Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Medicina

Reforma curricular, mudanças no perfil das doenças e um mercado de trabalho cada vez mais competitivo são os desafios que aguardam os novos doutores

A Faculdade de Medicina da UFMG é uma das 20 instituições selecionadas no país para participar de um processo de reforma curricular estimulado e financiado pelo Ministério da Saúde. Os estudos começaram há dois anos e devem ser concluídos no próximo ano. A intenção é a de adequar o ensino das escolas de Medicina às demandas da sociedade brasileira. O trabalho é árduo, atesta a coordenadora do Colegiado de Graduação, professora Janete Ricas. Afinal, as transformações na área são muitas e atingem não apenas a formação mas, também, o mercado de trabalho.

Como a escola está ajudando os alunos a vivenciar a realidade profissional atual?

Na graduação, estamos estudando um currículo que possibilite uma flexibilidade maior, para que possamos adaptar a formação do aluno às mudanças epidemiológicas e demográficas que estão ocorrendo, além de prepará-lo para enfrentar as chamadas causas externas da mortalidade no país, que são os acidentes e a violência. A Faculdade investe, também, na educação continuada do profissional, auxiliando quem já está no mercado a se manter atualizado.

Eber Faioli
RODRIGO busca a tecnologia do relacionamento humano

O curso de Medicina é o que apresenta a maior média de notas do Vestibular. Isso o torna elitizado?

Nós temos uma quantidade razoável de alunos que vêm de escola pública, mas a Medicina concentra um número maior de estudantes de classe média ou de classe média alta, em função da exigência de disponibilidade de tempo maior para estudar. Em geral, o aluno de Medicina não tem como trabalhar e, mesmo antes de chegar à Faculdade, ele se dedica totalmente ao estudo.

Além do desafio de entrar, o estudante tem o desafio de permanecer num curso que exige muita dedicação, com privações grandes em relação ao lazer e a outras atividades numa época em que se é muito jovem. Como a Faculdade de Medicina auxilia nesse processo?

Esse é um problema que atinge muitos cursos, mas talvez, na Medicina, ele seja mais grave. Além das exigências do curso, os alunos da Medicina são, em geral, muito exigentes em relação a si mesmos. O nível de competição é maior, aparentemente, do que em outras faculdades. Isso é discutido há anos e várias instituições, no mundo, desenvolvem projetos de apoio psicopedagógico ao estudante. Existe também uma tendência a se liberar o aluno mais para estudos individuais, principalmente considerando-se os recursos de Informática, de ampliação ao acesso à informação. Na reforma curricular que fazemos, estamos atentos a esse problema.

Medicina é um curso que depende muito da prática. Como a Faculdade lida com isso?

Nossa Faculdade é considerada uma das mais avançadas em termos de oferta de atividades práticas durante o curso. Os alunos têm práticas de aprendizado no Hospital das Clínicas, nos centros de saúde e, também, no Internato Rural, quando vão para as cidades do interior e têm contato direto com os serviços de saúde, sendo orientados por profissionais – esse é um projeto de vanguarda da Faculdade de Medicina na UFMG imitado no país todo. Mas achamos que essas práticas ainda não são suficientes, porque nosso aluno começa a ter contato com o paciente apenas a partir do terceiro ano na Escola. Nosso projeto curricular prevê que essa prática seja iniciada a partir do primeiro ano.

Saúde engajada

Vice-Presidente da Sociedade Mineira de Medicina de Família, o médico Rodrigo Pastor, de 27 anos, optou por essa área desde que se formou, há quatro anos, e trabalha no Centro de Saúde do Bairro Vera Cruz há dois anos e meio. “Tenho me realizado bastante profissionalmente e acho que esse é um mercado em expansão para os médicos, mas é bom que o futuro profissional saiba que essa não é uma opção muito valorizada no meio”, avisa ele, lembrando que o “médico de família” lida com uma tecnologia, a do relacionamento humano, que não é palpável como um ultra-som em três dimensões. “Por isso, estamos um pouco na contramão da Medicina que é valorizada, por mais que as políticas de Saúde já tenham assumido essa tendência e que pessoas estejam sendo levadas a pensar na importância desse tipo de atuação para a solução de grande parte dos problemas de saúde do país”, avalia.

Eber Faioli
FABRÍCIO prescreve: o médico não pode ficar alheio às questões sociais

Como médico de família, Rodrigo não tem apenas um dia preenchido pelo atendimento de consultas no Centro de Saúde. Ele faz visitas às casas dos pacientes e, também, participa de programas de prevenção que são estimulados na comunidade. “Quando se muda a lógica do atendimento, o médico passa a trabalhar tanto com a doença quanto com a promoção de saúde”, diz ele, destacando que a filosofia intrínseca à atividade do médico de família segue uma tendência mundial, que atinge não apenas os serviços públicos mas também os privados. No Brasil, ressalta ele, alguns planos de saúde já começam a perceber a vantagem da contratação de médicos de família, porque ela provoca uma mudança de atitude do médico e, em especial, do paciente.

A vontade de trabalhar na área de Saúde também motivou Fabrício Guimarães Resende, de 26 anos, aluno do oitavo período, a fazer Medicina. Ele é um exemplo de persistência. Foram precisos quatro anos de cursinho para que ele conseguisse passar no Vestibular. Depois de insistir e realizar seu desejo, a primeira sensação, na Faculdade de Medicina, foi de decepção. “A minha motivação para a área de Saúde era estar próximo dos pacientes, mas isso, na Medicina, demora a acontecer”, reclama ele, que participa da discussão do projeto de mudança curricular e que encontrou meios de superar as frustrações iniciais.

Já no primeiro período, Fabrício começou a participar no Projeto Morada Nova de Minas, em que estudantes de Medicina têm contato direto com comunidades carentes dessa cidade do Alto do São Francisco, ajudando-as na construção de soluções em busca de qualidade de vida. O envolvimento, primeiramente, como voluntário e, depois, como bolsista foi tão forte que Fabrício permaneceu no Projeto até o sétimo período.

“Só saí porque um dos objetivos do Projeto é dar oportunidade ao estudante de aprender fazendo. Então, é importante abrir vagas para novos alunos”, diz. Atuante no Diretório Acadêmico (DA), ele atesta a importância de, logo que entrou no curso, ter-se despertado para a representação estudantil. “Essa participação no DA me ajudou a perceber o quanto um médico não pode ficar alheio às questões sociais, além de ter-me permitido entender melhor a estrutura da própria Faculdade de Medicina.”

Fabrício diz que, até bem pouco tempo, não dava muita importância a atividades de pesquisa, mas afirma que sua percepção mudou totalmente quando se integrou ao Programa de Atenção e Vigilância do Câncer, realizado pela Secretaria de Estado da Saúde. Esse Programa faz coleta, análise e divulgação de dados sobre incidência de câncer em Minas Gerais, mostrando, por meio de metodologias científicas, quais são as prevalências da doença no Estado. “Essa experiência tem-me ajudado muito a pensar cientificamente e é claro que isso vai ter um reflexo na minha conduta profissional”, avalia ele, destacando que os alunos novatos devem ficar muito atentos às oportunidades que surgem.