Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Viagem numa clave de sol

Música

Unindo criatividade a conhecimento e dedicação, músico espanta males do mundo

Em abril passado, o músico Eduardo Pires Rosse, de 24 anos, fez as malas e partiu para o Camboja, no sudeste da Ásia. Ele foi em busca de experiência como músico e professor do departamento de Música Ocidental, da Universidade de Phnom Penh. Eduardo, que viajou na companhia da namorada, também musicista, não estava nem um pouco apreensivo. “Vou ensinar, mas também vou estudar e é isso que eu mais quero. Pretendo me dedicar à música tradicional khmer”, disse ele.

Quando tomou a decisão de ir para o Camboja – um país muito pobre e com graves distúrbios políticos –, Eduardo havia acabado de obter o diploma de músico, com especialização em Composição. Na UFMG, ele pôde seguir a profissão que já praticava, antes mesmo do Vestibular, como guitarrista de um grupo de rock e tocando bombardino em uma banda de música em Governador Valadares, onde morava. Sem conhecer nenhuma história de músicos na família, Eduardo não abriu o espaço para essa arte sozinho. Seu irmão gêmeo, Leonardo, prestou Vestibular na mesma ocasião e também optou pela Composição. “Fiquei muito satisfeito com a minha escolha. Às vezes, o aluno entra com uma única expectativa, mas, depois, descobre o curso e se molda como profissional de uma maneira bem diferente da que imaginava”, avalia.


Foca Lisboa
Piano foi o primeiro contato da maestrina LARA com a música

As descobertas de Eduardo passaram pela presença atuante em laboratórios e outros espaços da Escola de Música, que auxiliam na prática dos estudantes. “Fui professor no Centro de Musicalização Infantil e trabalhei no estúdio do Laboratório de Etnomusicologia, onde se estuda a tradição oral na música e a função das culturas sobre ela”, explica, destacando a importância dos vários grupos musicais que convivem no curso. “Sempre é possível participar de algum conjunto ou de trabalhar em laboratórios de estúdios ou da Escola”, avisa. No Camboja, as perspectivas de Eduardo são de muito trabalho. “Vou atuar como professor particular e em restaurantes”, contou.

Lidar com desafios e romper barreiras, inclusive planejando estudos fora do país, também faz parte da vida da maestrina Lara Tanaka, de 30 anos. Filha de uma pianista e de um violinista, ela já havia se interessado pela música antes de pensar na escolha profissional que faria. Mesmo assim, o primeiro Vestibular foi para Arquitetura. “Eu me preocupava com essa história de ganhar dinheiro”, justifica Lara.

Foca Lisboa

Antes de tentar o Vestibular, Lara já havia feito o Curso de Formação Musical na Escola de Música da UFMG, onde intensificou os estudos de piano iniciados com a própria mãe. “Durante dois anos, estudei piano na Escola de Música. Achava muito bom, mas o estudo do piano é solitário e eu sentia falta de um trabalho em grupo”, pondera. Por isso, no terceiro ano do curso decidiu mudar para Regência. “Foi a melhor coisa que fiz na vida. A minha identificação foi imediata. Na primeira vez que pisei no pódio, soube que era aquilo que queria”, recorda.

Desde 2001, Lara é maestrina do Coral Infantil do Palácio das Artes. Mesmo contente com sua função, ela faz planos. Quer estudar nos Estados Unidos. A busca pela formação continuada tem duplo interesse. “O músico não pode parar e eu quero buscar experiência em orquestras”, diz. Segundo Lara, além de excelente formação, as mulheres têm que enfrentar algo mais para se realizarem na Regência. “Existe um preconceito velado, mas os desafios valem a pena, porque a música é uma coisa boa. Quando você se dedica a ela, não desiste nunca mais. É realmente um privilégio ser músico”, afirma.

Suor e inspiração

Foca Lisboa

Fazer parte de bandas de música, de grupos que vão do rock ao clássico ou, ainda, de corais e sinfônicas, antes mesmo de passarem no Vestibular, é algo muito comum na vida de alunos da Escola de Música da UFMG. Alguns já pertencem a conjuntos profissionais e sobrevivem inteiramente das atividades musicais. Portanto, quem pretende enfrentar a concorrência para ocupar uma das vagas do curso precisa se acostumar à idéia, o quanto antes, de que a experiência e o grau de conhecimento de teoria musical contam bastante. “O peso das provas específicas é grande, porque elas acontecem nas duas etapas”, lembra o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Fernando Rocha.

Outro detalhe. Foi-se o tempo em que o músico podia ser facilmente associado à imagem de boêmio e fanfarrão. Música, avisa Fernando Rocha, é um curso que exige, além de preparo, muita persistência e dedicação. “São horas e horas de estudo, para nunca o músico se dar por satisfeito”, ressalta.

É preciso ser músico para entrar na Escola de Música?

Precisa ter estudado música. Cada uma das habilitações oferecidas no bacharelado exige um estudo anterior do instrumento e, também, conhecimento de teoria musical. Essa exigência não é diferente da de outros cursos. O conhecimento básico para Engenharias é Matemática, para as Ciências Biológicas, a Biologia. Infelizmente, as pessoas não estudam música no Ensino Médio e não existe tradição de escolas de música no Brasil.

Foca Lisboa

O fato de a Escola de Música exigir uma preparação prévia faz com que os alunos cheguem aqui mais maduros?

A média de idade de entrada na Escola de Música é maior que a de muitos cursos da UFMG. Isso tem mudado. As pessoas estão entrando mais novas, mas até pouco tempo era difícil encontrar um aluno que tivesse terminado o Ensino Médio e feito Vestibular para Música diretamente. Agora, estudar Música é uma opção natural, vista com menos preconceito.

O que aconteceu para que o preconceito diminuísse?

Acho que, hoje, há uma valorização maior das artes. Por outro lado, acabou a ilusão de que a formação em áreas tradicionais, como Medicina, conduz a um bom emprego e produz ricos e pessoas bem-sucedidas profissionalmente. Na Música, mesmo com todas as dificuldades, o mercado oferece oportunidades. Nossos formandos conseguem atuar como músicos sem grandes problemas.

Foca Lisboa

Quais são os espaços ocupados pelos músicos de formação?

O músico formado encontra espaço no mercado de várias maneiras. Ele está nas orquestras, dá aula, explora o mercado de composição de trilhas para cinema, teatro, publicidade. A maioria dos estudantes, no terceiro ou quarto período, já encontra trabalho. A desvantagem desse envolvimento prematuro é que o estudante gasta um tempo que poderia ser utilizado na própria formação, no estudo.

O aluno que depende da prática oferecida pela Escola de Música consegue ter uma boa formação?

A Escola de Música dispõe de infra-estrutura difícil de se encontrar em outras instituições. Ela oferece muitas possibilidades de prática, por causa dos vários grupos que mantém. Temos orquestra sinfônica, orquestra de sopros, big band, mais de um coro, grupos de percussão e de trombones, orquestra de saxofones, camerata de violões, grupos de música de câmara, tanto popular quanto erudita. Temos, também, estúdio de gravação, que auxilia os alunos interessados em desenvolver a técnica das gravações, um mercado que requisita muitos músicos. Para os que se interessam pelo ensino, a Escola tem o Centro de Musicalização Infantil, onde o aluno trabalha como estagiário, no contato com crianças da comunidade.