Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

Mistura de nutrientes

Nutrição

O bom nutricionista sabe que muitas vitaminas essenciais para a vida profissional estão nas outras ciências

No início do ano, Marília Barbosa Lima, 20 anos, passou as férias em Glória do Goiatá, área rural de Pernambuco. Ela foi conhecer o cotidiano do Serviço de Tecnologia Alternativa, o Projeto Serta, referência na capacitação de jovens que vivemno campo. Então, aluna do 2o período de Nutrição, Marília conta que aprendeu muito, além de trabalhar e ajudar na solução de problemas diretamente ligados a sua futura profissão.

Foca Lisboa

O primeiro curso específico de Nutrição no país foi criado na Universidade de São Paulo (USP), em 1939. No início da década de 90, existiam apenas dois cursos em Minas Gerais.

Durante 21 dias, Marília dividiu com outros estagiários, do país e do exterior, tarefas múltiplas, como a reforma do telhado de uma unidade em Ibimirim, no sertão pernambucano, também pertencente ao Projeto Serta. Mas foi no refeitório, em Glória do Goiatá, que ela mais experimentou seu curso. "O refeitório tinha muitos problemas, que não estavam só no cardápio", conta ela. Carregada de livros, de pesquisas na internet e, especialmente, com a bagagem adquirida em inúmeras visitas que fez, em Belo Horizonte, a restaurantes públicos, privados e de hospitais, Marília propôs uma série de alterações na dinâmica do refeitório.

Cardápio profissional A experiência foi relatada aos colegas de curso durante um seminário e mostrou o preparo da aluna para lidar com questões básicas, como organização e higiene de um restaurante, armazenamento de alimentos e, mesmo, a definição de um cardápio mais equilibrado e saudável. A viagem a Pernambuco foi um prêmio concedido à aluna pelo curso de Nutrição, que adotou essa iniciativa numa forma de incentivar os alunos a se envolveram com a realidade da profissão.

Criado, em 2003, na UFMG, o curso ainda não formou a primeira turma, mas já atraiu, no último vestibular, 30,32 candidatos por vaga. O interesse, avalia a coordenadora do Colegiado de Curso, professora Rita de Cássia Marques, reflete a expansão de um mercado de trabalho e de uma profissão, que, ainda hoje, não são muito bem conhecidos pela população.

Mas quem, nos últimos anos, esteve em um hospital, como paciente ou acompanhante, já pôde perceber a presença desse profissional que prescreve e acompanha de perto a dieta dos internos. Porém, a "nutrição clínica" é apenas uma das áreas de atuação do nutricionista, que trabalha também em consultórios particulares, colégios, restaurantes, creches, asilos, órgãos de saúde pública e mesmo clubes de futebol e de esportes especializados.

Prática companheira O curso na UFMG tem, desde a origem, uma filosofia que valoriza o compartilhamento do conhecimento. Ele surgiu, além de flexibilizado, interdisciplinar. Essa é uma característica tão marcante que os alunos têm aulas não apenas na unidade que abriga o curso, a Escola de Enfermagem, mas em outras seis — Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Instituto de Geociências (IGC) e as Faculdades de Odontologia, Ciências Econômicas, Farmácia e Educação. Até o final de 2005, terá laboratórios específicos à área, no anexo que está em construção na Escola de Enfermagem.
Eber Faioli

Antes de preparar o cardápio, o nutricionista precisa conhecer os alimentos

"O curso tem uma proposta muito firme de integração. São 17 departamentos envolvidos", assinala a coordenadora, admitindo que a experiência inovadora não está livre de problemas. "É uma experiência que tem suas dores. Às vezes, é muito complicado, mesmo porque essa não é uma dinâmica comum. Estamos sempre procurando espaço de integração e, onde ela é possível, aproveitamos", diz. Rita de Cássia ressalta uma outra característica da Nutrição. A prática é companheira do aluno desde o primeiro período. "O curso dá oportunidades de prática desde o início, porque acreditamos que, assim, o aluno compreenderá melhor o conteúdo teórico", justifica.

Foi nesse contexto que Marília passou as férias no Projeto Serta, em Pernambuco. "Ela acompanhou de perto toda a parte que envolvia a alimentação do grupo e pôde fazer sugestões", diz a coordenadora. Marília concorda e garante que a estrutura diversificada do curso é muito bem recebida pelos alunos. "É ótimo, porque sabemos que vamos trabalhar junto desses mesmos profissionais com quem já convivemos", alerta.

O projeto pedagógico do curso de Nutrição exige, por exemplo, um convênio firmado com a Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa). "Pode parecer estranho aos leigos, mas o nutricionista tem que, antes de lidar com a alimentação do homem, conhecer os alimentos", explica Rita de Cássia. Na Ceasa, os alunos aprendem sobre produção, acondicionamento, armazenamento, classificação de produtos e sobre variação de preços e de safras.

A visão global do processo que envolve a nutrição humana, abordando desde o plantar até o comer, diz Vanessa Rodrigues da Silva, 25 anos, é que dá suporte à atuação profissional em áreas tão diferentes. Ela escolheu a Nutrição Clínica. No Hospital das Clínicas da UFMG, são as crianças que recebem os cuidados de Vanessa, que faz o acompanhamento nutricional dos pacientes da Pediatria. "Antes de fixar a dieta, é preciso estabelecer um vínculo com a criança. Temos que conversar muito, conhecer bastante os hábitos e preferências alimentares para adequar a dieta às necessidades", explica, acrescentando que esse trato envolve táticas de aproximação e conhecimento que se utilizam até do entretenimento do paciente.

Desafios constantes No Hospital João XXIII, Vanessa lida com um público muito diferente. São adultos que estão ali, muito comumente, por causa de um trauma grave. As situações distintas entre os pacientes, garantem, segundo Vanessa, que o nutricionista nunca vai se queixar de monotonia. "Estamos sempre lidando com pessoas com necessidades muito diferentes e, por isso, a profissão exige, também, muito estudo e especialização", atesta.

A grande paixão da professora Aline Cristine Souza Lopes, do departamento de Enfermagem Aplicada, nutricionista formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sempre foi a pesquisa. Por isso, dedica-se a projetos de pesquisa, principalmente em Saúde Pública. Durante o Mestrado e o Doutorado, acompanhou idosos em Bambuí, no sul de Minas. Partindo do conhecimento da alimentação do grupo, Aline caracterizou o estado nutricional e o perfil alimentar dos idosos e formulou propostas de intervenção na alimentação deles.