Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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A cabeça que conduz a bolsa de couro

Ciências Sociais

Diretamente ligado ao estudo científico do comportamento social, curso eleva conhecimento sobre nós próprios

A descoberta das Ciências Sociais por Fabrício Mendes Fialho, de 21 anos, foi por via indireta. Quando cursava Administração, em Montes Claros, ele tomou contato com disciplinas da área de Sociologia e percebeu que seu interesse estava cruzado. “A Administração usa muitos conhecimentos das Ciências Sociais, mas vi que eu tinha que partir para o estudo direto na área”, lembra. Sem abandonar o outro curso, preparou-se para o Vestibular na UFMG e, hoje, no sétimo período, descobriu, também, que a pesquisa o atrai muito mais do que o desejo inicial de ser professor do Ensino Médio, um mercado de trabalho que está em expansão para os profissionais da área. “Ia fazer licenciatura, mas mudei para o bacharelado. Meu perfil combina mais com o de pesquisador”, diz, ressaltando que vai fazer mestrado assim que se formar.

Firme em seu próposito, no ano passado, Fabrício conquistou uma bolsa no Programa de Aprimoramento Discente e, desde então, trabalha num projeto de abrangência internacional, coordenado por professores do curso. Na Pesquisa da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) que integra o projeto Social Hubble, desenvolvido na UFMG juntamente com a Universidade de Michigan (Estados Unidos).

Eber Faioli

O mestrado faz parte, também, dos planos de Karina Cursino, de 22 anos. Colega de Fabrício na pesquisa da RMBH, ela direciona sua formação para Sociologia e Antropologia. “Fiz o Vestibular para Ciências Sociais porque me apaixonei pelas aulas de Sociologia no colégio”, recorda. Aluna do oitavo período, Karina descobriu sua afinidade com a área de metodologia quantitativa a partir da participação na pesquisa, que, segundo ela, ajudou muito a identificar a preferência entre tantas opções das Ciências Sociais.

A opção da socióloga Maria Angélica Franco Prados, de 47 anos, já estava definida desde o momento em que se imaginou trabalhando na área. “Meu incômodo, desde a adolescência, era com a injustiça social. Por isso, quando fui fazer Vestibular escolhi Ciências Sociais. Achava que o curso me explicaria o funcionamento da sociedade e, dessa forma, eu poderia ajudar nos processos de mudanças que desejava.” Passados 25 anos, ela continua trabalhando no fortalecimento dos movimentos sociais, auxiliando na construção, no planejamento e na execução de políticas públicas que preconizam a participação popular.

O currículo de Maria Angélica é enorme e muito variado, uma característica comum a muitos cientistas sociais. Uma de suas primeiras experiências se deu na Secretaria de Estado de Trabalho, na década de 1980, quando ajudou na implantação de uma proposta de planejamento participativo junto a pequenos produtores rurais, no Norte do estado. Porém, foi nesse mesmo projeto que Maria Angélica pôde sentir alguns dos limites da atuação profissional.

Ela foi obrigada a deixar a cidade de São Francisco por pressão de grileiros, insatisfeitos com a mobilização dos trabalhadores rurais. Apesar de amedrontada, Maria Angélica não se afastou dos movimentos sociais. Ela trabalhou com moradores de periferia, urbanização de favelas e trabalhadores rurais. Atualmente, participa de um projeto da Prefeitura de Belo Horizonte, de recuperação de nascentes. “A idéia é tratar a água em vez de canalizá-la. Para fazer isso, o programa precisa de planos de desapropriação e de reassentamento de famílias, o que, é claro, depende de ampla negociação”, diz, ao frisar que o cientista social deve entender os diferentes interesses que permeiam as relações e saber lidar com os conflitos, explicitando-os.

Olho no cotidiano

O coordenador do Colegiado de Graduação das Ciências Sociais, professor Bruno Wanderley Reis, enumera preceitos básicos para quem se interessa pelo curso: “Ter uma curiosidade sincera pela resposta a problemas que parecem não ter respostas e um interesse humilde diante do mundo, tolerante e aberto aos vários pontos de vista”. A tais características, pode-se somar enorme disposição para leituras, muito além das teorias, pois o cientista social estará lidando com as questões do cotidiano das pessoas, das organizações e instituições, auxiliando na explicitação e na solução dos problemas sociais.

Eber Faioli
MARIA ANGELICA optou pelo curso para entender o funcionamento da sociedade

Este é um bom momento para as Ciências Sociais no país?

Não sabemos exatamente explicar o que houve, mas, de 10 anos para cá, temos registrado um aumento na procura do curso. O “efeito Fernando Henrique” é uma hipótese, pois o fato de um Presidente da República ser sociólogo pode chamar a atenção para a profissão, porque ela fica em evidência. Mas acredito que esse interesse maior é porque as Ciências Sociais têm se profissionalizado mais e o mercado se diversificado. Também os cursos estão numa fase de maior cristalização em todo o país.

Imagina-se que, ao optar pelas Ciências Sociais, o candidato já tenha, de alguma forma, despertado para os problemas sociais e políticos. O curso atende a essa expectativa?

O interesse inicial envolve, muitas vezes, um certo voluntarismo, uma ânsia de mudar, de tomar para si os problemas e ajudar na sua solução. E é para isso que as Ciências Sociais servem, sem dúvida. Por outro lado, ao chegar aqui a pessoa sofre um impacto. Ela aprende o quanto os problemas estão adiante, digamos, do bem e do mal, além do fato de que, eventualmente, ela poderia com uma rápida intervenção consertar a sociedade. A pessoa percebe que as possibilidades de intervenção costumam estar associadas a políticas de efeito a longo prazo, em cujo processo de construção, os cientistas sociais são parte importante.

O momento é favorável em termos de mercado de trabalho?

O mercado de trabalho para os cientistas sociais não anda fácil, como não anda para qualquer profissional. Porém, ele tem se diversificado de maneira interessante. Durante muito tempo, as Ciências Sociais formaram praticamente para a academia e para o serviço público, apesar da restrição, também, desses mercados. Isso mudou. Hoje, temos o ensino de Sociologia no Ensino Médio e a procura por licenciatura tem aumentado muito. Instituições variadas têm contratado cientistas sociais. Temos os institutos de pesquisa, organizações não-governamentais que trabalham quase sempre com os movimentos sociais, fundações associadas às empresas. Até a Polícia Militar tem absorvido profissionais dessa área.

O quadro político no Brasil interfere na demanda por esses profissionais?

O que mais influencia na demanda é a complexificação da sociedade, que, sendo mais simples, pouco desenvolvida, dificilmente vai absorver microbiólogos, geneticistas e, também, sociólogos. À medida que a sociedade se torna mais complexa, todas essas especializações encontram uma crescente absorção pelo mercado de trabalho.