Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Enfermagem

Profissional de Enfermagem trabalha com destreza técnica e controle emocional

O assunto, em termos de pesquisa, é novo, mas como problema nem tanto, e foi isso que incentivou a aluna Kênia Almeida de Oliveira, de 22 anos,do sétimo período de Enfermagem, a estudá-lo em profundidade. No semestre passado, ao fazer uma disciplina optativa, Kênia foi investigar a reutilização de materiais de “uso único” em instituições hospitalares de Belo Horizonte. O resultado não surpreende, mas assusta. Dos 23 locais pesquisados, apenas um não “reprocessa” esses materiais. A dúvida, observa Kênia, é se esse reprocessamento está sendo feito corretamente. O resultado da investigação será publicado em um artigo, feito com três colegas e a professora que as orientou, na Revista Mineira de Enfermagem.

Assuntos como esse empolgam Kênia e ajudam-na a confirmar a escolha que fez no Vestibular, um tanto movida por experiências pessoais. Ela já sabia que gostaria de trabalhar na área de Saúde, mas sua mãe adoeceu um pouco antes da data das provas e foi ela quem passou os dias ao seu lado durante a internação hospitalar. “Tive tempo suficiente para observar e, também, conversar muito com as enfermeiras. No hospital, tive a certeza de que faria mesmo Enfermagem”, diz.

Desde março, Kênia dá continuidade aos estudos sobre infecções hospitalares, como bolsista de um projeto de Iniciação Científica, em que é avaliada a prevalência de microorganismos multir-resistentes no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital das Clínicas. “O que eu tenho tentado é aprender um pouco de tudo, porque gosto de muitas áreas, e, por isso, a escolha de uma especialização não é tão fácil”, afirma. Ela já completou a licenciatura, no semestre passado, e, agora, termina o bacharelado. “É um curso difícil, mas muito bom. Então, a gente se envolve mesmo”, assinala.

Foca Lisboa
OCIREMA transita pela cidade levando socorro

Enfermeira da Unidade de Suporte Avançado – o antigo Resgate –, Ocirema Teixeira Rothe, de 37 anos, tem a vida bem mais acelerada. Entre inúmeros socorros, ela não se esquece de uma noite de julho de 1999, quando foi testemunha de um dos mais tristes acidentes ocorridos em Belo Horizonte. Ela já fazia parte, naquela época, das equipes de Unidades Móveis de Saúde, que foram chamadas para atender ocorrência envolvendo a queda de um ônibus no Rio Arrudas, na região central de Belo Horizonte. Ela ajudou a salvar vidas valendo-se de perícia técnica e controle emocional.

Ocirema foi uma das primeiras enfermeiras a sair às ruas numa Unidade de Suporte Avançado, quando começaram os atendimentos a acidentados, em 1996. A primeira ocorrência que atendeu, recorda-se, envolvia uma tentativa de suicídio. “Era um domingo. Lembro que tiramos a moça dos braços da morte e que, no dia seguinte, ela agradecia muito por isso”, conta.

Ainda hoje neste trabalho, indo de um lado ao outro da cidade levando socorro, Ocirema convive com tragédias coletivas e dramas pessoais, porém não pretende mudar de rumo tão cedo. O retorno que recebe da população também é um estímulo para a profissional. “É incrível como as pessoas se manifestam com carinho, como se preocupam em dizer coisas boas e em abençoar a equipe”, afirma, destacando que, apesar do desgaste emocional, porque, “na rua, se vê de tudo e mais um tanto”, o trabalho é gratificante.

Saúde com cunho social

A mais importante característica de quem busca o curso de Enfermagem é a disposição para cuidar, porque a atenção ao outro, nos momentos mais frágeis da vida humana será o motor de toda a atividade do enfermeiro, mesmo que este não esteja à frente dos cuidados básicos aos pacientes.

Aliás, a profissão derrubou barreiras erguidas durante décadas e décadas e assumiu importância vital para os serviços de Saúde, porque é capaz de atuar não só na assistência direta ao paciente mas também na coordenação das Unidades de Saúde. “O campo de trabalho ampliou-se muito nos últimos anos”, observa a professora Clarice Marcolino, coordenadora do Colegiado de Graduação em Enfermagem.

O profissional de Enfermagem corresponde à imagem que a sociedade tem dele, de alguém preparado exclusivamente para cuidar de enfermos?

Houve uma modificação da imagem do profissional de Enfermagem e a profissão é, hoje, mais reconhecida no mercado de trabalho. O enfermeiro era visto como um profissional que fazia parte da equipe de um hospital apenas para cuidar do paciente, e é claro que essa é uma função básica do profissional. Contudo, abriram-se outros campos de trabalho, especialmente com a criação do SUS e com o Programa Saúde da Família. Hoje, são mais de cinco mil equipes no Brasil e um dos integrantes da equipe é o enfermeiro, de presença obrigatória. Isso criou um campo bastante amplo e levou, também, a uma nova forma de entender o papel desse profissional. O enfermeiro de agora é alguém que, além da assistência ou o do cuidado direto ao paciente, exerce coordenação de equipes, porque tem uma visão ampla da área da saúde, está preparado para discutir quais são os determinantes e os condicionantes ligados à questão de adoecer e morrer da população brasileira. O enfermeiro não lida só com a assistência a partir da doença, lida, também, com a promoção da saúde.

Foca Lisboa
CLARICE avisa: ” O campo de trabalho ampliou-se muito nos últimos anos”

O enfermeiro formado enfrenta a competição do técnico e do auxiliar?

Não. Os papéis são bem diferentes. Cada um tem sua competência determinada. Os papéis, hoje, são bem consolidados, porque a profissão é regulamentada e as funções e as competências do técnico, do auxiliar e do enfermeiro são bem definidas.

Como o enfermeiro é a pessoa que está à frente do cuidado e da prevenção, certamente, ele não é uma pessoa envolvida apenas com a área biológica?

O currículo do enfermeiro tem um componente muito forte das Ciências Biológicas. Mas tem, também, uma contribuição grande das áreas das Ciências Humanas e Sociais. Essa característica contribui muito para a compreensão das relações do indivíduo com a sociedade, dos determinantes de saúde e de doença, que são sociais, culturais, comportamentais, ecológicos, éticos e legais. Além disso, temos o conhecimento relacionado com a ciência da Enfermagem, como Fundamentos de Enfermagem, que dizem respeito aos conteúdos técnicos e metodológicos, os meios e os instrumentos inerentes ao próprio trabalho do enfermeiro.

O curso é muito prático?

Em torno de 60% da carga horária do curso é prática. Nos três primeiros períodos, o curso tem conteúdos como Anatomia, Fisiologia e Microbiologia, entre outros. A partir do quarto semestre, o conteúdo torna-se mais teórico/prático. Temos disciplinas em que os alunos se inserem na comunidade e no centro de saúde onde aquela comunidade é atendida. Ele começa a ter percepção do processo de saúde e doença a partir da comunidade. Pode entender como as pessoas vivem e como adoecem, em função dos modos de vida delas. São as primeiras percepções do processo de adoecer. Esse processo de aprendizado vai sendo apurado, até que o aluno chega a uma unidade hospitalar. O grau de complexidade da assistência aumenta aos poucos e o aluno acompanha esse nível do nascimento à morte.