Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Ordem dos fatores

Matemática

Matemática é curso sofisticado que se importa com abstrações numéricas, mas não esquece contextos sociais

Aos 15 anos, Daniel Colchete já trabalhava com Informática. Seu primeiro emprego foi em provedor de Internet da cidade de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas. Aos 21 anos, aluno do sétimo período de Matemática, Daniel avalia como um acerto a opção pelo curso e a recusa em seguir o conselho de muitos que acreditavam que melhor seria a Ciência da Computação. A ele, a Matemática tem-lhe dado o de que precisa para exercer suas funções de programador em uma empresa que oferece soluções de segurança em e-mails. “O que estudo aplico direto no meu trabalho, porque o tempo todo lido com o desenvolvimento da lógica e do raciocínio matemático”, diz ele, lembrando que, ao escolher o curso, acreditou que se tratava de um “aperfeiçoamento da Matemática que via no Ensino Médio”. Se essa é a impressão que candidatos têm do curso, é hora de mudar de idéia, ressalta Daniel, surpreendido pelo conteúdo visto na Universidade. “É uma Matemática completamente diferente, muito mais sofisticada e, também, envolvente. Posso ficar horas e horas para resolver um único problema, deixar a Escola só de madrugada e, ainda assim, sair de lá feliz”, diz.

Daniel conta que optou por continuar trabalhando depois de passar no Vestibular, apesar das grandes exigências do curso, que ele decidiu fazer num tempo mais longo do que o normal. “Essa foi a forma que encontrei para aproveitar bastante as aulas sem ter que desistir do trabalho”, justifica. Ele acredita, entretanto, que o aluno do bacharelado deve ter experiências com pesquisa antes de se formar. “O curso de Matemática da UFMG é um dos melhores do país e sei que o aluno que quer mexer com pesquisa encontra muito espaço aqui”, pondera, destacando que ele próprio pensa em seguir por esse caminho, mesmo encontrando dificuldades para conciliar horários.

Eber Faioli
GERALDO diz que professor deve lutar para transformar sujeitos em cidadãos

A compreensão do contexto social é, para o professor, tão importante quanto ter uma didática estimulante, criativa e eficiente. É assim que pensa e que se orienta Geraldo Magela Lara, de 44 anos, professor de Matemática. Amparado em muitos anos de trabalho em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e de Betim, Geraldo está convicto de que os enormes desafios da profissão ultrapassam as questões metodológicas e prega, como base para todo e qualquer ensino, a transformação do aluno em sujeito-cidadão. “A desnutrição social, cognitiva e afetiva é muito grande e a única chance que temos é de tentar encontrar um caminho que dê à escola o papel realmente construtivo que ela tem”, afirma.

Alunos e professores, assinala Geraldo, vivem um momento muito difícil, mas, também, de muitos questionamentos, o que, para ele, é o lado saudável de toda a polêmica que envolve as escolas na atualidade, públicas ou privadas, para ricos ou para pobres. De acordo com Geraldo, se o professor não tentar entender o aluno fora da sala de aula, não perceberá a importância de se ensinar Matemática ou qualquer outra disciplina e, também, não conseguirá que esse aluno perceba a importância do processo educacional para ele próprio. Os desafios têm sido muito grandes nas escolas públicas, onde os problemas sociais são latentes e reverberam com facilidade nas salas de aula, mas também não são menores os desafios do professor em um contexto social privilegiado.

“Os professores têm-se deparado com a recusa dos alunos em aprender, mesmo aqueles que têm todas as condições”, analisa Geraldo. Ex-professor de escolas particulares para alunos de classe média e alta, ele diz que existe, é claro, uma diferença substancial entre os alunos de colégios privados e de escolas públicas de periferia. Porém, para ele, a luta dos professores deve ser a mesma em qualquer espaço: valorizar os processos de transformação do sujeito em cidadão e não esquecer que professores têm papel social a cumprir.

Diálogo multidisciplinar

Com características pedagógicas bastante destoantes daquelas praticadas nos ensinos Fundalmental e Médio, a Matemática é um curso que exige muito dos alunos. A coordenadora do Colegiado da Graduação, professora Márcia Maria Fusaro Pinto avisa que, no mercado de trabalho, os estudantes devem estar atentos a mudanças que vêm ocorrendo e que abrem campos de atuação antes inexplorados.

Como é vista a Matemática no curso superior?

No Terceiro Grau, os alunos sentem uma grande diferença em relação ao que é ensinado no Ensino Fundamental e no Médio. Uma das principais distinções é exatamente a fundamentação e argumentação que passamos a usar quando trabalhamos com os conceitos da Matemática, que passam a ser fundamentados em definições e deduzidos em lugar de, simplesmente, descritos ou calculados. A Matemática, no Ensino Fundamental e Médio, é manipulativa e a ela interessa muito mais o resultado, a resposta. Na Universidade, detalhamos e prestamos atenção no processo por meio do qual os cálculos, os resultados são obtidos. Passamos a usar o processo dedutivo.

O aluno vai desvendar o processo que aparecia pronto para ele nos Ensinos Fundamental e Médio?

Isso. Ele vai entender o processo pelo qual se chegou a um resultado. Queremos que ele seja eficiente não somente nos cálculos mas também na compreensão dos processos.

Foca Lisboa
DANIEL se depara com uma Matemática sofisticada e envolvente

A Matemática é ciência básica para diversos cursos. Mas que lugar o matemático ocupa no mercado de trabalho?

Hoje em dia, ele atua predominantemente como professor. Mas percebemos um movimento de empresas, de diferentes áreas, requerendo matemáticos na composição de suas equipes de trabalho. O mercado de trabalho está mudando. Não sabemos se essa alteração será rápida, mas já está ocorrendo.

Que outras empresas podem absorver o matemático?

Há uma tendência, atualmente, de se matematizar as diversas áreas da ciência. A Biologia, a Economia e outras áreas estão passando por esse processo de matematização, que se apresenta como importante na sugestão de soluções. Sem qualquer julgamento de valor – se isso é positivo ou não –, percebemos essa tendência, que tem colocado os matemáticos como parte de equipes além da própria área do profissional.

Para que seja feita essa ponte com outras áreas, é necessária uma especialização?

O profissional precisa ter conhecimentos que lhe permitam dialogar com os profissionais das áreas a que se associa. É preciso que eles falem uma mesma linguagem. Isso é próprio das equipes multidisciplinares.

A Matemática amedronta a maioria dos alunos porque as dificuldades de compreensão são inerentes à disciplina ou porque o que importa é a metodologia de ensino?

As duas coisas estão juntas. Não há como separá-las. Trabalhamos, na Matemática, com uma linguagem bastante distante do dia-a-dia e com uma lógica que, também, muitas vezes, é muito diferente da lógica em uso no cotidiano. Em termos de linguagem e de comunicação, trabalhamos num domínio bastante distinto da nossa linguagem natural. Isso pode ser uma das causas das dificuldades que as pessoas têm com a Matemática.