Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

Editorial

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No “olho do furacão”

Pedagogia

Novas e variadas influências nos processos educacionais e expansão do mercado de trabalho fazem com que Pedagogia vivencie momento de ebulição

As rápidas mudanças ocorridas nas últimas décadas e resultantes do grande desenvolvimento tecnológico e da diversidade quase sem limite da informação influenciam diretamente os rumos dos processos educacionais. Não surpreende, então, que os pedagogos estejam no “olho do furacão” e, como diz a professora Adriana Duarte, subcoordenadora do Colegiado de Pedagogia, vivendo os reflexos de um momento de ressignificação do papel social da Escola.

Mais do que nunca, a escola e o educador têm sido questionados pela sociedade. Este é um bom momento para a Pedagogia?

Sim, pois é um momento de mudança e de ressignificação do lugar e do papel social da Escola. Nesse sentido, é também o momento de o pedagogo assumir um papel de protagonista nesse processo de mudança.

Foca Lisboa
VERIMAR: política pedagógica só com participação

Quais são os principais e atuais problemas da educação no Brasil?

A Escola precisa acompanhar o intenso processo de transformação trazido, por exemplo, pelos avanços da ciência tecnológica. O mundo da informação, da informatização, da globalização obriga a Escola a repensar seu papel. Se, até pouco tempo, a Escola era a grande agência de informação, hoje, ela aparece como espaço de formação crítica diante da quantidade de informação a que as pessoas estão expostas. É importante salientar que essa informação não é apropriada da mesma forma por todos. A classe social, o espaço geográfico e a cultura de origem dos grupos sociais trazem mudanças na forma de interagir com o mundo. Nesse sentido, outro problema a ser enfrentado pela Escola é o de saber lidar com a diversidade cultural presente na sociedade brasileira.

De que forma o educador está enfrentando esses problemas e em que medida esse profissional pode contribuir para as soluções?

Muitas propostas pedagógicas e programas educativos vêm sendo desenvolvidos, nos últimos tempos, pelos sistemas educacionais nos âmbitos municipal, estadual e federal, por ONGs e por outros diversos movimentos. Esses projetos e programas têm procurado enfrentar a diversidade da sociedade brasileira no que tange às desigualdades sociais, socioculturais e econômicas. Como exemplo, podemos citar os programas Escola Plural, em Belo Horizonte, a Escola Cidadã, em Porto Alegre e a Escola Candanga, no Distrito Federal, entre outros, que procuram alterar a organização da escola convencional na perspectiva da educação formal.

Quais são as perspectivas de atuação de um pedagogo?

Ele poderá atuar como professor e como coordenador pedagógico da Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos. Pode, ainda, trabalhar na gestão e coordenação de sistemas de ensino e como educador social junto a ONGs, movimentos sociais, instituições filantrópicas. Hoje, encontra-se, também, o pedagogo atuando em equipes multidisciplinares em hospitais, empresas, etc.

Quais são as possibilidades de pesquisa e de prática no curso?

Hoje, temos estruturados o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita; o Centro de Ensino de Ciências e Matemática; o Laboratório de Produção de Material Didático; o Grupo de Educação Indígena; o Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais; o Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação; o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos; o Núcleo de Estudos e Pesquisa do Imaginário; o Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação; o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação Infantil; o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Profissão Docente; o Observatório da Juventude; o Observatório Sociológico Família e Escola. Todos esses grupos desenvolvem pesquisas e, alguns deles, trabalhos de extensão que envolvem os alunos da graduação e da pós-graduação.

Educação participativa

Trabalhando num colégio particular, no apoio às atividades da Coordenação Pedagógica, Verimar de Souza Assis descobriu sua aptidão profissional. “Sempre me perguntava por que aqueles meninos que eram chamados de rebeldes não queriam assistir às aulas. E eu sabia que eles eram muito inteligentes e que a falta de interesse tinha uma explicação”, lembra ela. A curiosidade levou Verimar ao curso de Pedagogia e, hoje, aos 39 anos, ela ajudar a pensar, na Secretaria Municipal de Educação (Smed), as práticas educativas da rede pública, onde começou a trabalhar logo depois de formada, em 1993.

Eber Faioli

Por decisão política, GUSTAVO quer dar aula para jovens e adultos

Verimar é entusiasta do projeto da Escola Plural, porque, segundo ela, é uma proposta que tem a participação e a inclusão como perspectivas principais. Sua crença na Escola Plural motivou-a a investir mais profundamente no projeto e, em 1999, eleita coordenadora da Escola Municipal Cônego Sequeira, na região do Barreiro, iniciou um processo de ampliação da política pedagógica, estimulando a criação de um Grêmio Estudantil e da Associação de Pais.

“Eu só acredito na construção de uma política pedagógica quando todos os interessados e envolvidos participam ativamente. Acho que o princípio da participação é essencial para qualquer mudança de atitude e não pode nunca ser deixado para trás”, diz ela.

“O maior desafio do educador hoje é manter os alunos nas escolas. Já conseguimos ampliar o acesso, mas temos que nos preocupar com a inclusão com qualidade”, ressalta Verimar, para quem o início de tudo está na formação de profissionais que pensem a educação como um processo que exige muita dedicação e amor pela prática.

Essas são características que marcam a trajetória do estudante do sétimo período Gustavo Barhuch de Carvalho. Ele foi monitor no curso de Formação de Agentes Culturais Juvenis, parte do programa batizado de Observatório da Juventude, que prepara jovens moradores da periferia para atuar no estímulo às atividades culturais nos bairros onde moram. Gustavo ajudou nas discussões políticas sobre a juventude e, ao mesmo tempo, participou do mapeamento dos grupos culturais em que os alunos estavam inseridos. O mais interessante nesses projetos, diz, é a perspectiva de incentivo à formação cidadã.

A experiência motivou Gustavo a desenvolver um outro projeto de pesquisa, financiado pelo CNPq. Ele investiga a construção da identidade étnico-racial de ex-participantes do curso de Agentes Culturais Juvenis a partir da inserção deles nos grupos culturais de origem. “Estou analisando como eles construíram a identidade negra, se foi de forma positiva ou negativa e o que contribuiu para isso”, explica Gustavo. Também a monografia de final de curso dele nasceu do contato com o Programa de Ações Afirmativas, coordenado por professores da Pedagogia.

Ele escreverá sobre as “Relações Educativas num Grupo de Percussão e Dança Afro na Comunidade dos Arturos”, uma comunidade formada de descendentes de escravos e localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O envolvimento de Gustavo nesses projetos mostrou a ele o caminho que pretende seguir quando formado. “Quero dar aula para jovens e adultos, porque essa é a prática educativa que me atrai, mas é também uma decisão política”, avalia. Para ele, a Pedagogia abriu-lhe um campo de trabalho muito amplo, porque o curso trata de uma questão que diz respeito a todas as ciências.