Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
Por dentro da UFMG

Inclusão
Para todos

Assistência ao estudante
Uma mão lava a outra

Cultura
Território da arte

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Engenharia Agronômica
Medicina Veterinária

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

Ciências da Saúde
Ciência da Nutrição
Educação Física
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Farmácia
Fisioterapia
Fonoaudiologia
Medicina
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Terapia Ocupacional

Ciências Exatas e da Terra
Ciência da Computação
Ciências Atuariais
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Física
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Matemática Computacional
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Engenharias
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Eng. Controle e Automação
Engenharia de Minas
Engenharia de Produção
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Engenharia Metalúrgica
Engenharia Química

Ciências Humanas
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UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Assistência ao estudante

Uma mão lava a outra

Taxa de matrícula garante recursos para que a Fundação Mendes Pimentel (Fump) invista em programas que garantem a permanência na Universidade de alunos com dificuldades socioeconômicas

Eber Faioli
MICHELLE: “Foi a Fump que possibilitou a minha vinda para cá”

Ao passar no Vestibular, Michelle Cristina Alves Silva arrumou as malas e veio de Uberaba, no Triângulo Mineiro, para Belo Horizonte. Durante um mês, ela morou na casa de uma família, tempo que levou para conseguir uma vaga na Moradia Ouro Preto, uma das quatro residências estudantis da UFMG mantidas pela Fundação Mendes Pimentel – entidade que cuida dos estudantes, em especial dos carentes, dando-lhes assistência socioeducacional, econômica e de saúde. “Foi a Fump que possibilitou a minha vinda para cá. Eu não teria a menor chance de estudar sem trabalhar, o que é quase impossível para quem faz um curso diurno”, salienta Michelle, de 23 anos, aluna do sétimo período do curso de Artes Cênicas.

Há quase um ano, Michelle não mora mais na Ouro Preto, o conjunto de prédios localizados no bairro de mesmo nome, vizinho ao campus Pampulha, onde dividia um apartamento de seis quartos individuais, dois banheiros, sala e cozinha – no mesmo conjunto, existem quitinetes, onde moram apenas dois alunos, e todos os moradores têm acesso à Internet, em seis salas equipadas com 42 computadores. Michelle optou por deixar a residência estudantil porque começou a trabalhar em espetáculos e passou a dividir um aluguel com outras duas amigas. “Senti muito quando deixei a Moradia, porque ela sempre foi um fator de segurança para mim”, diz ela, lembrando que a ajuda que teve foi essencial para vencer os primeiros semestres do curso. “Não precisei me preocupar em pagar contas – como aluguel e luz – numa fase que é muito difícil para quem sai do interior sozinho e tem que se virar. Só mudei da Ouro Preto porque vi que poderia dar mais um passo na minha vida.”

Em Belo Horizonte, a UFMG tem, ainda, moradias nos bairros Dona Clara, Santa Rosa e Nova Cachoeirinha. Os apartamentos são ocupados por quase 400 estudantes, que disputaram as vagas a partir de critérios definidos pela Fump e que privilegiam, principalmente, o nível de carência e os novatos, no primeiro ano do curso. A maior parte das vagas – 60% delas – são distribuídas de acordo com esses dois critérios. Das restantes, 30% destinam-se a todos os outros estudantes da UFMG que se candidatam e enfrentam sorteio, e 10%, a professores e visitantes. Segundo a Presidente da Fump, professora Maria José Cabral, uma nova Moradia começa a ser erguida ainda este ano, também no bairro Ouro Preto. “O projeto está sendo aprovado na Prefeitura”, diz ela. Serão somadas cerca de 300 vagas. Os alunos de Engenharia Agronômica, em Montes Claros, também contam com Moradia Universitária.

Eber Faioli
MORADIA DONA CLARA abriga estudantes assistidos pela Fump

Michelle conta que, também, ainda se beneficia de praticamente todos os tipos de assistência que a Fump garante aos estudantes. Os benefícios são obtidos de acordo com a avaliação socioeconômica, que estende ou limita as vantagens do apoio prestado à comunidade estudantil. Logo no primeiro semestre, ela conseguiu Bolsa de Manutenção – que é reembosável depois de dois anos da formatura –, sempre teve descontos nos sete Restaurantes Universitários e usufruiu de atendimento médico e odontológico. O Atendimento à Saúde, na Fump, é feito por profissionais na sede dessa Fundação, para os estudantes mais carentes, e por profissionais conveniados, que cobram preços de tabelas. Existe uma lista de convênios com laboratórios e a compra de medicamentos é facilitada na Faculdade de Farmácia.

As Bolsas de Manutenção são destinadas aos estudantes mais carentes, mas nem todos assim classificados a possuem, pois os recursos não são suficientes. No final do ano passado, em decorrência da melhoria da arrecadação, a Fump pôde aumentar o número de Bolsas de Manutenção em mais 109 benefícios. Maria José lembra que, em tempos de crise econômica no país, os pedidos sempre se acumulam. Além dessas Bolsas, a Fump oferece aos estudantes a possibilidade de obter Bolsa de Trabalho, para trabalhar em Unidades da Administração da UFMG, e Bolsas Socioeducacionais, para exercer atividade vinculada às Unidades da UFMG e abertas ao público, como creches, e tem que estar associada à formação do candidato. Na área do trabalho, a Fundação possui, ainda, um programa de estágios, a partir de convênios com empresas e entidades públicas. Foi assim que Marcela dos Reis Ribeiro, de 22 anos, aluna do sexto período de Letras, passou a trabalhar meio horário atendendo o público que procura o Sistema Nacional de Emprego. “Ganho um pouco mais do que o salário mínimo e tenho vale-transporte”, conta ela.

Mantida pelo Fundo de Bolsa, formado pela taxa de matrícula paga pelos estudantes a cada semestre, a Fump está presente na vida de milhares de estudantes da UFMG, mesmo antes da conquista da vaga em qualquer um dos seus 46 cursos. Técnicos da entidade são responsáveis pela análise socioeconômica dos pedidos de Isenção da Taxa de Inscrição ao Vestibular, num programa coordenado pela Comissão Permanente do Vestibular (Copeve). No ano passado, o benefício foi repassado para mais de 11 mil candidatos. Este ano, o número deve aumentar, pois a Universidade decidiu pela antecipação e ampliação dos prazos dos pedidos de isenção, que terminaram em abril.

A taxa de matrícula e, mesmo, a de inscrição ao Vestibular são questionadas, inclusive na Justiça, por entidades de representação estudantil e por estudantes – que alegam o princípio da gratuidade das universidades federais –, mas são elas que sustentam todo o trabalho da Fump. “O Fundo de Bolsa tem tido uma participação cada vez mais consciente dos alunos, que o vêm como uma ação solidária”, ressalta a Presidente da Fump, lembrando que, em função dele, a Entidade não precisou fazer qualquer corte em seus benefícios. O professor José Francisco Soares, do Departamento de Estatística e membro do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, da FaE, afirma que o apoio da Fump é essencial para o aproveitamento acadêmico do aluno carente. “O papel da Mendes Pimentel é fundamental. Se a Fundação acaba, a situação fica pior, porque se cria uma maior concentração de uma elite formada por alunos que vêm das escolas particulares”, assinala.

Foca Lisboa
JOSÉ FRANCISCO, membro do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, da FaE

De família pobre, aluna do curso noturno da rede estadual, acostumada ao trabalho desde os 15 anos, Marcela entende perfeitamente a posição de José Francisco. Durante dois anos, ela tentou o curso de Ciência da Computação, desistiu e mudou para Letras. “Sempre fui muito indecisa”, justifica. No segundo período, ela percebeu a necessidade de se dedicar com afinco aos estudos e tomou uma decisão corajosa ao largar o emprego num escritório de Contabilidade. “Deixei o emprego e fui procurar Bolsa de Trabalho imediatamente, porque era mais conveniente à minha posição de estudante”, lembra ela. A aluna de Letras utiliza, também, com freqüência, os benefícios de saúde da Fump. “Não tenho nenhum plano de saúde”, ressalta. Para ela, “a assistência da Fump é muito boa e faz grande diferença” para alunos que, do mesmo modo que ela, poderiam não estar estudando se não fossem os auxílios. “Seria complicadíssimo me manter na UFMG sem a Fump. Pode até ser que eu ficasse, mas nem imagino em que condições estaria levando o curso.”

Michelle concorda com a colega de Universidade: “A Fump é uma tranqüilidade para mim e tenho certeza de que esse tipo de assistência é que faz com que muita gente se forme”, reforça ela, lembrando que já obteve, também, bolsa de pesquisa de Iniciação Científica, como uma forma de se manter financeiramente ao mesmo tempo que se dedicava a estudos que lhe interessavam muito, como os dois projetos que desenvolveu sobre Fausto, a obra do alemão Goethe. O Programa de Iniciação Científica, coordenado pela Pró-Reitoria de Pesquisa, estende-se a centenas de alunos de todas as Unidades interessados em criar uma relação de intimidade com a pesquisa, trabalhando em projetos de professores ou, mesmo, desenvolvendo o próprio projeto.