Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Geologia

Estudando a formação do Planeta, geólogo aponta soluções e riscos de lidar com o solo

A Hidrogeologia é, na Geologia, o campo de interesse de Daniel Perez Bertachini, de 21 anos, aluno do nono período. Ao longo do curso, ele foi se enfronhando nessa área e agora, a um semestre da formatura, pretende se especializar, porque acredita que o mercado de trabalho é muito favorável. “Não existem muitos profissionais que se dedicam à Hidrogeologia, que pode ser considerada uma área nova para os geólogos. Além disso, estarei lidando com questões do meio ambiente que me interessam muito”, diz.

Daniel é filho de geólogo, mas acha que a influência do pai não foi grande na decisão de fazer o curso. “Eu fiz eletrônica no Curso Técnico, tinha habilidade com as disciplinas de Exatas, mas não apareceu vontade de fazer qualquer uma das Engenharias”, lembra o aluno. Segundo ele, a Geologia é uma área que demanda conhecimentos sólidos em Ciências Exatas e apresenta contato intenso com a natureza. Entretanto, o candidato a uma vaga na Geologia, avisa Daniel, deve tomar muito cuidado com a escolha, porque pode ser iludido por uma imagem falsa de que o curso é simples, porque não é muito concorrido. “Muita gente desiste porque, só durante o curso, fica sabendo o quanto ele é pesado, que é preciso estudar muito pra dar conta”, afirma.

Rita da Glória

Durante seis meses, Daniel se dedicou, como voluntário, a um projeto de pesquisa de Hidrogeologia, analisando o abastecimento público de água da cidade de Araguari (Triângulo Mineiro), feito a partir de poços artesianos. Apesar de ter gostado da experiência na pesquisa, preferiu correr atrás de estágios em empresas. Por um ano, estagiou numa companhia especializada na perfuração de poços em Minas Gerais e na Bahia.

O amor pela natureza e o fascínio pela origem da terra conduziram Isabel Eustáquia Volponi, de 34 anos, à Geologia. Mas, desde estudante, ela sentia que sua satisfação com a profissão só seria completa se houvesse uma aplicação direta do seu trabalho no dia-a-dia das pessoas. “O que me interessava na Geologia não era a área de mineração ou algo parecido. Me despertei para a Geologia urbana, porque a relação do homem com a cidade sempre me intrigou”, diz ela, lembrando que sua preferência ficou clara no primeiro emprego na Urbel (Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte), onde, hoje, ela atua.

Isabel participou da realização do diagnóstico das áreas de risco da Capital, um trabalho focado nas vilas e favelas da cidade. Diagnósticos desse tipo servem de base para as realizações da Prefeitura tanto com relação à urbanização dos lugares quanto para medidas de desocupação. “Foi quando entendi que estaria intervindo diretamente junto à comunidade, porque o geólogo é fundamental nessa atividade, identificando detalhadamente os terrenos que são próprios, ou não, para a ocupação”, explica Isabel. Depois de quatro anos na Urbel, ela foi trabalhar na Sudecap, como parte do grupo gerencial de meio ambiente, para o que fazia relatórios sobre as condições geotécnicas e geológicas dos locais onde seriam realizadas obras de infra-estrutura.

Para Isabel, a cada dia, é possível se observarem campos novos de trabalho abertos pela Geologia. “Estamos num processo que tem demonstrado a importância do geólogo nas ações públicas. Está ocorrendo uma conscientização das prefeituras, por exemplo, de que não devem substituir um geólogo por um engenheiro, de que o trabalho tem que ser multidisciplinar e de que as visões se completam”, afirma.

Favorável mercado de trabalho

Para estudar Geologia, basta curiosidade. É o que pensa o professor Luiz Guilherme Knauer, coordenador do Colegiado de Graduação. “O aluno tem de ser curioso, basicamente. O resto o curso resolve”, assegura. Ele lembra que a Geologia é a ciência que conta os quatro bilhões de anos da história do Planeta, daí a importância da curiosidade. Além disso, um pouco de espírito de aventura é sempre bom para quem vai enfrentar a área, pois os trabalhos no campo são constantes, apesar de uma tendência, cada vez mais evidente nos grandes centros urbanos e, também, nas médias cidades, de grande crescimento da Geologia Urbana.

O que faz um geólogo?

O geólogo trabalha com a natureza. Basicamente, é uma profissão da relação do homem com a natureza e ligada diretamente com mineração. Se você tirar de um automóvel tudo que tenha a ver com Geologia, não sobra nada. O geólogo trabalha muito com depósitos minerais, na descoberta e na exploração, no mapeamento e compreensão da distribuição dos tipos rochosos, dos tipos de depósitos a eles associados. Ele atua, também, junto ao meio ambiente e talvez seja o profissional mais preparado para gerenciar essa área. Da mesma forma que descobre depósitos minerais cuja extração, eventualmente, vai prejudicar o meio ambiente, o geólogo é quem está preparado para propor ações mitigadoras ou corretivas.

Novas áreas de atuação estão surgindo?

Nesse momento, surgem algumas áreas novas, como a Geologia Ambiental e a Geologia Urbana. Uma cidade como Belo Horizonte, construída sobre morros, espelha, também, a conseqüência da falta de geólogos na sua construção, seja atuando no planejamento da cidade, seja na solução dos problemas causados pela falta desse planejamento. Esse é um campo fantástico aberto ultimamente e que tem sido percebido pelas administrações municipais.

Divulgação

Interessado em Hidrogeologia, DANIEL avisa que curso exige muito estudo

Esse é um fenômeno dos grandes centros ou acontece, também, em pequenas localidades?

Estamos observando uma tendência de se ter ações de planejamento sempre com geólogos como consultores. Quem diz para onde a cidade deve crescer é o geólogo, que avalia se o terreno é bom, ou não. Neste momento, as cidades de porte médio estão contratando geólogos para gerenciar, para direcionar o seu crescimento.

A idéia de que o geólogo trabalha apenas no campo ou em locais afastados é ultrapassada?

Sim. Tem o geólogo que trabalha no campo, o que atua em plataformas de petróleo e, agora, o geólogo urbano, que opera nessa relação com a cidade, principalmente em áreas ocupadas pela população mais carente.

Existe uma relação entre o geólogo e outros profissionais?

Enorme. A mais clara atualmente é a do geólogo com o arquiteto. Do geólogo com o engenheiro já existia, no planejamento de estradas, túneis e ferrovias. Com o engenheiro de minas, sempre houve relação por causa dos depósitos minerais. Agora, começa a surgir uma nova relação, bem interessante, do geólogo com o historiador. Os geólogos passaram a trabalhar com o patrimônio natural. E, com a geografia, há uma relação histórica, em especial na parte de geomorfologia, evolução de solo, de relevo.

E o campo de trabalho anda bom?

Já foi ruim, mas, neste momento, é excelente, considerando-se as outras profissões. São poucos os geólogos formados por ano, são só 19 escolas no país todo, todas com pequeno número de vagas. A UFMG forma menos de 35 anualmente. É uma profissão que tem empregado muito, principalmente a Geologia Urbana, a Prospecção e a Hidrogeologia, que trabalha com águas subterrâneas. Órgãos públicos, como a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, e empresas privadas, como a Companhia Vale do Rio Doce, também empregam muitos geólogos.

O curso é muito prático?

Sim, tem muito trabalho de campo, onde os alunos passam mais de cem dias durante o curso, isso além de uma grande quantidade de aulas práticas. Mas a fundamentação teórica é pesada, na medida em que o Ciclo Básico tem muita Matemática, Física e Química, pois é preciso haver uma formação inicial sólida para que o profissional tenha ampla visão dos processos.