Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

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Primeiro curso completamente flexibilizado da UFMG, Letras deixa ao aluno definições quanto à sua formação

Foca Lisboa

O que levou Camila Tavares Leite, de 22 anos, ao curso de Letras foi o desejo de seu pai de ter uma filha professora. Entretanto, antes de acolher a sugestão paterna, ela se desvencilhou de dúvidas, pois acreditava que, também, poderia seguir carreira na Matemática. Hoje, no sétimo período e bolsista do Laboratório de Fonética, onde participa de pesquisa sobre a estrutura sonora da linguagem, Camila está muito interessada em Ciência da Cognição e, por isso, freqüenta aulas na Filosofia, nas Ciências Biológicas e, também, na Psicologia.

Como entrou na UFMG em 2001, a aluna pegou o “furacão” da flexibilização bem no início. “Quando descobri a formação complementar, mudei totalmente as minhas opções”, afirma, recomendando que os estudantes procurem conhecer logo a estrutura do curso. Segundo ela, isso pode transformar o profissional. Camila, por exemplo, não imaginava que teria aula de Neuroanatomia, essencial para quem quer conhecer de perto, o funcionamento da fala e pesquisar o processo de aprendizado das crianças.

No Laboratório de Fonética, Camila está conhecendo melhor a área. “Ajudo na análise acústica do material das fitas gravadas por pesquisadores. Temos que fazer a representação da onda sonora produzida nas falas, o chamado ocilograma”, explica. Dessa forma, os pesquisadores vão, por exemplo, medir a duração e freqüência das vogais nas falas.

Já formado, Wander Emediato de Souza, de 39 anos, defende que a formação em Letras seja básica para todos os profissionais. Para ele, o curso apresenta cultura humanística bastante completa, conhecimentos muito exigidos pelo mercado de trabalho, independentemente da área. Professor, tradutor e coordenador da área de Comunicação Oral e Escrita de uma faculdade particular, Wander lembra que ele próprio se decidiu pelo curso mais tardiamente, o que não o impediu de uma atuação diversificada e dinâmica. “Brinco sempre que comecei classificando grãos e, depois, fui me dedicar à classificação de palavras”, diz, lembrando de sua função como classificador de produtos agrícolas antes de se envolver totalmente com o mundo das Letras.

Formado em Português, Francês e Espanhol, Wander concluiu, também, pós-graduação, quando se concentrou em Estudos Lingüísticos. A dissertação lhe abriu uma porta inesperada. Ele foi convidado para participar de um projeto de Cooperação Internacional entre pesquisadores da Faculdade de Letras e da Universidade Paris XIII, que tratava dos diferentes gêneros discursivos na imprensa brasileira e francesa.

Foca Lisboa
CAMILA participa de pesquisa sobre estrutura sonora da linguagem

Wander ressalta que o curso de Letras permite ao profissional se inserir em mercados de trabalho variados, exatamente por causa da formação ampliada. Ele próprio, além de atuar como professor e tradutor, já treinou funcionários de empresas de telemarketing. “Trabalhei com comunicação interpessoal, ensinando a eles como falar, como ouvir e entender o outro que está na linha e que não gosta de ser atendido por pessoas que não sabem interpretar o que falam”, conta Wander.

Curiosidade como guia

O tradicional nada mais tem a ver com a Faculdade de Letras e, por conseqüência, com o profissional que nela se forma. Numa reviravolta, formalizada no ano passado, a Letras mudou completamente sua estrutura administrativa. Não mais existem departamentos estanques e, por isso, todos os professores podem circular e contribuir para as diferentes áreas das habilitações oferecidas aos alunos. A grande vantagem dessa nova estrutura, aponta o professor Jacyntho José Lins Brandão, coordenador do Colegiado de Graduação, é o aproveitamento mais racional das especializações dos professores.

A mais instigante característica do curso de Letras é, entretanto, a versatilidade, uma conquista que veio com outra mudança radical. O currículo da Faculdade de Letras está totalmente flexibilizado e o aluno tem condições de consolidar, mediante escolhas próprias, uma formação acadêmica muito particular. Ele só depende da curiosidade e do interesse pessoal, porque dificilmente não encontrará saídas para, na Faculdade de Letras e em outras Unidades da UFMG, se dedicar a uma linha de estudo.

É preciso ter um grande conhecimento prévio de línguas estrangeiras para se fazer Letras?

Não, as pessoas podem começar a estudar línguas aqui. O único curso da Letras que se inicia no nível intermediário é o de Inglês, porque é uma língua normalmente já vista no Ensino Fundamental e no Médio. Supõe-se, então, que o aluno tenha uma base. Entretanto, para quem não estiver nesse nível intermediário, a escola oferece programa especial de adaptação, antes de o curso começar.

As muitas possibilidades de escolha de percurso na Letras não desorientam os alunos?

No semestre passado, uma caloura da Faculdade me disse desejar que toda a sua trajetória de estudo estivesse determinada. Ela achou complicado lidar com tantas opções de disciplinas e de orientação de curso. Neste semestre, ela mudou de idéia, porque se acostumou à liberdade de escolha. Então, o aluno que chega aqui tem que assumir a responsabilidade pelo curso que fará. Terá que descobrir do que mais gosta e as perspectivas de sua opção. Mas nós damos muita orientação, porque um currículo flexibilizado pressupõe isso o tempo todo.

Foca Lisboa
JACYNTHO: as escolhas dependem do perfil do aluno

A flexibilização mudou a lógica do curso?

A flexibilização implica a idéia de que o aluno não receberá aqui todos os conteúdos. Estamos ensinando a ele como estudar. O aluno não sai pronto. Quem se forma em Português, por exemplo, pode sair da Faculdade sem ter estudado profundamente um determinado estilo de época, como o Romantismo. Isso acontece por causa das escolhas feitas pelo próprio aluno. Mas, como este mesmo aluno teve Literatura Brasileira, ele saberá como complementar sua formação. E isso é muito importante, pois é ilusório imaginarmos que vamos dar todos os conteúdos aos alunos.

A Letras inovou recentemente com a extinção de departamentos no curso. Qual foi o reflexo dessas mudanças sobre os alunos?

O curso ficou mais ágil e articulado. Na estrutura departamental, a disciplina pertence ao departamento e é este que resolve a oferta e o programa. Na nova estrutura, a matéria pertence ao Colegiado. Então, é possível fazer a programação das disciplinas olhando o conjunto. Com as mudanças, aproveitamos muito mais a capacidade instalada do curso.

O mercado de trabalho é favorável ao profissional de Letras?

Não existe falta de emprego para professor, mas, dependendo do sistema educacional em que está inserido, o profissional pode ser mais ou menos valorizado, porque lidamos com uma questão social. O profissional de Letras que quer progredir, como professor ou não, deve saber que terá que fazer mestrado e doutorado. Cada vez mais, essas formações estão sendo exigidas. Na verdade, penso que o curso de Letras não é diferente de qualquer outro. Quem tiver tino empresarial, por exemplo, pode abrir um curso de línguas ou um cursinho e obter sucesso financeiro. Acho que as escolhas dependem do perfil do aluno, como em qualquer profissão, e, daí, mais uma vantagem da flexibilização do curso, que permite a formação complementar.