Revista da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular
Lustre sem graxa
“Falo sempre com a minha família que não poderia ter escolhido um curso melhor, que me apontasse tantas perspectivas”, conta Rafael de Oliveira Claudino, de 21 anos, aluno do quinto período de Engenharia de Produção. O encantamento, admite, tem sido crescente desde o primeiro período. Rafael prioriza sua participação no curso, além das salas de aula, com o objetivo de conhecer mais rapidamente as diferentes áreas que abarca a profissão.
Divulgação / Fiat Automóveis |
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Assim que entrou no curso, Rafael participou de um grupo de discussão sobre desenvolvimento de produtos, coordenado por um professor com formação também em design. “Os grupos atraem muitos calouros, o que é muito bom porque vamos tomando contato com as áreas”, constata. Depois, ele se transferiu para um núcleo de pesquisa em Ergonomia que, com alunos voluntários, se propôs a estudar as dificuldades enfrentadas pela secretaria do próprio Departamento de Engenharia de Produção em relação aos processos administrativos e acadêmicos do sistema de informação da UFMG.
O projeto cresceu e se transformou num estudo de parâmetros para o desenvolvimento de um novo software. “Tentamos o caminho inverso ao que geralmente é feito, porque, normalmente, o programa de informática é desenvolvido e a pessoa é que tem de se adaptar a ele”, explica Rafael, destacando que esse projeto contava com a ajuda de alunos da Ciência da Computação e da Psicologia. Durante um tempo, Rafael usufruiu de Bolsa de Pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), mas os recursos foram cortados. Ele iniciou o semestre passado envolvido com um terceiro projeto, na área gestão da produção. “A todo momento, você quer ver algo diferente”, avisa.
Foi durante um estágio na Sadia, na cidade de Concórdia (SP), que Luiz Antônio Castanheira Polignano, de 29 anos, percebeu que sua formação de engenheiro de alimentos, pela Universidade Federal de Viçosa, precisava de algo mais. Ele se deparou com exigências que apontavam para conhecimentos de gestão acoplados com o de desenvolvimento de processos e de produtos. Foi aí que Luiz Antônio conheceu as “armas” da Engenharia de Produção. Entrou para o mestrado na área e, passados quatro anos, é sócio de uma empresa de consultoria responsável, por exemplo, por todo o trabalho de lançamento dos sucos Mais.
Ainda trabalhando em Concórdia, Luiz Antônio recebeu a notícia de que havia sido selecionado no mestrado da Engenharia de Produção, na UFMG. “Eu tinha dois caminhos: continuava na Sadia, aprendendo aos poucos até chegar onde queria, ou criava um atalho com o mestrado e caía direto na área de desenvolvimento de produtos”. Durante o mestrado, Luiz Antônio se tornou pesquisador do Núcleo de Tecnologia, Qualidade e Inovação (NTQI), no próprio Departamento de Engenharia de Produção, e foi ali que seu futuro profissional ganhou ainda mais forma. Nesse período, ele trabalhou, também, em projetos de desenvolvimento de uma “família de genéricos” para a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e, ainda, de reestruturação de uma linha de impressoras para uma empresa de Informática.
Como pesquisador do NTQI, Luiz Antônio participou de um estudo de posicionamento de uma nova empresa no mercado. Junto com colegas, ele projetou desde o que seria o melhor produto numa linha de bebidas à base de frutas até a logística de lançamento de mercado, passando pelo mapeamento da concorrência e por pesquisas nos pontos de venda.
Foca Lisboa |
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RAFAEL CLAUDINO percorre vários projetos do curso |
Com ampla base adquirida nas Ciências Exatas, Humanas e Sociais Aplicadas – como a Psicologia e a Economia –, o engenheiro de produção se diferencia por sua capacidade de análise do todo, unindo os conhecimentos dessas áreas. Daí ele ser um profissional que estará ligado aos fatores tecnológicos de uma indústria ou, mesmo, de um banco, porém considerando sempre todos os aspectos envolvidos em processos equilibrados e competitivos. Segundo o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Francisco Antunes Lima, o engenheiro de produção não perde o foco na sua formação de engenheiro, mas estará em contato direto com questões de gestão que tratam, por exemplo, das demandas dos trabalhadores e, até, de análise financeira de viabilidade de negócios.
Em que a Engenharia de Produção se diferencia das outras?
Ela tem como característica principal atuar na produção diretamente. Normalmente, as outras Engenharias trabalham na fase de invenção dos produtos, dos processos e da tecnologia que serão colocados em prática na produção. É numa segunda fase que entra em jogo uma série de outros critérios, como manutenção dos equipamentos, tempo de utilização das tecnologias, qualidade de processos, segurança. Aí é que atua o engenheiro de produção, para reduzir custos e melhorar a qualidade dos produtos, cuidar da distribuição e da gestão do processo produtivo. Outra característica: nos modelos da Engenharia típica não entra o elemento humano. Na Engenharia de Produção, além da tecnologia e dos materiais, as pessoas que fazem parte da empresa ou do sistema são consideradas no projeto, na organização e na gestão.
De uma maneira geral, onde encontramos o profissional dessa área?
A Engenharia de Produção nasceu na indústria mecânica, setor em que é mais tradicional.
Por causa de suas características, o engenheiro de produção trabalha com várias outras ciências que não são típicas da Engenharia. Que áreas são essas?
Normalmente, a Engenharia de Produção fica situada entre as Engenharias Técnicas, as Ciências Sociais, as Ciências Sociais Aplicadas – como a Economia –, e as Ciências da Gestão. Aproveitamos, também, muitos conhecimentos da Psicologia e da Sociologia das Organizações. Lidamos diretamente com a Economia aplicada ao processo produtivo, mas também temos que entender as estruturas de mercado, saber por que alguns mercados são mais competitivos que outros, por que alguns exigem mais qualidade, enquanto, em outros, a competição é baseada na quantidade.
Engenharia de Produção é um curso relativamente novo. O mercado já conseguiu absorver esse profissional?
A Engenharia de Produção não é muito nova. Ela é nova em relação a outras Engenharias. Mas tem a idade da Engenharia de Automação e da Engenharia Nuclear. No Brasil, o primeiro curso surgiu na década de 1950. Aqui em Minas Gerais, os cursos são novos e, por isso, a Engenharia de Produção existia como uma ênfase da Engenharia Mecânica. Então, o mercado vinha absorvendo engenheiros de outras especialidades para exercerem as funções dos engenheiros de produção.
Eber Faioli |
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No mestrado, LUIZ ANTÔNIO conheceu as “armas” da Engenharia de Produção |
Onde estão trabalhando, hoje, os engenheiros de produção?
Nosso curso, além do núcleo específico, está estruturado em especialidades por setor, o que se reflete na atuação dos profissionais. O aluno pode escolher um grupo de disciplinas na Mecânica, voltadas para o setor automobilístico, para as indústrias de processos contínuos, alimentícia, química, de cimento, siderúrgica. Futuramente, ele poderá escolher disciplinas nas áreas da Engenharia Civil e da Tecnologia da Informação. Os profissionais ocupam posições, também, no setor financeiro como, por exemplo, na avaliação de projetos e na análise de viabilidade econômica e de investimentos.
Neste último caso, o engenheiro de produção não se confunde com o economista?
Um pouco. Mas a diferença está no conhecimento tecnológico. Ele poderá avaliar projetos de investimentos produtivos com uma visão maior de todo o processo.