Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

Fontes de informação
Conhecimento em rede

Ciências Agrárias
Agronomia
Medicina Veterinária
Zootecnia

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

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Artes Visuais (Belas Artes)
Letras
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UFMG Diversa
Expediente

Outras edições

Entrevista

UFMG: uma instituição de ensino com identidade social

Ana Lúcia Almeida Gazzola

Esta é a última edição de Diversa Vestibular no Reitorado da Professora Ana Lúcia Almeida Gazzola. Nessa entrevista, a reitora faz um balanço das ações e projetos desenvolvidos durante a sua gestão — iniciada em março de 2002; fala sobre a flexibilização curricular, processo que deverá mudar o perfil da universidade; discute a relação e aponta caminhos para a relação entre uma instituição pública de ensino superior — como a UFMG — e o setor privado; e analisa o projeto de reforma universitária, que encontra-se em debate. A Professora Ana Lúcia Almeida Gazzola deixa, em sua entrevista, uma certeza: a UFMG é uma entidade social, uma instituição de ensino que não está "fechada" em si mesma e mantém-se de portas abertas para o mundo.

Diversa — Que universidade os novos alunos da UFMG vão encontrar?

Fotos: Eber Faioli

Em vários campos do ensino, da extensão e da pesquisa, e em vários indicadores, a UFMG situa-se como a melhor instituição do país. São 48 cursos de graduação, 58 de mestrado, 48 de doutorado e 57 de especialização. A expressiva maioria desses cursos têm excelente avaliação na Comissão de Aperfeiçoamento Pessoal de Ensino Superior (Capes) e, especificamente na graduação, a nossa avaliação é também excelente. No último Enad — Exame Nacional de Desempenho, a maior nota de todo o programa de avaliação, nos 11 cursos testados, foi de uma aluna da UFMG, do curso de Fonoaudiologia. Em muitos outros cursos, a melhor nota obtida no Enad foi de um aluno da UFMG. A Universidade é um patrimônio público de Minas Gerais e do país; uma instituição com um corpo docente qualificado, mais de 85% de nossos docentes possuem Mestrado e Doutorado. Temos também um corpo de funcionários muito qualificado para as funções de apoio administrativo e técnico.

Diversa — E nas outras áreas?

A UFMG destaca-se na pesquisa, em praticamente todos os campos das ciências, com uma ação importante em relação à inovação tecnológica e à transferência de tecnologia. Temos também um trabalho importantíssimo no campo da extensão. No ano passado, atendemos a mais de 5 milhões 600 mil pessoas em projetos de extensão, o que equivale a duas vezes a população de Belo Horizonte. Temos uma rede de museus e espaços de cultura que tem sido muito importante na promoção de ações culturais.

Diversa — O programa de internacionalização da UFMG avançou?

Nunca tivemos tantos alunos estrangeiros como neste momento. Nunca mandamos tantos alunos de graduação para programas no exterior como neste momento. Temos nos associado a redes e consórcios internacionais que propiciam bolsas e estágios no exterior a alunos de baixa condição socioeconômica. Um exemplo é a nossa participação no Programa Escala do Grupo Montevidéu, que dá bolsas a alunos de vários campos, em especial das Artes e das Humanidades, bem como o recente programa, criado entre a Fundação Mendes Pimentel (FUMP) e a Diretoria de Relações Internacionais (DRI), de bolsas também para alunos carentes, para que eles possam ter as mesmas oportunidades que os alunos mais favorecidos economicamente. Buscamos, na graduação e na pós-graduação, uma internacionalização solidária, baseada nos princípios da reciprocidade, da igualdade de oportunidades e do respeito à diversidade.

Diversa — A aproximação de universidades públicas com o setor privado sempre foi motivo de polêmica. Qual é a posição da UFMG?

É muito anacrônica a posição que vê a universidade completamente afastada da sociedade. A universidade não pode se fechar. Ela é uma entidade social, tem uma função a ela delegada pela sociedade brasileira e é uma instituição que tem de participar de todos os tempos da experiência humana. Ela tem de participar do passado, na medida em que é a depositária do conhecimento já estabelecido, que preserva a memória social, cultural e científica do país. Por outro lado, é uma instituição voltada para o futuro, já que forma os recursos humanos de amanhã e se preocupa com o avanço do conhecimento, com a produção de pesquisas. Mas a universidade precisa ser também uma instituição do presente. Ela deve intervir na sociedade de forma transformadora, tem de ser parceira dos vários setores da sociedade, tem de ser extensionista, na medida em que ela vai fazer intervenções construtivas para resolver problemas da sociedade, estender os conhecimentos nela produzidos para o bem da sociedade, para a melhoria da qualidade de vida da população. E uma das partes da sociedade é a empresa, é a indústria. Por isso, a universidade tem de ser também parceira da empresa. À universidade compete produzir o conhecimento e transferi-lo para a indústria que produzirá o produto e o comercializará. Tudo isso é um ciclo de produção social do qual a universidade participa com os instrumentos e recursos que lhe são próprios, mas deve fazê-lo com cuidado para não perder sua identidade. Que ela trabalhe em parceria com o setor privado não é só legítimo, é uma obrigação também. O que ela não pode é se atrelar ao setor privado, tornar-se instrumentalizada pelo setor privado; é tornar-se mercantilista e apenas buscar resultados e aplicações imediatistas.

Diversa — E o que a UFMG tem feito nesse sentido?

Somos hoje a universidade federal brasileira com o maior número de patentes — já superamos a USP e a UFRJ — e só perdemos, como universidade, para a Unicamp, com que temos também uma disputa permanente em relação à transferência de tecnologia e de patentes. Estamos participando de projetos — como a implantação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, que será feito em terreno da UFMG, próximo ao campus Pampulha. Não é um espaço de produção, mas de pesquisa, numa parceria entre a UFMG, o governo do estado, a prefeitura de Belo Horizonte, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e o Sebrae. Certamente, haverá parceiros privados, empenhados na produção e desenvolvimento de pesquisas para que, depois, estas sejam transferidas à indústria, gerando renda, emprego e qualidade de vida.

Diversa — A UFMG passa pelo processo de flexibilização curricular. Esse processo mudará muito o perfil da universidade e do próprio estudante?

A UFMG é pioneira no Brasil na implantação da flexibilização curricular, na mudança de conceito de um curso de graduação, que deixa de ser um curso para se tornar um percurso. Algo mais personalizado, que permita ao estudante compor um currículo de acordo com suas vocações, desejos e talentos. Hoje, não se pode mais preparar um aluno para uma profissão fixa e estável. O conhecimento tem mudado de forma tão dinâmica que, dizem, a cada cinco anos o modo de proceder de cada profissão muda inteiramente. A universidade que não adotar a flexibilização curricular, que não buscar uma formação inter, multi e transdisciplinar estará formando para o passado. Nós queremos trabalhar com a formação para a empregabilidade. Queremos formar alunos com visão aberta, com a percepção de que é preciso utilizar ferramentas complexas, vários olhares disciplinares, conhecimentos integrados e múltiplos para dar conta de uma realidade cada vez mais complexa.

Diversa - No entanto, existem críticas em relação à flexibilização. Elas apontam para o fato de a universidade não estar pronta para absorver a flexibilização.

A flexibilização não é apenas uma mudança metodológica, é cultural. É preciso que professores e alunos compreendam que uma formação disciplinar "fechada" não dá mais conta dos problemas que a contemporaneidade nos apresenta. É claro que a operacionalização dessa mudança também tem de ser aprimorada gradualmente. Enquanto vamos criando novas concepções, nem sempre estamos preparados. Mas se formos esperar que estejamos totalmente preparados do ponto de vista administrativo e operacional, estaremos burocratizando a transformação. É muito mais importante que a transformação avance e que a parte administrativa, operacional, organizacional corra atrás das inovações e das mudanças. A UFMG tem procurado fazer isso.

Diversa — Nos últimos anos, a UFMG realizou muitas obras, em especial o projeto Campus 2000, que prevê a transferência de unidades para o campus Pampulha. O projeto está no fim?

Inauguramos novos prédios (Faculdades de Farmácia, Educação e anexos do Instituto de Geociências, do departamento de Química e da Escola de Educação Física); fizemos reformas e melhorias em unidades e em outras construímos laboratórios; estamos construindo os prédios para a Faculdade de Ciências Econômicas e para a Escola de Engenharia, o Centro de Musicologia Infantil ao lado da Escola de Música; iniciando as obras para trazer o Teatro Universitário para a Pampulha, para que ele se integre ao curso de Teatro (Artes Cênicas) da UFMG. Um novo complexo de moradia universitária, no bairro Ouro Preto, será construído. Fizemos inúmeras obras no Hospital Veterinário, no Hospital das Clínicas e recuperamos inteiramente o Hospital Borges da Costa. No campus Saúde, na Faculdade de Medicina, recuperamos elevadores e a parte elétrica e fizemos, ainda, reformas na Oftalmologia, na Dermatologia e no departamento de Fonoaudiologia. Na Escola de Enfermagem, estamos construindo a sede do curso de Nutrição. Temos também pequenas obras de pintura e de recuperação em outros prédios — como o da Escola de Arquitetura. Estamos em obra no campus de Montes Claros e construímos lá uma biblioteca comunitária.

Diversa — E, com relação ao processo de acesso às universidades federais, a senhora vê alguma alternativa ao vestibular?

No momento, não. A demanda é muito maior que a capacidade de oferta das universidades federais. Quaisquer outros mecanismos — sorteio, vestibular seriado, o próprio Enem — são mecanismos complicados. O sorteio é aleatório e não usa o critério de mérito. O vestibular seriado passa a ser três vestibulares, não apenas um e também não resolve o problema. O Enem ainda não é feito em condições de controle para evitar fraudes, não tem as condições de controle de segurança nem a qualidade do nosso vestibular, que é muito bem feito.

Diversa — Encontra-se em discussão o projeto de reforma universitária. A senhora acredita que a universidade brasileira terá um novo rosto depois dessa reforma?

Acho que a universidade terá as condições para construir um novo rosto. Reforma universitária não é uma varinha de condão: aprova-se a lei e estamos todos modificados. Não, a autonomia da universidade, a construção de uma universidade para o século XXI, de uma universidade que de fato esteja associada a um projeto de nação é um processo. Esse processo inicia-se com a promulgação de uma lei que implante, de fato, a autonomia e que crie as condições para transformação. Se a lei for promulgada com os requisitos que consideramos essenciais para que a universidade adquira uma função verdadeiramente estratégica para o país e para que seja cada vez mais qualificada, cada vez mais democrática e inclusiva, estaremos iniciando o processo, que não demanda pouco tempo.