Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Física

Físico promove viagens profundas ao conhecimento na tentativa de compreender a mãe natureza

A possibilidade de entender a natureza de forma racional e de buscar a aplicação da Física no cotidiano das pessoas, melhorando a existência delas no mundo, norteou as escolhas de Henrique Bücker Ribeiro, aluno do sétimo período do bacharelado, e de Esdras Viggiano de Souza, também no sétimo período, mas de licenciatura. Ambos tinham grande interesse pela Física durante o Ensino Médio e decidiram seguir a carreira de físico, mesmo sabendo das dificuldades encontradas no mercado de trabalho. “Penso no mercado de trabalho, mas gosto do que faço e ralo pra caramba. Por isso, acho que vou conseguir me realizar na Física”, afirma Henrique

Filho de físico e professor na UFMG, Henrique conheceu os laboratórios do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) bem antes de fazer o Vestibular. “Às vezes, meu pai me pedia para ajudá-lo. Acabei me interessando pelo funcionamento das coisas de uma forma diferente. Acho que o sentido em estudar Física está na sua aplicação no dia-a-dia, facilitando a vida”, sustenta. A afinidade com a pesquisa fez com que Henrique trilhasse o caminho da Iniciação Científica. Como bolsista, ele colabora com três projetos diferentes no Laboratório de Ressonância Magnética.

Foca Lisboa

Envolvimento em projetos confirmou o interesse de HENRIQUE pela pesquisa

Em um dos projetos, o aluno tenta entender o “defeito” que provoca a tonalidade da cor da apatita, uma gema de valor comercial. “Compreendendo esse defeito, podemos até mudar a cor da pedra”, explica ele. Em outro estudo, a busca de Henrique é pelo desenvolvimento de um novo material, a partir de nanotubos de carbono, que pode vir a ser aplicado na produção de tevês de bolso ou marcadores de célula. “O bom mesmo é pensar que essas realizações são possíveis”, ressalta Henrique, que já decidiu o que não será: professor do Ensino Médio. “Não tenho paciência. Se dependesse disso na Física, iria morrer de fome.”

O que causa aversão a Henrique serve de adrenalina para Esdras. Na licenciatura, ele encontrou a realização como estudante de Física e se dedica aos estudos integralmente. “O curso é puxado e, se você quiser ser um bom profissional, tem que aproveitar o tempo que está na Escola”, diz. Esdras é voluntário no Projeto de Pesquisa Espaço e Desenvolvimento da Licenciatura em Física, programa de apoio pedagógico aos professores do Ensino Médio.

Esdras participa, também, como bolsista de Iniciação Científica, de projeto de abordagem dos conceitos intuitivos da Física que são explorados nos conteúdos das provas dos Vestibulares da UFMG. “Quero ser professor e vou fazer mestrado, porque me apaixonei de vez pela pesquisa em educação”, diz, contando que, não satisfeito apenas com a licenciatura, cursa disciplinas do bacharelado. “Quando escolhi a licenciatura, foi por ser um curso para professor e, também, porque era noturno. Mas fui vendo tudo o que a Física tinha e parti, também, para o bacharelado que, tenho certeza, irá me ajudar na carreira”, assinala.

Já formado, Carlimar Moura lembra-se de que a Iniciação Científica lhe deu a oportunidade de chegar onde está no momento. Além de físico-pesquisador, é sócio de uma empresa de eletroeletrônicos, fabricante de LDR (Light Dependent Resistor), um semicondutor cuja maior aplicação está no controle da iluminação pública. O produto foi desenvolvido por dois professores do Departamento de Física que, nas pesquisas, contaram com a ajuda de Carlimar, quando ele ainda era bolsista no Laboratório de Semicondutores.

Carlimar conta que, logo que ingressou no curso de Física para fazer o bacharelado, se interessou pelos laboratórios. Num deles, trabalhou durante dois anos e meio na pesquisa do LDR. O físico chegou a dar aulas como professor substituto no próprio ICEx, mas o trabalho na empresa passou a absorvê-lo quase por completo. Convicto de sua opção profissional, Carlimar dá um conselho aos estudantes que pretendem cursar Física: “Eles têm que conhecer o Departamento, conversar com os professores. Vale ir lá e ver de perto o que vão estudar”.

Lógica matemática

Saber que o curso exige uma sólida formação em Física e Matemática e que a tônica nessas disciplinas será sempre uma realidade, ainda que de maneira diferenciada para os alunos da licenciatura e do bacharelado, é essencial para que o candidato não se decepcione quando a escolha recair no curso de Física. O gosto por essas disciplinas e a curiosidade pelo funcionamento lógico, racional e científico do mundo são a base para que o estudante se realize como profissional.

Como ciência que está presente em quase tudo com que lidamos ou que fazemos, a Física pressupõe uma aplicação enorme e, por isso, se transporta dos laboratórios de pesquisa para indústrias de diferentes especialidades. No Brasil, diz o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Agostinho Campos, essa ponte é prejudicada por causa da grande ênfase na importação de tecnologia, restringindo a pesquisa quase que às grandes universidades e centros de pesquisa públicos. Daí, a grande absorção dos profissionais na área da Educação, seja no Ensino Médio, seja no Terceiro Grau.

Brigida Campebell

Quais são as áreas de concentração do curso de Física?

O curso abrange duas áreas: Astrofísica e Física de Estado Sólido ou Física da Matéria Condensada. Estudamos a Física tanto do ponto de vista experimental quanto teórico.

Os estudantes, em geral, consideram o curso de Física difícil. Essa avaliação procede?

Existem duas modalidades no curso distintas. A licenciatura tem a função de formar o professor de Física e o bacharelado se propõe a iniciar o estudante na área de pesquisa. Em ambas as modalidades o curso tem projeção nacional. Nos dois primeiros anos, as duas modalidades são bastante semelhantes, abordando conteúdos principalmente de Física e Matemática que, na opinião da maioria das pessoas, são conteúdos difíceis. Para os dois últimos anos, a modalidade bacharelado é considerada pelos alunos mais “puxada” que a licenciatura devido ao estudo mais aprofundado de conteúdos de Física e Matemática. Nesse período, os alunos de licenciatura se envolvem com mais ênfase na prática de ensino e conteúdos didático-pedagógicos, preparando-se para a profissão de professor.

Quais são as áreas de concentração do curso de bacharelado em Física?

O curso de Física abrange basicamente duas áreas: Astrofísica e Física da Matéria Condensada. Entretanto, devido à diversidade da formação de seus professores-pesquisadores e à flexibilidade de sua estrutura curricular, o curso pode ser direcionado tanto para essas como para outras áreas da Física – como Física de Partículas ou Óptica Quântica – ou para enfoques específicos – como Física dos Materiais, Física Matemática, Física Médica e Biofísica.

O que são as duas áreas básicas de concentração do curso?

A Astrofísica estuda o universo e seus componentes – como cometas, planetas, estrelas, galáxias, etc. A Física da Matéria Condensada estuda a estrutura e as propriedades da matéria resultante da ligação de grande número de átomos e moléculas. Fenômenos observados em nossa vida diária, como o magnetismo, o estado cristalino, a supercondutividade, também são objeto de pesquisa dessa área.

O emprego para o físico, exceto no caso do professor, é uma incógnita para a população em geral. Onde esse profissional pode trabalhar?

Fora a atividade mais óbvia para o físico que é lecionar, existe uma série de outras atividades exercidas pelos físicos, entre as quais a mais difundida é a pesquisa em universidades e centros de pesquisa. Para se qualificar como pesquisador, o físico deve complementar a graduação com os cursos de mestrado e doutorado, que abrangem cerca de mais seis anos de estudos. Devido à sua sólida formação, o físico costuma ocupar postos de trabalho em outras áreas que exigem esse tipo de conhecimento – como meterologia, geologia, computação, etc. Nos países desenvolvidos, graças à produção de tecnologia, a participação dos físicos no mercado de trabalho das indústrias é significativo. No Brasil, a opção por compra de tecnologias prontas tem limitado muito a absorção de físicos na indústria.

Está aí um ponto em que a macroeconomia interfere numa profissão?

Certamente. E se fosse feito algo para reverter isso, se o Brasil passasse a consumir mais tecnologia desenvolvida no próprio país, precisaríamos formar muito mais físicos do que formamos hoje.