Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
Por dentro da UFMG

Inclusão
Para todos

Assistência ao estudante
Uma mão lava a outra

Cultura
Território da arte

Ciências Agrárias
Engenharia Agronômica
Medicina Veterinária

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

Ciências da Saúde
Ciência da Nutrição
Educação Física
Enfermagem
Farmácia
Fisioterapia
Fonoaudiologia
Medicina
Odontologia
Terapia Ocupacional

Ciências Exatas e da Terra
Ciência da Computação
Ciências Atuariais
Estatística
Física
Geologia
Matemática
Matemática Computacional
Química

Engenharias
Engenharia Civil
Eng. Controle e Automação
Engenharia de Minas
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Metalúrgica
Engenharia Química

Ciências Humanas
Ciências Sociais
Filosofia
História
Pedagogia
Psicologia

Ciências Sociais Aplicadas
Administração
Arquitetura e Urbanismo
Biblioteconomia
Ciências Contábeis
Ciências Econômicas
Comunicação Social
Direito
Geografia
Turismo

Lingüística, Letras e Artes
Artes Cênicas
Belas-Artes
Letras
Música

UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Senhora da indagação

Filosofia

Preocupada com o uso da razão, Filosofia ensina que perguntas podem ser mais importantes que respostas

O tempo intrigava Igor Mota Morici, de 24 anos, quando ainda criança. Ele se perguntava se seria possível, ou não, uma viagem pelo tempo, mas não podia prever que dúvidas como essa tomariam nova consistência quando se tornasse adulto. “Minha tendência sempre foi a de me interessar por questões que envolviam muito mais as especulações que as investigações empíricas”, atesta Igor, que acaba de concluir o curso de Filosofia e se prepara para as provas de mestrado. Certo de que conciliará a carreira de pesquisador com a de professor, Igor lembra que teve dúvidas, e muitas, ao optar pela Filosofia, mas essas se dispersaram quando decidiu que deveria seguir uma profissão que lhe desse prazer, além de condições de sobrevivência.

“É um curso difícil, mas que não tem segredo. Quem quiser aproveitá-lo, para não se tornar um profissional fajuto, tem que ser muito aplicado. Se a leitura significar sofrimento, então, pode desistir, porque será besteira prosseguir. Ler muito é essencial, inclusive em outras línguas”, avalia Igor, um estudioso de grego antigo. A Filosofia foi apresentada a ele pelas aulas de um professor de Português, quando estava no segundo ano do Ensino Médio. “Era interessante, porque o professor nos ajudava no caminho das buscas”, lembra.

Foca Lisboa
IGOR buscou, na Filosofia, prazer, além das condições de sobrevivência

No início do curso, Igor pretendia seguir a licenciatura, caminho alterado quando experimentou a pesquisa, no terceiro período, no, então, Programa Especial de Treinamento, em que os alunos participantes desenvolviam pesquisas próprias e discutiam em grupo problemas comuns. Ao se aprofundar nos textos de Aristóteles, ele percebeu que seria necessário adotar a pesquisa até o final da graduação e, mesmo, além dela. Por isso mudou para o bacharelado, sem abdicar da idéia de ser professor do Ensino Médio. A Filosofia, diz Igor, não se fecha na carreira de professor, mas esse é o mercado de trabalho mais provável. Ele se interessa, também, por traduções. “Fora do Brasil, é comum filósofos se dedicarem a traduções, porque, no caso da Filosofia, elas sempre exigem um nível de interpretação.”

Por quase 30 anos, a Engenharia Mecânica foi o ganha-pão de Flávio Netto Fonseca, de 50 anos. A vida começou a mudar em 1999. Ele enfrentou um novo Vestibular e escolheu a Filosofia como sua nova área de atuação. Desde então, Flávio é professor em diferentes colégios e faculdades na capital mineira, uma trajetória iniciada num momento de crise profissional e pessoal, quando ele tentou encontrar explicações para a rejeição, pelo mercado de trabalho, de profissionais com mais experiência e que tinham, em média, 40 anos. “Li muitos livros de Psicologia e de Filosofia, tentando entender o fenômeno que, muito comumente, causava uma grande baixa estima em quem passava pelo problema”, lembra.

Muito antes dessa época, entretanto, Flávio já havia se interessado pelos textos filosóficos, por causa da militância política. “Foi um retorno aos estudos e uma reviravolta que trouxe mudanças para muito melhor”, testemunha. “A Engenharia me dava retorno financeiro, mas a educação me oferece muito mais”, diz, contando que seu próximo passo será a realização do mestrado, também em Filosofia. Para ele, a descoberta principal que pode ser feita na Filosofia é a de que ela é uma ciência em que as perguntas são muito mais importantes do que as respostas.

Flávio elegeu o tripé “estética, cognição e ética” para permear as discussões travadas nas salas de aula, que podem nascer de “simples” propagandas na televisão. “É impossível imaginar a quantidade de fatos do cotidiano que servem de exemplos para discussões feitas à luz da Filosofia e é disso que mais gosto, porque dou aulas para jovens. O que tento ensinar a eles é que precisam ser pessoas críticas, porque essa característica nos distingue como seres humanos. A contribuição dos conceitos filosóficos para essa formação é inestimável”, atesta o professor.

Paixão pela crítica

A reflexão e a crítica são companheiras inseparáveis de quem apostar na Filosofia. Junte-se a elas uma enorme disposição para estudar e receber como um prêmio o desenvolvimento da capacidade de ver e analisar o fazer humano e o desenrolar do mundo de uma forma diferenciada, afastada do senso comum e apoiada no conhecimento aprofundado das idéias, do pensamento. Acerta em cheio quem pensa que o curso de Filosofia é denso, reflexo de uma leitura dirigida de textos históricos e contemporâneos complexos.

Tais características não devem afastar os candidatos, avisa o coordenador do Colegiado de Graduação, professor Ernesto Perini Santos, pois o curso, normalmente, surpreende e incentiva o interesse pelos conhecimentos que vão se acumulando. A sólida base histórica e filosófica oferecida resume um enorme potencial de compreensão dos tempos atuais e de questões que se revelam no cotidiano.

O que atrai os estudantes para a Filosofia?

O aluno de Filosofia se interessa, primeiro, pelas Ciências Humanas. Ao entrar no curso ele tem uma idéia vaga do que é Filosofia e manifesta muita vontade de estudar e de ler. No geral, ele se surpreende e não se frustra com o curso. No momento em que percebe a riqueza do mundo filosófico, o aluno dedica-se e aprende a ter rigor e disciplina grandes, necessários aos estudos de textos e de conceitos.

Eber Faioli
Militância política aproximou FLÁVIO dos textos filosõficos

Ainda prevalece uma idéia romântica a respeito da Filosofia?

Os alunos se surpreendem exatamente porque, muitas vezes, têm a idéia de que a Filosofia não se desenvolve de maneira acadêmica. Não existe nada de errado em se lerem textos filosóficos de maneira livre, mas, no curso, os estudantes percebem que a Filosofia exige o estudo sistematizado e uma disciplina a que eles terão que se acostumar.

E como é o curso de Filosofia na UFMG?

O curso tem dois eixos. Um histórico, que trata das filosofias Grega, Medieval, Moderna e Contemporânea. O outro é temático e inclui disciplinas mais voltadas para as discussões sobre temas como ética, teoria do conhecimento e estética.

Onde os filósofos se enquadram no mercado de trabalho?

Eles, basicamente, dão aula, pois empregos em empresas são poucos, apesar de existir uma pequena demanda, que considero pouco representativa. O mercado para professores cresceu muito com a inclusão da Filosofia como disciplina no Ensino Médio e até no Fundamental, com a exigência da matéria em provas de Vestibulares de outros cursos que não o de Filosofia e, ainda, com a ampliação das instituições de Ensino Superior.

O curso de Filosofia é muito procurado por alunos de cursos bastante heterogêneos, na UFMG. Por que eles se interessam pela Filosofia, a ponto de lotarem praticamente todas as disciplinas ofertadas como optativas?

Eles sentem a necessidade de ampliar a visão de mundo e acreditam que a Filosofia lhes possibilitará uma compreensão mais crítica e questionadora de acontecimentos do dia-a-dia.