercado que é muito forte.
Numa nova estrutura do curso, o estudante poderá fazer os dois percursos?
Poderá fazer disciplinas nas duas áreas, mas esperamos que a imensa demanda na área metalúrgica seja satisfeita. Não queremos abrir mão desse mercado, mas não podemos dispensar o futuro, que está no ramo de materiais plásticos, cerâmicos e eletrônicos e de biomateriais.
Qual é a infra-estrutura do curso?
Todos os professores da Engenharia Metalúrgica são doutores. Temos cerca de 15 laboratórios e existe uma grande participação de estudantes na Iniciação Científica. É também comum a oferta de estágios em grandes empresas, com as quais mantemos longo relacionamento, desde a década de1970. Existe uma grande interação, pois prestamos consultoria e realizamos trabalhos para elas.