Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Odontologia

Curso vai além das preocupações estéticas preparando para compromissos sociais e exercício da cidadania

Nauber Souza Vitorino, de 23 anos, tinha tudo para seguir carreira na área de Informática. “Fiz Curso Técnico, gostava, e a Informática sempre abriu muitas portas para mim”, diz. Entretanto, no Vestibular, ele decidiu-se por um rumo completamente diferente e partiu para a Odontologia. No sétimo período do curso, Nauber explica a opção. “Eu não queria mexer apenas com máquinas e, sim, com pessoas. Mas a certeza de ter feito a melhor escolha só veio durante o curso”, conta. O aluno afirma que as práticas realizadas no curso, em projetos de pesquisa ou no atendimento nas clínicas curriculares, lhe têm proporcionado não apenas o conhecimento técnico apurado. “É interessante porque, quando atuo, sinto um enorme prazer em ver que sou capaz de provocar uma melhoria na qualidade de vida da pessoa que estou tratando”.

Foca Lisboa
REGINA optou pelos projetos sociais e, hoje, coordena a área de Saúde do Projeto Guanabara

Quando estava no terceiro período, Nauber disputou bolsa para participar de projeto para apontar estratégias de melhoria do próprio curso de Odontologia. “No processo, convivi com muitos professores e pude formar idéia da profissão conversando com eles, trocando informações”, afirma. Na mesma época, ele começou, também, a trabalhar no Projeto de Atendimento a Pacientes com Fissuras Labiopalatais (enfermidade mais comumente conhecida como lábio leporino). “É um desafio trabalhar nessa área, porque são pacientes que têm necessidades muito específicas do ponto de vista clínico e que demandam uma atenção especial do ponto de vista psicológico”, observa Nauber, para quem a Odontologia é capaz de despertar interesses muito além da técnica.

“Optei pelos projetos sociais”, destaca a dentista Regina de Castro Andrade, de 29 anos. Formada em 1998, logo se envolveu com programas de atendimento a comunidades carentes e, hoje, coordena a área de Saúde do Projeto Guanabara, uma iniciativa que atende a mais de 400 crianças numa parceria entre a UFMG e o Instituto Ayrton Senna. Escolhas como a de Regina têm sido cada vez mais comuns. “Há o aumento das oportunidades e, também, o estímulo ao comprometimento da Odontologia com os problemas do país”, analisa ela.

Regina destaca que inúmeros programas sociais no Brasil, públicos e, também, capitaneados por instituições privadas ou Organizações Não-Governamentais, têm aberto espaço para a atuação do dentista, tornando freqüentes opções como a dela. No Projeto Guanabara, ela começou como monitora de saúde, mas, passados seis anos, coordena o atendimento prestado às crianças na área. O trabalho, conta, é marcado por uma filosofia que atende aos pilares da educação previstos pela Unesco – aprender a fazer, a ser, a conhecer e a conviver.

Regina ressalta que as crianças são parte ativa do processo e desenvolvem, com atividades lúdicas, maior consciência da importância da saúde bucal. “Alguns já deram aulas sobre o assunto na escola onde estudam e nós percebemos, claramente, o amadurecimento deles”, afirma a dentista, ressaltando que a realização pessoal e profissional é muito grande quando se participa de projetos como o Guanabara. Ela coordena outros dois projetos semelhantes.

É mais que dentes

Um profissional sensível às necessidades básicas de toda a população e engajado em práticas que atentem para além da técnica, que considerem o indivíduo em sua totalidade. Esse é o perfil que o curso de Odontologia persegue e estimula entre os seus alunos, descreve o coordenador do Colegiado de Graduação, professor João Henrique Lara do Amaral. Ele lembra que a Odontologia tem refletido as muitas mudanças que ocorrem na sociedade brasileira, o que inclui novas maneiras de organização dos profissionais. Longe de significar restrições à atuação dos dentistas, as mudanças têm provocado uma abertura no modo de fazer: as práticas individualizadas dão lugar às coletivas e o profissional se vê diante de desafios maiores. Não há espaço para acomodação, alerta o professor, e a criatividade, aliada a um sentimento de responsabilidade em relação ao social, é que deve nortear esse profissional.

Qual a orientação do curso de Odontologia da UFMG?

Pretendemos formar um profissional generalista, que dê conta da maioria das necessidades da população brasileira. Buscamos formar um profissional crítico, que valorize o paciente como pessoa e como cidadão e que consiga entender o problema de saúde bucal desse paciente no contexto de sua vida. Além de ter essa filosofia, o nosso curso difere de outros nas oportunidades de diversificação na formação profissional. Os alunos participam de projetos de pesquisa, monitorias e projetos de extensão para a prestação de serviço a escolares, em creches e a pacientes com necessidades especiais, por exemplo.

Como o curso está estruturado?

Ele tem uma formação básica, com disciplinas no Instituto de Ciências Biológicas, e o Ciclo Profissional. O primeiro contato do aluno com a Faculdade de Odontologia acontece no segundo período. Embora os ciclos Básico e Profissional sejam bastante separados, há disciplinas que funcionam como rede de integração. Além disso, o Ciclo Básico convida professores da área profissional para colaborar, mantendo elos entre os dois ciclos.

Foca Lisboa
Criatividade e responsabilidade devem nortear os dentistas

Durante muito tempo, a Odontologia foi considerada uma profissão de grande status e de sucesso financeiro. Essa visão ainda persiste?

Sempre se criou uma imagem um pouco equivocada do sucesso do profissional de Odontologia. Pode ser que, em épocas mais remotas, alguns profissionais tenham conseguido sucesso financeiro com mais facilidade. Entretanto, hoje, há maior concorrência entre profissionais e a população tem menor poder aquisitivo – são poucos os que têm condições de bancar tratamentos caros.

Convivendo com essa realidade, qual foi a saída encontrada pelos dentistas?

Deu-se o surgimento da Odontologia de grupo, por meio de planos e convênios que oferecem atendimentos a um custo mais baixo. Ao mesmo tempo que se nota uma perda de mercado, nota-se também uma abertura de novas oportunidades. O profissional precisa diversificar seu leque de aspirações e parar de sonhar com a prática individual. É possível se associar a colegas, buscar mercados em outras cidades, não ficando restrito aos grandes centros. Além disso, assistimos a uma ampliação da rede pública de saúde. O governo federal está ampliando as equipes de “saúde da família” e incorporando dentistas a elas.

Quais são as características essenciais para alguém que se interesse pela Odontologia?

O futuro dentista deve ser uma pessoa crítica, inquieta, criativa, aberta aos avanços tecnológicos. Deve, também, gostar de estudar e de enfrentar desafios. A Odontologia é uma profissão muito bonita, mas exige perseverança e dedicação ao paciente.

Com grande dependência da tecnologia, a Odontologia é uma profissão cara e, também, oferece um serviço caro. Como lidar com esse problema?

Na verdade, a Odontologia responde também ao apelo da indústria. A cada dia surgem materiais novos, técnicas e equipamentos inovadores. O dentista precisa ter muita clareza e certeza sobre quando assumir tecnologias recentes e discernir se elas são realmente necessárias para uma melhor atenção ao seu paciente. Essas atitudes dependerão, igualmente da inserção que o dentista tem no mercado, do tipo de atendimento que ele faz.