Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

A arte de reinventar

Arquitetura e Urbanismo

Criatividade e técnica apurada: ferramentas fundamentais para quem se dedica a preservar a memória arquitetônica e a ousar nos traços do futuro

O arquiteto Raymundo Rodrigues Filho, 51 anos, dedica-se a uma área que tem, cada vez mais, atraído jovens profissionais. É a do valioso patrimônio histórico brasileiro, tão carente de bons tratos, que tem sido um ímã na atuação desse arquiteto paulista de nascimento, mineiro de coração, fascinado pelas antigas construções e, especialmente, pelos mais antigos processos construtivos.
Eber Faioli

Visão parcial da escada da Faculdade de Direito da UFMG

A Arquitetura não foi o que motivou Raymundo a entrar para Universidade de São Paulo (USP), apesar de ele ter identificado, nessa escolha, a possibilidade de aproveitar a habilidade como desenhista. O que ele mais queria, no início dos anos 70, era participar da movimentação política que instigava as universidades na época. Como Raymundo descobriu depois, ser bom desenhista não é precondição para o exercício da profissão, mas o perfil questionador, carregado de preocupações sociais, é uma marca de arquitetos urbanistas.

Esse profissional está intimamente ligado à busca de melhoria da qualidade de vida do indivíduo nos centros urbanos, transformando o ambiente privado ou das cidades com soluções construtivas, que levam em consideração os aspectos sociais, econômicos, culturais e históricos.

É um profissional de planejamento e de execução, voltado tanto para edificações residenciais e comerciais, quanto para o cotidiano das cidades, planejando espaços públicos. A prática exige uma formação baseada na técnica, ancorada na compreensão das necessidades do ser humano e nos condicionantes políticos, sociais e culturais.

Para isso, o profissional tem que aliar à técnica uma alta dose de criatividade. É por isso que o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG enfatiza as disciplinas específicas da área e das Ciências Exatas, ao mesmo tempo que oferece um conteúdo crítico e de reflexão sustentado por disciplinas das Ciências Humanas e Econômicas. O currículo está em reforma, adianta o coordenador do Colegiado de Curso, professor César Gualtieri. A nova proposta irá aproximar ainda mais a teoria da prática e tratará de temas como responsabilidade social e ambiental, inclusão e sustentabilidade.

Estilo social "Sempre tentei conciliar a prática com preocupações políticas e sociais", atesta Raymundo Rodrigues, que, depois de uma temporada de um exílio no Chile, imposta pela ditadura, seguiu para a França, onde fez Mestrado em Urbanismo, na Escola Politécnica de Paris. Mas foi no início da década de 80, já de volta ao Brasil e ao se instalar na barroca Tiradentes, no interior mineiro, que ele descobriu o que se tornaria, mais tarde, sua marca profissional.
OIKOS EcoArquitetura/Divulgação

Curso de tecnologia em arquitetura de terra e técnica de baixo impacto realizado na UFMG

Com um amigo, dividiu um escritório de projetos e comungava a idéia de que qualquer interferência na paisagem devia respeito à tradição. "Ali, comecei a trabalhar com arquitetura de terra", lembra Raymundo. "Construções de 200, 300 anos mostravam vitalidade técnica, quando se sabe que, hoje, muitos dos novos materiais utilizados nas construções não chegam a durar 50 anos", avalia. A arquitetura de terra, como diz o nome, é aquela que tem a terra como material principal nas edificações — são as técnicas conhecidas como adobe, pau-a-pique e taipa de pilão. "O conforto térmico e ambiental dessas construções é incrível. A temperatura mantém-se, durante todo o ano, entre 20 e 25ºC", ensina Raymundo.

A opção pouco usual, entretanto, evidenciou a resistência do povo de Tiradentes ao que lhes era mais comum. "Esse é um problema que o arquiteto envolvido com patrimônio histórico vive, porque a população nem sempre entende a necessidade da preservação", diz Raymundo, explicando que o respeito às técnicas tradicionais é uma recomendação oficializada em encontros internacionais de Arquitetura. Entretanto, lamenta o arquiteto, mesmo os órgãos de preservação não seguem à risca essa recomendação.

Ele já trabalhou em outras cidades históricas e insiste na arquitetura de terra como projeto profissional. "Em muitos lugares no Brasil, essa é, ainda, a técnica utilizada no dia-a-dia, por causa do custo ou porque a população não tem acesso a outras tecnologias. Isso mostra o espaço que essas técnicas podem ocupar em projetos sociais", ressalta. Ele destaca que na Europa e nos Estados Unidos existe um retorno a esse tipo de construção, um movimento crescente também pela questão ambiental.

A experiência de Raymundo mostrou que o arquiteto não pode se acomodar, já que está numa área onde a tecnologia é parte inseparável do fazer. Depois de buscar especialização num curso sobre arquitetura de terra oferecido pela Unesco no Peru, Raymundo sentiu que era hora de multiplicar o conhecimento. Iniciou o trabalho de consultorias no Brasil e no exterior e atualmente se dedica a ministrar cursos.

No ano passado, Cléo Alves de Oliveira, 26 anos, aluna do 7o período, freqüentou um desses cursos. Ela também se apaixonou pela área de patrimônio, mas lembra que, quando fez vestibular, acreditava que a Arquitetura constituía-se apenas de novos projetos.

Arquitetura e Urbanismo é a segunda graduação de Cléo na UFMG. Apesar de ter cultivado, desde criança, o desejo de seguir a profissão, ela sucumbiu ao medo de não passar no vestibular por causa da Matemática. "Achei que não ia conseguir. Então, arrisquei Pedagogia", lembra. Formada, acabou voltando para fazer o curso que não lhe saía da cabeça.
Eber Faioli

VANESSA TENUTA já prestou assessoria e consultoria a prefeituras interessadas em adotar projetos de conservação e preservação do patrimônio

Atualmente, Cléo é estagiária do escritório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, e aguarda a liberação de uma pesquisa com o professor Leonardo Castriota, diretor da Escola de Arquitetura da UFMG, em que terá que fazer o levantamento do patrimônio imaterial (que leva em consideração a cultura, os costumes e as relações entre moradores, por exemplo) em três bairros de Belo Horizonte.

A colega Vanessa Tenuta, 23 anos, também se interessa por pesquisa e, por isso, chegou a trancar a matrícula durante um semestre para integrar a equipe que fez um diagnóstico do patrimônio edificado das cidades de Ouro Preto e Mariana. "Acho que a pesquisa faz parte de qualquer trabalho de arquitetura e urbanismo. Ela está presente no dia-a-dia de qualquer arquiteto", assinala.

Vanessa considera igualmente importante fazer estágios para sentir mais de perto a futura profissão. Na BHTrans, órgão municipal responsável pelo trânsito na cidade, ela trabalhou na gerência de projetos de trânsito. "Foi muito enriquecedor ver a cidade desse ponto de vista", avalia ela.