Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Muito além de músculos

Educação Física

Com formação nas áreas de Biologia, Humanas e Educação, profissionais podem atuar muito além das atividades físicas e de esportes

Eber Faioli
FABIANO estimula inclusão por meio de atividades esportivas

A importância das atividades físicas, há algum tempo, ganhou força no cotidiano das pessoas como uma forma de promoção de saúde. E não é por menos que o curso de Educação Física passou a ser muito mais procurado, apesar de ainda prevalecerem velhos mitos em torno da área. Segundo o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Hélder Ferreira Isayama, a primeira descoberta do aluno de Educação Física é a de que o profissional não lida apenas com práticas e técnicas esportivas.

Além das práticas e das técnicas esportivas, o que o estudante de Educação Física aprende?

Ao entrar no curso de Educação Física, o estudante tem contato direto não somente com a Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, mas também com o Instituto de Ciências Biológicas e com a Faculdade de Educação. Isso já demonstra que a base do conhecimento aqui desenvolvido vem de diferentes áreas das ciências. O aluno terá disciplinas voltadas para o conhecimento filosófico, do ser humano, da sociedade e das técnicas referentes à atuação profissional no campo. Neste sentido, o curso apresenta uma gama de possibilidades de atuação que ultrapassam as questões referentes às práticas e técnicas esportivas, no entanto, ressalto a importância do esporte para a constituição dessa área de estudos e de intervenção.

Quando o curso privilegia esses parâmetros, o que ele pretende?

É fundamental pontuar que a Educação Física não lida apenas com músculos e ossos, mas com o ser humano, que está envolvido num contexto histórico e social. O profissional da área não pode tratar do ser humano somente do ponto de vista biológico. Em nosso próprio espaço de atuação, é possível observar que quando uma pessoa procura uma academia de ginástica, por exemplo, ela tem demandas diferentes – de lazer, de saúde, de socialização, etc. Por isso, é preciso pensar que a ação desse profissional está alicerçada, principalmente, nas áreas biológicas, humanas e sociais.

Quem é esse profissional?

Formamos alunos na licenciatura e no bacharelado e, nas duas áreas, existe um mercado crescente. O licenciado é o profissional qualificado para atuar no campo de estudos e de intervenção da educação física escolar – Pré-Escola, Ensinos Fundamental e Médio – e o bacharel tem como o objeto o âmbito não escolar – clubes, academias, hotéis de lazer, escolas de esporte, hospitais, etc. O licenciado poderá formular, realizar e avaliar projetos educativos que levem em consideração a totalidade escolar e a formação da cidadania. O bacharel poderá desenvolver ações relacionadas a orientação de atividades físicas, coordenação técnica de esportes, desenvolvimento de programas de lazer e realização de pesquisas científicas relacionadas ao movimento corporal humano.

Eber Faioli

Mas qual é a necessidade desse tipo de profissional no mercado? Atividades de esporte e lazer se aprendem com a prática?

Na atualidade, o profissional de Educação Física tem sido valorizado no mercado, mas, ainda, com uma visão restrita e estereotipada. No entanto, a formação profissional contempla além da dimensão técnica, a filosófica, a pedagógica e a sociocultural. Portanto, não é necessário ser um exímio nadador ou jogador de basquete para exercer a profissão. O profissional qualificado precisa apreender um conjunto de competências gerais e específicas para o planejamento, execução, orientação e avaliação das propostas ligadas a as práticas corporais de movimento, além dos fundamentos teórico-práticos essenciais ao encaminhamento dessas ações.

Brincadeira, mas muito séria

O lazer e o esporte associados aos programas sociais fazem parte do cotidiano de Fabiano Sena Peres, de 27 anos. Há dois anos, ele coordena, na Região Oeste da capital, o BH Cidadania – um projeto da Prefeitura que estimula a inclusão de crianças e adolescentes por meio de atividades esportivas. Fabiano trabalha diretamente com meninas e meninos que moram no Morro do Cascalho, uma parte do aglomerado do Morro das Pedras, onde a violência e a desagregação social marcam diariamente a vida dos moradores. “É uma ação muito interessante, porque nosso objetivo é a socialização dos participantes, o que não é algo muito fácil diante da realidade vivida por essas crianças, mas é, por outro lado, muito gratificante perceber nossa influência nesse processo social”, assinala.

No trabalho de Fabiano, o esporte e o lazer fazem parte de uma construção social e, por isso, assinala ele, o projeto não é algo que chega pronto e acabado para quem dele vai participar. “Temos uma preocupação educativa permanente”, explica, destacando que foram as próprias crianças e adolescentes que definiram as atividades, que não se limitam às esportivas ou de lazer. “Aproveitamos o grupo para sempre discutir questões e problemas que eles mesmos apontam ou que nós percebemos que é uma preocupação entre eles, como a sexualidade ou, mesmo, a violência, que, muitas vezes, os impede de estar com a gente”, destaca Fabiano.

Antes de começar as oficinas de esporte e de lazer, Fabiano e os professores que integram esse projeto fizeram um diagnóstico da comunidade onde iriam trabalhar e chamaram pais e crianças para opinarem sobre as ações. “Com isso, conseguimos montar um projeto que eles sentiam que tinha a ver com eles, porque só assim conseguimos manter a participação”, acredita.

Foca Lisboa
CLÁUDIA atesta que é muito comum o estudade de Educação Física trabalhar antes de se formar

Quando fez o concurso da Prefeitura para Técnico em Educação Física, Fabiano estava concluindo a especialização em Lazer, feita na própria Faculdade de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, onde se formou em 1999. “Eu acreditei que essa seria a área que me daria retorno profissional, mesmo porque já trabalhava com o lazer antes mesmo de me formar”, conta ele.

Trabalhar antes de se formar é uma realidade muito comum entre os estudantes de Educação Física, atesta a aluna de Licenciatura, Cláudia Heringer Henriques, de 24 anos, do oitavo período. Ela mesma dá aulas em um colégio particular duas vezes por semana. “A Educação Física oferece muitos estágios, mas a gente sabe que nem sempre isso é um lado positivo, porque muitos estagiários ocupam o espaço de profissionais”, admite Claúdia, que vem se especializando em Ginástica Olímpica em meio à graduação.

Essa não é, entretanto, a primeira experiência de Claúdia em atividades extraclasse. Logo que entrou na Escola de Educação Física, no quarto Vestibular que fez, ela começou a participar do Grupo de Estudo Lazer e Recreação. “Entrei por causa do projeto que o grupo tinha no Ambulatório São Vicente”, recorda, referindo-se a uma das Unidades do Hospital das Clínicas que atende crianças. “Fazíamos visitas semanais, desenvolvendo atividades de lazer com os pacientes”, diz ela, que não participa mais dessas atividades, mas continua no grupo de estudo para discussão de temas importantes para o curso.