Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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História

Atento ao passado, historiador analisa percursos sociais e avalia mundo contemporâneo

Após trabalhar dois anos como economista, Sílvia Campos de Pinho, tomou uma decisão drástica. Largou o emprego de auditora na área ferroviária e se empenhou para passar no Vestibular de História. “Foi uma escolha consciente, diferente de quando tinha 17 anos e fiz Economia”, compara. No oitavo período da licenciatura, aos 28 anos, ela se prepara para mais um teste, porque pretende tentar o mestrado, também em História, ainda este ano.

Segundo Sílvia, um dos maiores atrativos do curso de História é a grande necessidade de leitura, uma prática que todos que pretendem ser historiadores precisam desenvolver. No terceiro período, ela se envolveu com o Programa de Aprimoramento Discente (PAD), em que foi bolsista num projeto de pesquisa sobre os viajantes do século XIX. No ano passado, trocou de área e passou a trabalhar em um dos mais importantes projetos coletivos de pesquisa do Departamento de História, que envolve seis professores e vários alunos de graduação e pós-graduação.

Eber Faioli
Atração por História fez com que SÍLVIA trilhasse novos caminhos

No projeto da Coleção Brasiliana – coleção de livros de assuntos variados sobre o Brasil publicados na década de 1930 –, coordenado pela professora Eliana Dutra, Sílvia participa de pesquisas com os professores, mas também desenvolve seu próprio projeto, analisando a obra do jurista e político Alberto Torres. “Me interesso particularmente pela apropriação dos textos dele feita pela sociedade nos anos 20 e 30”, conta, antecipando que pretende se aprofundar no tema durante o mestrado. Sílvia quer também começar a dar aula. “Na História, me encontrei totalmente e acho que a estrutura do curso ajuda muito, porque o aluno pode ter contato rapidamente com a profissão de pesquisador, uma das coisas que mais me interessam”, elogia.

Em meio à tensão do ambiente de trabalho, o sargento Francis Albert Cotta, de 32 anos, descobriu seu oásis particular. Membro do Grupamento de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar de Minas Gerais, ele percebeu a sua “veia histórica” quando, em 1997, viveu, com os companheiros de farda, a inusitada rebelião dos praças que promoveu uma violenta ruptura nos padrões da Corporação. Pedagogo, Francis decidiu voltar à escola para melhor compreender aquele momento e, num curso de especialização, dedicou-se à pesquisa sobre a própria Polícia. “Foi aí que comecei a me interessar pela História. Notei que não havia quase nada escrito sobre a PM. Fui à raiz da história da Corporação para analisar o que havia acontecido e o que significava aquele movimento”, frisa. Depois de concluir a monografia, Francis procurou um segundo curso de especialização, neste caso, sobre História Brasileira Contemporânea. Ainda não satisfeito, foi ao encontro da Filosofia para “ter mais ferramentas para análise” e, nesse processo, decidiu que o caminho era a realização de um mestrado. “Nessa altura, eu já estava totalmente seduzido pela História”, revela.

O que ele não podia imaginar é que sua proposta de estudo no mestrado, uma continuidade das pesquisas iniciadas em 1997, seduziria, também, a banca de professores responsável pelo Exame de Qualificação – a que os mestrandos submetem os trabalhos antes que estes sejam avaliados na defesa da dissertação. “Fui transferido para o doutorado”, comemora. Desde então, a vida de Francis tem dado piruetas. No ano passado, ele conquistou uma “bolsa sanduíche”, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), e foi a Portugal estudar no Instituto de Ciências Sociais (Lisboa), onde foi orientado por um professor que trabalha especialmente com instituições militares.

A experiência lhe valeu, na volta ao Brasil, a chance de dar aula na graduação em História da UFMG, lecionando a disciplina optativa Organização Militar em Minas no Século XVIII. “Acho que os alunos gostaram muito, porque nós não temos uma bibliografia vasta nessa área”, avalia. As aventuras acadêmicas do sargento, acostumado desde criança com a violência dos grandes centros, estavam só começando. Em maio passado, ele voltou à Europa, desta vez a Paris. Francis foi convidado para um colóquio sobre milícias negras, na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais, para falar do tema, que é, também, parte de sua pesquisa no doutorado. “A História entrou na minha vida para ficar”, resume.

Tempo e espaço

Quem escolher História não terá que enfrentar, formalmente, no Vestibular, um pré-requisito que se faz necessário, no entanto, no decorrer de todo o curso. É simplesmente impossível, avisam alunos e historiadores, vencer o desafio da formação e da profissão se você não estiver consciente da necessidade de se dedicar intensamente à leitura, não apenas de textos históricos. O historiador é um profissional extremamente vinculado aos acontecimentos de sua época, mas com um forte diferencial. Com o conhecimento adquirido e com capacidade crítica e de análise desenvolvida, ele é capaz de fazer elos entre o presente e o passado, contribuindo para a compreensão do mundo.

Foca Lisboa
KÁTIA garante que mercado oferece atividades dinâmicas ao historiador

O historiador não está destinado a atuar apenas na área de ensino, conforme ressalta a professora Kátia Gerab Baggio, coordenadora do Colegiado de Graduação. Esse, segundo ela, ainda é o maior mercado, mas a profissão possibilita a realização de atividades igualmente dinâmicas, como a de consultoria em produções artísticas e culturais, além da pesquisa e da atuação em instituições ligadas à área de patrimônio histórico – arquivos, museus, etc.

O que o aluno encontrará no curso de História?

O aluno ganhará uma capacidade de reflexão bastante grande. Os cursos de Humanidades, de um modo geral, dão ênfase à reflexão, conquistada com a prática da leitura crítica e da escrita. Os alunos de História aprendem a trabalhar com conceitos específicos não só da área mas também de outros campos do conhecimento. Eles saberão lidar com diferentes fontes documentais – escritas, imagéticas, sonoras, expressões artísticas, cartográficas – e isso amplia bastante sua área de atuação. A flexibilização do curso, em 2001, diminuiu o número de disciplinas obrigatórias e aumentou o leque de optativas, permitindo ao estudante buscar formação adicional em outros cursos.

Basta gostar de História para ser um bom aluno?

Não, embora o gosto pela História seja fundamental, claro. É vital que o estudante goste de ler, pois o curso exige muita leitura. Gostar de escrever também é importante, assim como a intenção de aperfeiçoar seu espírito crítico e a capacidade de análise e reflexão.

O ensino é um mercado de trabalho compensador em termos de realização profissional e financeira?

A realização profissional está muito ligada ao perfil da pessoa. Há pessoas que têm afinidade muito grande com o magistério fundamental e médio, porque nele não basta o domínio da disciplina. É preciso que o profissional tenha empatia com crianças e adolescentes e, quando isso acontece, a satisfação profissional é imensa. No Ensino Superior, os profissionais estarão mais próximos da pesquisa e a realização passa, também, por essa atividade. É verdade, entretanto, que os profissionais enfrentam, principalmente na área pública, problemas salariais. A defasagem salarial atinge os professores de uma forma geral e eles têm, cada vez mais, que se preocupar com novas titulações.

Na sua opinião, o que há de melhor na profissão de historiador?

Penso que é a possibilidade de compreender o mundo, porque nosso objetivo fundamental é esse, sabendo situar os fenômenos humanos num tempo e num espaço determinados.