Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular
Mistérios da fala
Formada no início da década de 1990, Luciana Mendonça Alves, 30 anos, conta como percebeu que poderia atuar em uma área, até então, pouco reconhecida. "Para pagar as mensalidades da faculdade, eu precisava trabalhar e passei a observar falhas de comunicação na fala, na linguagem e na postura das pessoas ao se comunicarem. Daí vi que a gente não precisava atuar só nos distúrbios, mas investir também na eficácia da comunicação, e que as empresas podiam se valer disso", assinala.
A partir de então, Luciana voltou a atenção para o treinamento de profissionais, como os de telemarketing, que dependem bastante dos cuidados da fala e da voz. Junto com outros três profissionais — outra fonoaudióloga, um administrador e um profissional de marketing, Luciana montou a Vox Consultoria, especializada em Fonoaudiologia Empresarial. "Ainda existe resistência, mas os bons resultados mostram que é um caminho seguro", analisa. Luciana é também professora em faculdade particular e está concluindo o Doutorado em Lingüística, na Faculdade de Letras da UFMG.
Eber Faioli![]() A radialista ROSALY SENRA, da UFMG Educativa - a estação de rádio da Universidade, investe nas sessões de fonoaudiologia para melhorar o seu desempenho no ar |
Versatilidade "O leque de atuação do fonoaudiólogo é muito amplo e não se restringe aos consultórios particulares, clínicas ou hospitais", afirma Luciana. A coordenadora do Colegiado de Curso, professora Ana Cristina Cortes Gama, destaca que esse leque se estende a creches, escolas,
asilos, empresas, órgãos de saúde pública, atendimento domiciliar e outros. Quem escolher a Fonoaudiologia terá aulas específicas na Faculdade de Medicina e em outras onze unidades da UFMG. Os alunos desse curso circulam muito na Universidade e o contato com outras ciências, da Música à Física, segundo a coordenadora, possibilita uma grande versatilidade ao profissional, moldado também por uma prática intensa, que acontece no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da UFMG e em várias outras alas da instituição, bem como mediante convênios.
E a versatilidade é uma característica de Luciana Ulhoa. Aos 26 anos, mestre pela UFMG em Ciências da Reabilitação, ela encontrou a forma de associar duas profissões: Fonoaudiologia e Fisioterapia. Ela trata de pacientes da Neurogeriatria que apresentam problemas motores, de fala e de deglutição. É muito comum ela atender pessoas com doenças degenerativas, como Parkinson e Alzheimer. Por outro lado, Luciana encontrou na vaidade, especialmente a feminina, um novo campo de atuação. No ramo da estética facial, ela recebe no seu consultório, mulheres que querem melhorar a aparência, tratando dos sinais de envelhecimento. "É um mercado extremamente novo, que tem uma bibliografia escassa, mas, como tudo que trata da vaidade, tem um retorno muito bom", admite, destacando que normalmente esse tipo de atendimento fica por conta do esteticista. "Mas, se estamos falando de musculatura facial, o fonoaudiólogo é o profissional mais habilitado", esclarece.
Pioneiras federais
A primeira turma de estudantes de Fonoaudiologia que ingressou na UFMG em 2000 já formou campeãs e, não por coincidência, fez nascer uma grande amizade entre as então alunas Juliana Nunes e Laíze Dias Barcelos. Ambas obtiveram, em anos diferentes, a melhor nota, entre todos os alunos dos cursos de Fonoaudiologia do país, no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o antigo Provão. Muito cedo, elas entenderam a versatilidade do fonoaudiólogo. A busca intensa por atividades extraclasse também ajudou a trilhar o caminho de descobertas.
Eber Faioli![]() Para ANA CRISTINA, a versatilidade é a principal marca do profissional formado na UFMG |
"Posso garantir que este caminho foi um achado", afirma Laíze, para quem o curso de Fonoaudiologia foi uma espécie de internato. "Vivi os últimos anos estudando e aproveitando tudo que era possível na Escola". Formou-se no semestre passado, atrasada em relação à sua turma, mas por um bom motivo. Trancou matrícula, por um ano, para fazer intercâmbio nos Estados Unidos. O objetivo era o domínio do inglês, mas ela foi bem mais longe e freqüentou, na Universidade de Towson, em Baltimore (Maryland), aulas de Fonoaudiologia. Além disso, preparou o caminho para outra experiência. Nas férias passadas, Laíze voltou aos Estados Unidos, com a ajuda de seus "pais" americanos, fez um estágio no Hospital de Baltimore e participou de um Congresso Internacional da área, em Washington. No retorno às aulas na UFMG, conquistou o primeiro lugar do Enade não apenas em relação ao curso, mas na classificação geral da avaliação. Também nesse item, Laíze seguiu os passos da amiga Juliana que, um ano antes, havia conquistado a mesma colocação.
O sucesso das duas tem por trás um trabalho duro. Ainda no início do curso, elas participaram de projetos junto à comunidade — de extensão — e pesquisa. Um deles foi sobre a mortalidade infantil e resultou de um convênio da Escola de Medicina da UFMG com Secretaria de Estado da Saúde. "A vivência no Sistema Público de Saúde me deu uma noção muito importante para entender o papel do fonoaudiólogo como profissional da saúde", conta Juliana. A experiência resultou numa monografia em defesa da presença de um fonoaudiólogo nas equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), trabalho considerado inovador no Simpósio Interdisciplinar de Saúde Pública.
Antes de entrar para UFMG, Juliana cursava Fisioterapia numa faculdade particular e revela que, durante o curso, cultivou dúvidas sobre a escolha. A certeza veio com o envolvimento em pesquisas e na Clínica da Fonoaudiologia, onde são dadas as aulas práticas do curso. Ali, a dedicação a pacientes com lesões provocadas pelo câncer de cabeça e pescoço a estimulou a exercer a clínica, apesar de ter um grande desejo de seguir a carreira acadêmica. Antes de se formar, em 2003, Juliana fez concurso para a prefeitura de Congonhas, a 80 Km de Belo Horizonte, e o resultado é que não chegou a ficar um dia sequer desempregada depois de pegar o canudo. Após a colação de grau, ela passou a atender naquela cidade, cuidando principalmente de crianças com distúrbios de linguagem.
"O aprendizado que obtive, como estudante, na saúde pública me ajudou muito", assinala Juliana, que fez da experiência em Congonhas o objeto de sua monografia num curso de especialização. Atualmente, ela é a responsável pela avaliação auditiva de pacientes recém-nascidos na clínica-escola de uma faculdade particular, onde também leciona. "Nesse trabalho, continuo realizando pesquisas, o que gosto muito", observa. É por isso que ela insiste no concurso para o mestrado na Pediatria, da Faculdade de Medicina da UFMG. "Já fiz as provas duas vezes, e não passei, mas vou continuar tentando", garante.